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Incra reconhece território quilombola no Piauí

Ocupação da área com os primeiros moradores data de 1861. Atualmente, a comunidade é formada por 23 famílias, aproximadamente 115 pessoas

Foto: Divulgação e meionorteQuilombo Sumidouro
Quilombo Sumidouro

Portaria do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), publicada nesta sexta-feira (26/5) no Diário Oficial da União (DOU) reconhece e declara como terra da Comunidade Remanescente de Quilombo Sumidouro uma área de 932 mil hectares localizada no município de Queimada Nova (PI).

De acordo com o Incra, a ocupação da área com os primeiros moradores data de 1861. Atualmente, a comunidade é formada por 23 famílias, aproximadamente 115 pessoas – a maioria pequenos agricultores que não têm a propriedade efetiva da terra, mas a posse por herança.

“As casas dos quilombolas são construídas de adobe, cobertas de telhas, sem reboco e com piso de pedras. A Sumidouro está situada em área pedregosa, rodeada de morros e serras, tendo como vegetação predominante a caatinga, com a presença de aroeiras, juazeiros, umbuzeiros, mandacarus, pereiros, paus d’arco, umburanas e marmeleiros.”

Os pequenos agricultores, segundo o instituto, trabalham no cultivo de milho, feijão, algodão, da mandioca, melancia, mamona, abóbora e do capim, além da criação de aves, suínos, ovinos e caprinos. No Sumidouro, há ainda três olhos d’água e poços naturais, com água de boa qualidade.

Cânion

Um cânion pouco conhecido pelos piauienses fica no Sumidouro. A atração atiça a curiosidade por causa da beleza cênica e de uma lenda que ajuda a potencializar o interesse turístico pelo local. Quem transita no imenso corredor entre paredões numa extensão de três quilômetros não tem como não se encantar com uma igreja formada por pedras esculpidas pela própria natureza.

O cânion foi criado pela passagem da água por uma fenda geológica de cinco metros de largura e 30 de profundidade que marca a montanha em toda sua extensão. As atuais gerações da comunidade contam, com base em relatos de antigos moradores, que no local, há muitos anos, caiu um vaqueiro que ia montado num cavalo preto tocando uma vaca preta com a ajuda de um cachorro preto. Desde o dia da ocorrência nunca mais foram vistos. Foi por causa deste acontecimento que a localidade passou a se chamar Sumidouro.

A história é repassada de geração para geração. A jovem Lucicléia Domiciana dos Santos, que mora a menos de um quilômetro do acesso ao cânion, falou sobre a lenda do vaqueiro negro que desperta muito interesse e dá mais asas à imaginação. “A história que os mais velhos contam é que aqui teve um rapaz que vinha montado num cavalo preto com uma reis preta e um cachorro preto e que sumiu nesta gruta e nunca mais foram vistos”, explicou.

Embora seja um local de indescritível beleza, inclusive com o registro de pinturas rupestres, os visitantes se restringem a alunos de escolas públicas e alguns moradores em feriados e fins de semana. Quem passa pelo local pode observar, de baixo para cima, a beleza e suntuosidade dos paredões que parecem ideais para a prática de rapel e outros esportes radicais.

No percurso existem pequenos lagos que foram formados com a água das últimas chuvas que servem para matar a sede de abelhas e de caprinos.
O cânion do Sumidouro tem trechos de difícil acesso que ainda não foram explorados por moradores da região, o que reforça o pensamento de que o local pode ter servido de esconderijo para escravos em fuga de senzalas de Pernambuco e da região na época da escravidão.

“O local pode ter sido usado por escravos em fuga pelo fato de existir áreas de difícil acesso, onde os moradores ainda não conseguiram chegar a eles”, falou Lucicléia. Quanto às pinturas rupestres, ela disse que há um ponto de interrogação porque os mais velhos já conheceram o local da forma que é hoje e ninguém sabe como elas foram localizadas ali. No período das chuvas, as visitações ao cânion ficam complicadas por causa da interrupção dos acessos.

Empresa de fora pesquisou minérios na área

As montanhas do local já chamaram à atenção de grandes empresas de fora que estavam interessadas em explorar uma pedra brilhante que, segundo moradores, tem uma qualidade superior à pedra de Castelo do Piauí. Mas, por ser território quilombola registrado, elas não puderam obter a licença de exploração.
Segundo Sebastião Domiciano, O Sessé, que mora a menos de um quilômetro do acesso ao cânion, as famílias que vivem na comunidade têm um plano que visa o estímulo ao turismo ecológico no local.

Ele explicou que o projeto visa garantir a sustentabilidade ambiental do cânion a partir da visitação de turistas. “A comunidade já tinha um projeto social e quando pensou em fazer o projeto em relação ao turismo não foi possível porque um ministério em Brasília informou que não seria possível ter os dois projetos”, falou Sebastião.

O radialista Nilson José dos Santos, que nasceu na comunidade Sumidouro, ex-plicou que uma empresa de fora fez pesquisa sobre o potencial mineral da região, mas não pode explorar a extração de pedras porque a área é de preservação permanente. Hoje, apenas 12 famílias têm autorização para explorar de forma artesanal a áreas das pedras decorativas para construções.

“O local só ainda continua preservado, e não foi explorado por grandes empresas, porque é especificada como quilombola. As famílias que exploram pequenas quantidades para o sustento familiar têm autorização dos órgãos ambientais”, falou. Nilson disse que o melhor mesmo para a comunidade e a região do cânion é um projeto na área do turismo ecológio que venha a garantir a sustentabilidade local, para que se mantenha como patrimônio para as atuais e futuras gerações.

Com informações do Metrópoles e do meionorte.com

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