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MST completa 37 anos e mostra a força da agricultura familiar durante a pandemia

Apesar dos ataques do governo Bolsonaro, movimento doou mais de 3 mil toneladas de alimentos em 2020

  • sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Foto: MSTDistribuição de alimentos saudáveis em todo país é uma das ações do MST durante pandemia da Covid-19
Distribuição de alimentos saudáveis em todo país é uma das ações do MST durante pandemia da Covid-19

Por Mariana Castro, no Brasil de Fato 

Entre os dias 20 e 25 de janeiro de 1984, acontecia em Cascavel (PR), um encontro entre posseiros, atingidos por barragens, migrantes, meeiros e pequenos agricultores que perderam o direito de produzir alimentos no Brasil.

Em meio à efervescência de levantes sindicais, o declínio do regime militar e a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), esse encontro deu origem ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra, o MST.

Ali, homens e mulheres fundaram o movimento camponês nacional com três objetivos principais: lutar pela terra, pela reforma agrária e por mudanças sociais no país. No ano seguinte, em 1985, o primeiro Congresso do MST afirmava: “Sem a terra não há democracia."

Foto: MSTI Congresso do MST em 1985
I Congresso do MST em 1985

Ao longo dos anos, os objetivos foram se expandindo conforme as necessidades de cada época e das condições de dignidade aos trabalhadores do campo e também da cidade, para onde migram aqueles expulsos de seus territórios.

Em 2020, se de um lado o movimento sofria com os ataques do governo Bolsonaro, de outro lado mostrou a todo o mundo a potência da agricultura familiar e da sua organização de base, que possibilitou a doação de mais de 3 mil toneladas de alimentos durante os primeiros meses de pandemia do novo coronavírus.

Sobre isso e as expectativas para 2021, o Brasil de Fato conversou com a cearense Maria de Jesus Santos Gomes, figura histórica do movimento que participou da primeira ocupação de terra no seu estado, em 1990.

Foto: MSTNa primeira ocupação de terra do Ceará, Maria foi responsável pela mobilização e alimentação das famílias
Na primeira ocupação de terra do Ceará, Maria foi responsável pela mobilização e alimentação das famílias

Natural de Catolé do Rocha, Maria vive no Assentamento Bernardo Marin II, no município de Russas (CE). Com 30 anos de caminhada e resistência junto ao MST, ela compõe hoje a direção nacional e o setor de educação do movimento.

Em nome de tantas Marias, ela fala sobre o desafio do protagonismo feminino no movimento e aponta a agroecologia como saída para a crise alimentar no país.

“A opção pela produção saudável tende a crescer no Brasil e a única classe que pode ofertar alimentos saudáveis é a classe camponesa. Somos nós, os agricultores e agricultoras desse país”, ressalta.

Sobre o desmonte de políticas públicas aprofundado pelo governo Bolsonaro, além do apoio irrestrito a ruralistas e até o incentivo à violência no campo, Maria de Jesus explica as contradições pregadas pelo agronegócio e reforça que o movimento seguirá firme em defesa das bandeiras populares.

“Nós sabemos o que queremos com o campo brasileiro: nós queremos a reforma agrária popular. E como esse programa não se realizou, nós estamos muito firmes na defesa desse projeto. O agronegócio não tem capacidade de fornecer alimentos para a população brasileira, porque o propósito dele não é esse”, aponta.

"O nosso movimento é formado por famílias. Ele não é formado só por homens, só por mulheres ou crianças. Ele envolve toda a família, então por isso a gente não luta só pelo acesso à terra. Não temos só reivindicações econômicas, nós temos reivindicações sociais, econômicas, culturais e políticas", frisou.

"Nosso movimento tem essa característica, é um movimento que tem uma natureza popular, uma natureza sindical, de massa e político. Defende um projeto político para o campo e para a sociedade brasileira. Então a construção dessa organização tão importante para os trabalhadores é uma grande esperança para o povo, para os trabalhadores, para os pobres", destacou. 

"A maior política de combate à fome no Brasil é a reforma agrária e nós precisamos fortalecer esta luta", finalizou Maria de Jesus.

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