Dois fóruns estão acontecendo no Brasil desde o dia 27 de março para debater o tema da água: o Fórum Mundial das Águas e o Fórum Alternativo Mundial da Água, ambos em Brasília.
O primeiro é realizado desde 1997, organizado pelo Conselho Mundial da Água (WWC). As sete edições anteriores foram realizadas em Marrakesh (Marrocos, 1997), Haia (Holanda, 2000), Kyoto (Japão, 2003), Cidade do México (México, 2006), Istambul (Turquia, 2009), Marselha (França, 2012) e Gyeongju e Daegu (Coreia do Sul, 2015). O segundo é um contraponto ao primeiro.
Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), explica que a necessidade de criar um evento alternativo se dá pelo fato do fórum tradicional ser apoiado por governos e empresas que defendem a privatização. "Eles vão reunir empresas, bancos e o conjunto de especuladores que querem privatizar, além do serviço de saneamento, também os rios e aquíferos. Esse fórum acontece no Brasil porque é o maior território com água doce do mundo",declara.
Uma matéria publicada no portal Brasil de Fato mostra bem como isso funciona. Segundo dados da Unesco, por ano, o Brasil envia para o exterior aproximadamente 112 trilhões de litros de água doce, o que equivale a cerca de 45 milhões de piscinas olímpicas. Esse número nos coloca entre os maiores exportadores da chamada "água virtual", um conceito que mede a quantidade de água utilizada e absorvida na produção de commodities agrícolas voltadas para a exportação. "No Brasil, a quantidade de água voltada somente para a agricultura beira os 70% do consumo total, valor bem mais alto que os 20% correspondentes à indústria e os 10% voltado para o consumo doméstico. Entre os produtos exportados que mais utilizam água, a soja se destaca. Recentemente, o IPEA lançou um relatório sobre a "água virtual" utilizada na produção do grão. De acordo com o órgão, só em 2013, exportamos mais de 55,6 milhões de toneladas de soja, totalizando, um volume de água superior a 123 bilhões de m³", diz a reportagem.
Ameaças
Bruno Pilon, da coordenação nacional do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), alerta para as outras ameaças do agronegócio. Além da água absorvida diretamente e entregue aos estrangeiros, o agronegócio, ao explorar a terra por meio de monoculturas, gera impactos diretos e indiretos aos ecossistemas. "A forma de produção limitada a um só "produto" pode desencadear uma alteração brusca no meio ambiente, alterando o nível de chuvas, por exemplo, o que acaba diminuindo o abastecimento dos rios e nascentes, além de causar impactos sociais às populações".
Segundo ele, outro impacto profundo causado pelo agronegócio diz respeito à contaminação das nascentes pela produção intensiva com agrotóxicos.
"A legislação ambiental que diz respeito ao uso dos venenos não é cumprida por eles, e mesmo se fosse sabemos que ainda iria impactar. Quem tem um cofre no peito, não tem respeito algum às fontes de água, e isso tudo vai parar no prato, ou no copo das pessoas, os componentes dos venenos não desaparecem na água, e impactam toda a vida ao seu redor, não só as famílias camponesas, mas o bioma por completo. O agronegócio vê a água assim como o solo, como um depósito de fatores, lá se tire e se coloca o que quer e quando quer e quem mais sofre com isso são as populações do campo e da cidade, da pra imaginar que quando você toma banho em sua casa pode estar também se "ensaboando" com glifosato?, questiona.
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