Eleições 2022

O Nordeste não é vermelho, é pragmático

A escrita deve repetir-se este ano


Foto: DivulgaçãoNordeste brasileiro
Nordeste brasileiro

 

Por Ricardo Noblat, jornalista, no Metrópoles

Nos tristes tempos da ditadura militar de 64, o Nordeste era considerado, e com razão, reduto eleitoral do governo. Sim, é uma contradição em termos eleição e ditadura. Mas, as ditaduras com vergonha de se assumirem como tal, promovem eleições sob rigoroso controle, e assim pensam que se legitimam.

A nossa cancelou a democracia por 21 anos. Com o seu fim em janeiro de 1985, o Nordeste continuou como reduto do governo, do que estivesse no poder, ou do que viria. Tem sido assim até hoje. Não é servilismo dos nordestinos, é pragmatismo; crença na ajuda dos governos para superar o atraso da região.

Em 1989, na primeira eleição pelo voto popular, o Nordeste em peso votou no falso caçador de marajás Fernando Collor, ex-governador de Alagoas. Foi uma eleição solteira. Dois nordestinos se enfrentaram no segundo turno: Collor e Lula. Acusado de roubo, Collor caiu antes de completar dois anos de mandato.

Quatro anos depois, cavalgando o Plano Real, o Nordeste votou em Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e em todos os candidatos ao governo que o apoiaram. Pernambuco foi a única exceção: elegeu Miguel Arraes (PSB), que apoiava Lula. Nesta sexta-feira, Lula irá ao Recife apoiar a neta de Arraes, Marília.

Fernando Henrique se reelegeu presidente em 1998, e desta vez o Nordeste votou fechado em todos os candidatos ao governo que tinham seu apoio. Arraes tentou se reeleger governador de Pernambuco. Perdeu para Jarbas Vasconcelos (MDB) por uma diferença superior a um milhão de votos.

A eleição de 2002 não foi de continuidade, mas de mudança, como parece ser a deste ano, prestes a terminar. Fernando Henrique, que prometera não desvalorizar o real, desvalorizou-o. A inflação e o desemprego voltaram a crescer. Só um milagre elegeria José Serra (PSDB), candidato da situação. Deus se omitiu, e deu Lula.

Outra vez cumpriu-se a escrita: o Nordeste elegeu todos os governadores que apoiaram Lula. E fez isso novamente quando Lula se reelegeu em 2006. E novamente quando Dilma Rousseff se elegeu em 2010. Ao pôr os pobres na agenda nacional, os governos do PT foram particularmente generosos com o Nordeste.

Dilma se reelegeu em 2014. Só um Estado não votou no candidato ao governo que a apoiava: Pernambuco. Eduardo Campos largou o governo de Pernambuco para se eleger presidente. Morreu em um acidente aéreo. Marina Silva (PSB), sua vice, venceu no primeiro turno em Pernambuco, e Aécio Neves (PSDB) no segundo.

Bolsonaro derrotou Fernando Haddad (PT) com folga em 2018. Mesmo assim, todos os candidatos a governador que apoiaram Haddad se elegeram no Nordeste. Lula estava preso, e preso ficaria por 580 dias. Liderou as pesquisas de intenção de voto até às vésperas das eleições. Quem sabe Haddad não venceria?

Todos os governadores nordestinos eleitos no primeiro turno este ano apoiaram Lula, e Lula a eles. Falta decidir a parada em cinco estados: Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe. É grande a chance de os candidatos apoiados por Lula se eleger. Isso é um mal sinal para Bolsonaro, atrás nas pesquisas.

Siga nas redes sociais

Deixe sua opinião: