Pensar Piauí

Mulheres e a guerra: A violência de corpos e almas

Uma guerra afeta diretamente as mulheres

Foto: Montagem pensarpiauíBell e mulheres da guerra
Bell e mulheres da guerra

 Por Beel da Silva, ativista, no facebook 

Na História do mundo, as guerras são figurinhas carimbadas, sejam guerras por interesses religiosos, territoriais, políticos ou outros tantos. Um país com mais poder busca uma “justificativa” para ultrapassar as fronteiras de um outro país mais vulnerável para impor as suas regras, as suas leis, os seus interesses. Uma guerra pode durar dias, meses, décadas e seu fim é sempre o mesmo: destruição, violência, morte, pobreza. 

Em muitos conflitos, principalmente a partir da II Guerra Mundial devido ao morticínio de homens, as mulheres são partícipes ativas: seja pegando em armas, seja no cuidado de feridos, seja na articulação, seja na proteção das vítimas. Uma guerra, assim como todas as mazelas do mundo, afeta diretamente as mulheres, pois recai sobre elas as responsabilidades de cuidar daqueles que não estão na linha de frente, cuidar para que exista um “para quem voltar”. 

Essa é a parte romantizada da guerra, a parte que os filmes e livros mostram com toda delicadeza que a arte pode ter. Mas na realidade as mulheres não são apenas as cuidadoras e por vezes combatentes, as mulheres são as maiores vítimas da crueldade humana. Nos países em guerra, as mulheres são as primeiras a serem violentadas, são as primeiras a serem escravizadas, são as primeiras a serem objeto de troca e de chantagem. 

Recentemente, tivemos o imenso desprazer em ouvir áudios atribuídos ao deputado estadual Arthur do Val, conhecido como “Mamãe falei”, onde ele fala das mulheres refugiadas em meio a Guerra entre Rússia e Ucrânia (feat. EUA e UE).

Nos áudios ele fala da “facilidade de pegar as loiras pobres refugiadas”. Ele diz, que por estarem em situação de empobrecimento devido ao conflito, as mulheres ucranianas ou de outras nacionalidades que estejam nos campos de refugiados, são fáceis de “pegar”. Isso é uma violência sem tamanho. Uma violência aos corpos dessas mulheres, uma violência a história delas, uma violência que dói na alma delas e nas nossas, pois quando uma mulher é violentada, todas nós sofremos. 

Em países empobrecidos, principalmente países africanos que são frequentemente invadidos por potências capitalistas em busca de suas riquezas, meninas ainda crianças são tiradas de suas famílias, ou vendidas pelos pais, para serem escravas sexuais. Mulheres tem suas casas invadidas, são violentamente estupradas e deixadas à própria sorte. Não é incomum relatos de mulheres que sobrevivem à estupros coletivos em tempos de guerra. Não é incomum relatos de mulheres que prefeririam morrer ao serem feitas de escravas sexuais. E muitas morrem, seja dos ferimentos causados pela violência dos abusos, seja pelas más condições em que são deixadas, seja quando elas conseguem um alívio para a alma ao tirar suas próprias vidas, seja quando as descartam quando não as querem mais como se fossem um vaso quebrado. 

É surreal, é deplorável, é inaceitável que um homem, seja ele qual for, mas principalmente um que ocupe um cargo institucional para o qual foi eleito, proferir tamanhas barbaridades sobre mulheres, ainda mais mulheres que já estão em seu nível máximo de vulnerabilidade. Essa discussão não é só sobre o respeito às mulheres, mas também sobre a condição das mulheres refugiadas. Os países mais ricos nos fazem acreditar que pessoas refugiadas são usurpadoras, são simples mão de obra barata, são descartáveis. Você acha mesmo que as pessoas deixam seus países porque querem? Ou essas pessoas estão deixando suas casas, sendo separadas de suas famílias, deixando sua cultura por uma necessidade de sobrevivência ? 

Seja em guerra, seja na paz, mulheres são diariamente violentadas e assassinadas no mundo por serem consideradas inferiores, por serem consideradas objetos, por serem feitas de objeto. Na Ucrânia, no Congo, no Haiti e em tantos outros países, as mulheres enfrentam duas guerras: a guerra contra suas nações e a guerra contra seus corpos. 

Por isso, senhor deputado e quem mais lhe apoiar, seus áudios, sua conduta, seu pensamento são aquilo pelo qual lutamos contra, são aquilo que repudiamos, são aquilo pelo qual nos unimos para combater. 

Que a Assembleia Legislativa de São Paulo, o Ministério Público e todas as instâncias capazes, tomem medidas cabíveis contra o senhor e aqueles que compartilham desses absurdos execráveis. É o mínimo que podemos exigir, pois assim estamos exigindo a paz para as mulheres, e exigir a paz para as mulheres também significa uma paz para os povos do mundo, pois cabe a nós gerar as sementes de uma nova sociedade e essa nova sociedade deve ser livre de guerras, de violências e de dor.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS