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Lavagem cerebral: professor tenta entender o que faz pessoas apoiarem Bolsonaro

Discurso personalizado, abuso de mentiras e estratégias fascistas. É preciso entender qual Bolsonaro cada indivíduo está recebendo em suas redes

Foto: ReproduçãoLavagem cerebral
Lavagem cerebral

 

Rede Brasil Atual - “Como é possível alguém ainda apoiar o Bolsonaro? Como é possível tanta gente apoiar Bolsonaro? Como ainda acreditam nisso?” Essas questões são o alvo de uma análise do canal Normose, do YouTube, criado pelo roteirista, professor e produtor cultural Rodrigo Kenji. O vídeo que viralizou nesta quinta-feira (20) nas redes sociais se debruça sobre o fenômeno do bolsonarismo; em especial, como ele se sustenta mesmo com escândalos de corrupção no governo, descontrole orçamentário, crise econômica, corte de verbas em saúde, educação e ciência, descaso com a covid-19 e seus 700 mil mortos, devastação histórica na Amazônia, abuso inétido da máquina pública para tentar a reeleição, o uso sistemático de mentiras das mais absurdas em sua campanha, entre outras.

“Você deve ter encontrado gente que não sabia de coisas óbvias desse governo. Tipo que ele confessou corrupção, já teve membro do governo preso, o escândalo do ‘bolsolão’ tem potencial para ser o maior caso de corrupção da história do planeta. E tem gente que não sabe das piores falas dele durante a pandemia”, continua o Normose. A questão central da análise é compreender que sim, “existem pessoas perversas” que sabem destes fatos e continuam o apoiando. Contudo, muitas “recebem um outro Bolsonaro”.

A ideia é entender essas pessoas para tentar minimizar o radicalismo entranhado pela máquina de desinformação e ódio bolsonarista. A chave, de acordo com Kenji, é entender que “existem muitos Bolsonaros”. “Existe Bolsonaro feito especificamente para cristãos; outro para gamers, outro para pais e mães de família e outro feito só para você. É assim que a extrema direita funciona: por capilaridade e multi discursos”, explica.

Espelho fascista

Para entender o fenômeno do bolsonarismo, o canal desta fatos ligados à Segunda Guerra Mundial. “Muitos teóricos gastaram anos para entender como (…) um autoritário move uma nação inteira prometendo esperança, mesmo promovendo o caos. Mesmo assim, conseguindo apoio de diferentes setores”. Entre estes teóricos, um expoente da chamada Escola de Frankfurt, Theodor Adorno, encontrou duas características centrais.

A primeira é que o discurso do líder autoritário é personalizado. Ele não fala ao povo. Ele fala com o indivíduo. “O líder fala apenas a seu povo. Grande parte do tempo, isso serve apenas para continuar fanatizando sua base. Para isso é comum se colocar como um homem comum e simples e, ao mesmo tempo, um gigante contra o sistema; um lobo solitário. Tem superioridade e é ‘o escolhido’, ao mesmo tempo que transparece não saber sobre nada”, explica Kenji. Trata-se de uma estratégia de coesão para seu público radical.

A segunda é de que este líder prega que “está continuamente em uma batalha contra uma força imaginária. Por isso ele é perseguido por todos, o que exige sacrifício de seu povo. É uma revolução às avessas. Os guiados acreditam que estão lutando contra uma ameaça imaginária, porque são abastecidos disso a todo momento. Discursos contra o sistema foram importantes em 2018 para distanciá-lo da política e criar uma imagem de líder que ‘quase morreu pelo povo'”.

Soma-se a isso uma estratégia nova, a de lidar com as redes sociais. É o que teóricos chamam de “partido do algoritmo”. A partir da coleta de dados do eleitorado, a extrema direita pauta seu discurso. Não importa a ideologia e os métodos originários. Para onde a opinião pública vai, um discurso novo é criado para atender. Bolsonaro, por exemplo, chamava programas assistenciais como o Bolsa Família de “esmola”, “compra de votos”, entre outros. Agora, ele dilapida os cofres públicos e defende a distribuição irresponsável de recursos.

Hora do ataque

Bolsonaro, ainda que como força consolidada no país, está em posição de alguma fragilidade após sucessivos escândalos. “Eles estão em paranoia, isolados. Ele não funciona sob pressão. Só sabe atacar. Pressionado, não sabe lidar. Ele está nervoso. É preciso mostrar a máscara caindo, o desespero chegando”, destaca Kenji.

O vídeo lembra que o bolsonarismo não vai acabar nessas eleições. Contudo “sem afastar essa marca de desinformação do poder do Estado, vai ficar impossível. Então, no curtíssimo prazo, é preciso se dividir em muitos. Não basta só criar memes, ir para as ruas. Não basta dialogar. É preciso fazer tudo, se dividindo por grupos. É preciso (atuar em) muitas frentes e diferentes narrativas. Entender qual Bolsonaro a pessoa recebeu. Porque o verdadeiro continua desviando verba da Saúde, da Educação, comprando o centrão. Esquece os fanáticos. Foque nos indecisos”.

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