Odorico

É dia de dizer de uma só vez: Chega! Basta! Fora!

Mesmo que se reeleja Bolsonaro perdeu e teria que recomeçar


Foto: DivulgaçãoBolsonaro
Bolsonaro

Por Ricardo Noblat, jornalista, no Metrópoles  

Em jantar na embaixada do Brasil em Washington, durante sua primeira viagem aos Estados Unidos na condição de presidente, Jair Bolsonaro animou os convidados, entre eles o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho e o estrategista da Casa Branca de Donald Trump, Steve Banon, ao proclamar em discurso:

“Vou destruir o sistema”.

Não definiu o que era o sistema, mas todos ali entenderam o que ele queria dizer: o conjunto de forças políticas e econômicas que ditavam os rumos do Brasil desde o fim da ditadura 64. Olavo e Banon sorriram satisfeitos. Bolsonaro seria mais um a pautar-se pelas ideias da extrema-direita que avançavam pelo mundo.

Na última sexta-feira, no belicoso debate com Lula na TV Globo, Bolsonaro queixou-se em certo momento:

“Todo o sistema está contra mim”.

E citou como expoentes do sistema a própria Globo, a imprensa em geral e os tribunais superiores de justiça. Não citou o Congresso, que depois das eleições de 2 de outubro virou um ninho de seus apoiadores mais radicais; nem o empresariado e o agronegócio que injetaram muito dinheiro na reta final de sua campanha.

Dir-se-á que apenas estava se vitimando para atrair mais votos. Mas, não: talvez estivesse sendo sincero. Se não todo o sistema, boa parte dele uniu-se não só para sobreviver como para derrotar a pretensão de Bolsonaro de subverter as regras estabelecidas pela Constituição de 1988, implantando no país um regime autoritário.

O plano original de Bolsonaro era usar seu primeiro mandato para virar o país pelo avesso, e o segundo, que viria com a reeleição, para começar a construir o país dos seus sonhos. A não ser possível um terceiro mandato consecutivo (mas quem disse que não seria?), indicaria seu sucessor. A construção de um novo país demora.

Se for reeleito hoje, Bolsonaro terá que recomeçar sua obra. E só os ingênuos são capazes de acreditar que ele desistirá dela. Bolsonaro é e sempre será o que foi até aqui: um nostálgico da ditadura, um complexado por ter sido afastado do Exército, um administrador despreparado, e um homem ordinário e preguiçoso.

Sua carta aos brasileiros, divulgada às pressas, vale tanto quanto uma nota de três reais. Um dos seus 22 itens, para contrapor-se aos 13 itens da nova carta de Lula, diz que Bolsonaro respeitará a independência entre os Poderes da República; outro, que não proporá a reforma do Supremo Tribunal Federal.

É falso. O respeito aos Poderes contraria a natureza de um aspirante a ditador. Ele não precisa propor a reforma do Supremo, outros o farão e Bolsonaro dirá que a iniciativa e a decisão a respeito couberam ao Congresso; na linha do que diz sobre o Orçamento Secreto. A mentira é seu apanágio.

A resistência ao assassino da liberdade, a serviço da morte da democracia, começará no dia seguinte se Deus não nos poupar de tamanha desventura. Deus, não, que ele não se mete nessas coisas; se a maioria de nós não se levantar para dar um chega, basta, fora, tudo de uma só vez, repondo o país nos trilhos.

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