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O circo de horrores se instala em Parnaíba

O circo de horrores se instala em Parnaíba

Foto: GoogleBolsonaro em Parnaiba
Bolsonaro em Parnaiba

Sérgio Fontenele, jornalista As ruas ensolaradas de Parnaíba estamparam hoje, em centenas de camisetas, à venda, penduradas em varais, nas praças e outros espaços públicos, custando R$ 20,00, imagens de personagens, digamos, no mínimo improváveis, como o coronel do Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra, o maior torturador da ditadura. Alçado à condição de herói nacional, pelo presidente Jair Bolsonaro, Ustra foi cultuado, em áreas urbanas de Parnaíba, ao lado de ditadores do quilate de Adolf Hitler, o Führer da Alemanha Nazista. Houve até uma passeata, na terça-feira (13-8), realizada predominantemente por jovens parnaibanos, com o suposto caráter de antecipar a passagem do presidente pela cidade, na qual apareciam cartazes com fotos de Ustra, Hitler, Moro, etc. Tudo isso em clima de exaltação, misto de raiva, euforia e acirramento político, um perfeito circo de horrores, emblemático dos tempos atuais deste País, e montado para compor o compatível e conflagrado ambiente em torno da presença do presidente da República. Ele foi homenageado várias vezes na cidade litorânea, recebendo o título de Cidadão Parnaibano e tendo seu nome concedido a uma escola militar patrocinada pelo Serviço Social do Comércio/Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo do Piauí (Sesc/Fecomércio). Após a saída do governador Wellington Dias, que, protocolarmente, o recebeu no aeroporto e acompanhou num sobrevoo de helicóptero, sobre o perímetro irrigado Tabuleiros Litorâneos, Bolsonaro atacou os “comunistas”, “corruptos” e até candidatos presidenciais argentinos. Metralhadora giratória presidencial Sua metralhadora giratória entrou em ação, mais uma vez, diante da multidão extasiada, e alvejou de novo os governadores do Nordeste, a quem se referiu com a expressão “cocô”, repetida por ele. “O cocô é essa raça de corrupto e comunista”, completou, para delírio de seus seguidores. É evidente, sua aparição relâmpago em solo piauiense repercutiu em todo o Brasil e internacionalmente, pois ele pode ter cometido mais um crime de responsabilidade ao dizer que “bandidos de esquerda” começam a voltar ao poder na Argentina. O presidente se referia, é claro, a Alberto Fernández, o candidato da oposição à Presidência da Argentina, companheiro de chapa da ex-presidente e senadora Cristina Kirchner, candidata a vice-presidente do país vizinho, principal mercado de produtos manufaturados brasileiros. Fernández e Kirchner venceram as primárias e se colocam como favoritos à vitória nas próximas eleições presidenciais de outubro. Diante de tudo isso, Bolsonaro pode ser considerado um incendiário. O comportamento do atual inquilino do Palácio do Planalto, portanto, por sua falta de decoro, só faz elevar a gigantesca tensão política no Brasil, que precisa urgentemente de um fator de pacificação, mas, ao contrário, segue arremessado, em vertiginosa velocidade, para um abismo de incertezas, preocupações e medos. A escalada autoritária em curso, com ameaças cada vez mais concretas à liberdade de expressão, à imprensa e aos opositores do governo, é imprevisível e não ocorre apenas para desviar o foco da recessão econômica.

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