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Ofensa a Paulo Freire é signo da destruição do País

Bolsonaro atenta contra um patrimônio da educação e cultura nacionais

Foto: Google ImagensJair Bolsonaro / Paulo Freire
Jair Bolsonaro / Paulo Freire

“A ignorância é audaciosa.” A frase foi citada muitas vezes pelo então governador Francisco de Assis de Moraes Souza, o Mão Santa, na década de 1990, e não poderia ser mais adequada para qualificar o insulto do presidente Jair Bolsonaro ao educador e filósofo Paulo Freire. Para espanto geral, o presidente chamou Paulo Freire de energúmeno, ou seja, possuído pelo demônio, desequilibrado, ignorante, fanático, etc., durante entrevista concedida no portão de entrada do Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe de estado brasileiro.

Descontextualizada, a ofensa ao grande pensador veio no bojo das explicações estapafúrdias, pronunciadas por Bolsonaro, para justificar a não renovação do contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), encarregada da gestão da TV Escola, que produz conteúdos didáticos. Com isso, o presidente quebra mais uma vez o decoro exigido de quem ocupa o respectivo cargo, no intuito de manter a euforia de sua base eleitoral, em torno de si.

De modo a continuar agradando seus apoiadores, sedentos por deboche e escatologia, Bolsonaro é capaz de coisas inimagináveis, como ofender, de forma gratuita, Paulo Freire, considerado um dos pensadores mais notáveis da história da pedagogia mundial. Para o presidente, o educador é simplesmente um ídolo das esquerdas, o que seria suficiente para ser desqualificado como um “energúmeno”. Para a humanidade, Paulo Freire, o Patrono da Educação Brasileira, é o brasileiro mais homenageado da história.

Pedagogia do Oprimido

A importância de Paulo Freire só têm parâmetro de comparação com a de personalidades como Santos Dumont, Machado de Assis ou Ruy Barbosa. Uma das obras de Freire, "Pedagogia do Oprimido", é o único livro brasileiro a aparecer na lista dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa consideradas pelo projeto Open Syllabus. Com pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades da Europa e América, Freire recebeu homenagens como o prêmio da UNESCO de Educação para a Paz em 1986.

As ofensas de Bolsonaro, que não tem a menor ideia do real significado de Paulo Freire, no entanto, seguem a orientação do astrólogo Olavo de Carvalho, considerado o guru do presidente e de todo o bolsonarismo. A difamação, neste caso, é usada para desconstruir não apenas os inimigos, reais ou imaginados, mas profanar as bases da educação brasileira, solapando-as com ideologia fundamentalista de extrema direita, destinada a imputar um tipo de pensamento único contrário à liberdade, diversidade, pluralidade.

Por ter tido a audácia de agredir a honra de Paulo Freire, o presidente poderia responder por seus atos, pelas sucessivas quebras de decoro e por atentar contra um patrimônio da educação e cultura nacionais. Talvez nem mesmo os presidentes da ditadura militar tenham sido capazes de ir tão longe em termos de verborragia e desrespeito a intelectuais da estatura de Freire, que formulou os fundamentos de uma educação revolucionária, dialética, libertadora, em contraposição à alienação. Afinal, quem e quando irá conter Bolsonaro?

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