Política

O Brasil pode estar próximo de ter que engolir de novo o sapo barbudo

Desgostoso com isso? Culpe Bolsonaro

  • sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Foto: DivulgaçãoLula e Bolsonaro
Lula e Bolsonaro


Por Ricardo Noblat, jornalista, no Metrópoles 

Em novembro de 1989, uma semana depois do primeiro turno da eleição em que os brasileiros voltaram a escolher seu presidente com o fim da ditadura militar, Leonel Brizola (PDT) convocou a militância do seu partido para reunião no Riocentro, em Jacarepaguá, à época, o maior centro de convenções do país.

Brizola ficou fora do segundo turno por diferença ínfima de votos válidos: teve 16,04%, e Lula, 16,69%. Fernando Collor (PRN) teve quase o dobro – 32,47%. A poucas horas da reunião, Brizola hesitava sobre o que fazer: apoiar Lula ou não apoiar ninguém, liberando os militantes para votar como quisessem?

À saída do prédio onde morava na Avenida Atlântica, acompanhado por um grupo de dirigentes do PDT, Brizola foi abordado por uma vizinha, sua eleitora, que lhe disse de bate-pronto: “É, governador, vamos ter que engolir o sapo barbudo”. No Riocentro, o clima era escancaradamente a favor do voto em Lula.

Depois de ouvir mais de uma dezena de discursos, sem que dissesse uma única palavra capaz de antecipar sua decisão, Brizola finalmente falou. E começou assim:

“É, meus companheiros, vamos ter mesmo que engolir o sapo barbudo”.

Brizola tentou uma última jogada para não ter que engolir Lula. Mário Covas (PSDB) ficara em quarto lugar no primeiro turno. Brizola estava convencido de que Covas teria melhores condições de derrotar Collor. Mandou um emissário sondá-lo. Se Covas topasse, ele se dispunha a fazer Lula renunciar. Covas não topou.

Ciro Gomes não é Brizola, que desde a volta do exílio só teve um partido, o PDT. Ciro nasceu para a política no PDS, que sucedeu a Arena, o partido da ditadura. Filiou-se depois ao PMDB, PSDB, PPS (antigo Partido Comunista), PSB, Pros e finalmente ao PDT. Disputa pela quarta vez a Presidência da República.

Sem alcançar os dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto, jura que se perder nunca mais será candidato. Foi o que disse há quatro anos quando perdeu pela terceira vez. Ciro é contra Lula e Bolsonaro, bate nos dois, mas sabe que se Bolsonaro se eleger, ele, Ciro, ainda terá futuro. Estará apenas com 68 anos em 2026.

Lula não terá futuro político caso perca em outubro, nem o PT um candidato forte para a eleição de 2026. Mas a levar-se em conta o que apontam as pesquisas, pelo menos as mais respeitadas entre elas, não as compradas com dinheiro vivo, o Brasil prepara-se para engolir outra vez o sapo barbudo.

Você está insatisfeito com isso? Agradeça a Bolsonaro. O antipetismo elegeu-o. O antibolsonarismo deverá derrotá-lo. Culpa de quem? Para evitar que Lula fosse eleito em 2018, prenderam-no. Bolsonaro poderá ser preso depois que perder. Será o primeiro caso de presidente candidato à reeleição que perdeu.

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