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Estudante de 14 anos descobre molécula que pode combater coronavírus

Anika Chebrolu tem apenas 14 anos e já trabalha na corrida para encontrar uma cura para a covid-19

Foto: BBC News BrasilAnika Chebrolu,
Anika Chebrolu

 Por Analía Llorente, BBC News Mundo

Anika Chebrolu, estudante do ensino médio em Frisco, no Texas, descobriu uma molécula que poderia se ligar ao novo coronavírus e inibir sua capacidade de infectar pessoas.

A descoberta científica rendeu à jovem o título de "melhor jovem cientista dos Estados Unidos" na competição Young Scientist Challenge 2020, o que lhe rendeu um prêmio de US$ 25 mil (cerca de R$ 142 mil) concedido pela multinacional 3M.

O evento anual de prestígio nacional é indicado por várias universidades para estudantes de 10 a 14 anos (e potenciais cientistas) apresentarem um pequeno vídeo explicando uma solução para um problema cotidiano.

Sobre o que é exatamente a descoberta da jovem Anika Chebrolu? E como ela fez isso?

O Sars-CoV-2, vírus que causa a doença covid-19, possui uma espécie de coroa que o rodeia. É daí que vem o nome coronavírus.

Nesta coroa há uma proteína em forma de espinho, a proteína S, que se une aos receptores de nossas células para infectá-las.

Por isso, muitos laboratórios que trabalham em uma vacina contra a covid-19 escolheram atacar essa proteína com o objetivo de impedir que o vírus penetre em nossas células.

A pesquisa de Anika Chebrolu também se baseou nessa proteína-chave do vírus.

"Descobri uma molécula que pode se juntar à proteína S do vírus e potencialmente mudar sua forma e sua função", explica a jovem em entrevista à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).

Ela fez isso examinando milhões de pequenas moléculas em busca de propriedades como as de um remédio de absorção, distribuição, metabolismo e excreção (ADME).

Após essa análise, Chebrolu selecionou a molécula com melhor atividade farmacológica e biológica frente à proteína S do vírus Sars-CoV-2, que pode ser transformada em uma droga potencial para um tratamento eficaz contra a doença.

Estudo prévio

Chebrolu começou sua pesquisa na escola Nelson, em Frisco, quando ainda não havia notícias sobre a nova pandemia de coronavírus.

"Há alguns anos, investiguei a pandemia de gripe espanhola de 1918 para um projeto escolar e fiquei fascinada por vírus e pela descoberta de medicamentos", disse.

Ao fazer sua pesquisa, descobriu a metodologia in silico (em ou através de simulação computacional).

"Fiquei surpresa que pudéssemos usar métodos computacionais para identificar e desenvolver moléculas potenciais semelhantes a remédios para combater doenças."

Ela diz que estava usando o mesmo método do ano passado para identificar um composto importante que poderia se ligar à proteína hemaglutinina do vírus influenza quando a pandemia de covid-19 surgiu.

"Depois de pesquisar pandemias, vírus e drogas por tanto tempo, era uma loucura pensar que estávamos realmente passando por uma pandemia!"

Devido à gravidade da pandemia e ao forte impacto que ela teve no mundo em menos de um ano, Chebrolu descreve que, com a ajuda de seu mentor Mahfuza Ali, um cientista da 3M, ela mudou a direção de seu projeto inicial e se voltou para a proteína S do vírus Sars-CoV-2.

Até 26 de outubro, a covid-19 tirou a vida de mais de 1,1 milhão de pessoas em todo o mundo desde que os primeiros casos começaram a ser relatados em dezembro de 2019, na cidade chinesa de Wuhan.

Os Estados Unidos são o país com mais mortes, com mais de 225 mil, de acordo com dados da universidade americana Johns Hopkins.

Mais e mais estudos

No campo científico, os achados de Chebrolu foram celebrados, mas cientistas afirmam que ainda são necessários mais estudos para saber se essa molécula é realmente eficaz para uma cura contra a covid-19.

"Acho maravilhoso que Anika Chebrolu tenha feito essa análise, e seu trabalho é obviamente impressionante e sofisticado para seu nível de formação. Sem dúvida, ela tem potencial para ser uma cientista excepcional", disse Angela Rasmussen, virologista da Universidade Columbia, em Nova York.

"No entanto, é importante ressaltar que, embora essas estratégias sejam boas para identificar compostos com potencial terapêutico, não há dados experimentais para sustentar que a molécula identificada realmente afeta a entrada ou a replicação viral, ou que se una à proteína S em condições reais", diz a especialista à BBC News Mundo.

"São necessários estudos de laboratório para entender melhor o potencial dessa molécula como terapia antiviral", acrescenta Rasmussen.

Para especialistas consultados pela reportagem, mais testes laboratoriais podem determinar se essa molécula pode se ligar de forma eficaz à proteína S do vírus.

Se isso for comprovado com análises in vitro, geralmente em tecidos, órgãos ou células isolados, e posteriormente in vivo, o que significa testes em organismos vivos, essa molécula poderia prevenir a primeira etapa da infecção do vírus em um organismo.

Planos para o futuro

Chebrolu afirma que tem planos concretos para investir o dinheiro que ganhou de prêmio como melhor cientista jovem dos EUA.

"Planejo usar os US$ 25 mil para continuar minha pesquisa e financiar minha organização sem fins lucrativos, AcademyAid, que oferece material e equipamento a crianças que necessitam de ajuda para seguir nas carreiras que desejam."

Ela também planeja guardar parte do prêmio para pagar seus estudos na universidade.

Perguntada sobre o que diria, a partir de sua experiência, a outros jovens que podem estar interessados na ciência, ela recomendou não deixar de questionar.

"Lembre-se sempre de não deixar de fazer perguntas e de ter confiança em si mesmo. Certifique-se de aproveitar qualquer oportunidade com suas melhores habilidades, pois você nunca sabe onde pode parar."

Foto: BBC News BrasilQuando não está estudando ou pesquisando, Anika gosta de praticar Bharatanatyam, uma dança clássica indiana
Quando não está estudando ou pesquisando, Anika gosta de praticar Bharatanatyam, uma dança clássica indiana

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