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Esquerda e Bolsonaro firmam-se como os 'donos da rua' após protesto esvaziado

Ontem indicou que a esquerda e o bolsonarismo são os grupos com base social mais sólida e maior capacidade de mobilização para manifestações de rua

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Manifestações

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no facebook

O tamanho reduzido dos atos contra Jair Bolsonaro, neste domingo (12), convocados pelo MBL e o Vem Pra Rua, indica que a esquerda e o bolsonarismo são os grupos com base social mais sólida e maior capacidade de mobilização para manifestações de rua. E isso influencia nas estratégias do presidente e contra ele, como a criação da chamada frente ampla contra o presidente.

Tomemos como exemplo a avenida Paulista, em São Paulo. Enquanto o ato golpista do Dia da Independência e os protestos de maio e junho da esquerda preencheram mais de dez quarteirões cada, os manifestantes deste domingo ocuparam quase três. A Secretaria de Segurança Pública fala em 6 mil, neste domingo, diante de 125 mil da terça (7). Mesmo o Grito dos Excluídos, organizado por movimentos de esquerda no mesmo dia, que foi pequeno devido ao receio de confusão violenta com bolsonaristas, contou com 15 mil pessoas, de acordo com a polícia.

Uma coisa são institutos confiáveis apontarem que o governo é rejeitado pela maioria da população e o presidente ser duramente criticado nas redes sociais toda vez que ameaça a democracia. Outra é convencer uma pessoa a se levantar do sofá para ir às ruas pedir impeachment. Pesquisas e tuítes podem não mudar a cabeça de deputados e leva à cassação de um mandato, mas megaprotestos sim.

A esquerda se fez presente com alguns de seus representantes políticos no carro de som do MBL, mas também engrossando o público, uma vez que este era o primeiro ato após a micareta golpista de Jair. Os organizadores, contudo, não tiveram sucesso em convencer movimentos, sindicatos e organizações sociais a virem em peso como desejavam. Caso tivessem, o ato poderia ser maior que aquele do Dia da Independência.

Na reta final de preparação, o MBL vendeu a imagem da manifestação como um ensaio de uma frente ampla contra Bolsonaro. Já o Vem Pra Rua manteve o mote "nem Bolsonaro, nem Lula" - o que pode até levar à construção de uma frente da Terceira Via, mas não de todo campo democrático.

Ao invés de convocar para o ato deste dia 12, a maioria dos movimentos, organizações e coletivos de esquerda preferiu apostar no dia 2 de outubro, um sábado. Afirmam que a oposição ao centro e à direita estão convidadas a participar.

Na decisão de não ter apostado no 12 de setembro, há críticas ao papel do MBL e do VPR na ascensão de Bolsonaro ao poder. E, claro, cálculos eleitorais.

Independente das razões, o fato é que o chamado dos movimentos à direita, além de não ter atraído a esquerda, também mostrou que uma parte da base social deles, fundamental no processo de impeachment de Dilma Rousseff, ficou com Bolsonaro no divórcio. Ou talvez fosse bolsonarista desde o início.

As manifestações antibolsonaristas de esquerda vêm sendo convocadas por uma rede de movimentos e coletivos negros, estudantis e LGBTQIA+, torcidas organizadas de futebol, centrais sindicais, partidos políticos, movimentos de renovação política e frentes populares, como a Frente Povo Sem Medo (que conta com o MTST) e a Frente Brasil Popular (que conta com o MST), entre outros.

O público é composto por integrantes desses grupos e por indivíduos que atendem a esses chamados. As manifestações de maio e junho contavam com uma grande quantidade de jovens estudantes de perfil progressista, que não estavam ligados necessariamente a movimentos e organizações.

Os 125 mil na avenida Paulista, no 7 de setembro, provavelmente fazem parte dos 15% da população que, segundo o Datafolha, compõem o bolsonarismo-raiz, acreditando em tudo o que o presidente diz. A maior parcela é de homens, brancos e com mais de 45 anos.

Bolsonaro contou com recursos da iniciativa privada e a estrutura de comunicação de governo - ele foi o principal garoto-propaganda do ato. A difusão dos convites foi feita continuamente pela militância, mas também por religiosos, militares, policiais, agropecuaristas, empresários e políticos bolsonaristas, bem como por estruturas como o Gabinete do Ódio, que opera no Palácio do Planalto.

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