Política

Ditadura, comunavírus, obscurantismo

Uma hecatombe devasta a vida de milhões

  • quarta-feira, 31 de março de 2021

Foto: ReproduçãoDitadura Militar
Ditadura Militar

 

Por Fonseca Neto, historiador, no Piauí Hoje 

Comandos extremistas de direita chamam as ruas brasileiras para comemoração do golpe de 31 de março de 64 que impôs ao Brasil a ditadura militar que durou décadas. Desse golpe e ditadura, uma herança iníqua impede que o Brasil avance, de fato e realmente, para ser um país livre e democrático.

Dizemos militar a ditadura de 64, pela conhecida força militar na operação golpista que gerou e sustentou, qual partido da farda. Contudo, entendemos não se deva reduzir a essa dimensão militar a imposição do regime que vigorou entre a década de 1960 e o final dos anos 80 do século passado. Trata-se de uma conjuntura na qual confluíram e tomaram o poder as forças decisivas, a serviço da barbárie social, que mantém o Brasil por séculos travado ao mais tacanho atraso, subjugado por colonizações e imperialismos de fora e escravidões aqui dentro. 

A ditadura de 64 e o regime de exceção que impôs foram civilmente apoiados e não deixou herança que elevasse a nação em termos de altivez e maior respeitabilidade, em face de sua gente e no espelho do mundo. Foi preciso uma mobilização popular muito intensa para varrer o regime ilegal e alcançar-se uma conjuntura mais esperançosa em termos de progresso social.

Mobilizações populares e brotação de um tecido de organizações de toda espécie, notadamente do mundo laboral-sindical, alavancaram a reconstitucionalização da República, com a Carta de 88, uma carta de intenções de uma geração de brasileiros. 

A referida mobilização popular não foi capaz, contudo, de transpor as forças contrárias às mudanças intencionadas por lutadores românticos, em muitas jornadas, no recorte de tempo e vida entre 88 e 2013. 

A proximidade das eleições de 2014, e a reeleição de um governo declaradamente contrário à “verdade” imposta em 1964, e pactuada em 1988, levaram a outro golpe pela deposição da presidência legitimamente eleita e imposição da exceção política. 

A deposição de Dilma Rousseff, foi ação contrária à democracia e aos legítimos interesses nacionais do Brasil e da maioria do povo que seu governo sustentou. De golpe em golpe, continuados, golpistas alçaram à cabeça da República uma brotação da extrema direita, violenta, nutrida na cloaca fétida e viçosa da ignorância política. 

Não faltam os que chamam a atenção para a composição e conteúdo dos golpistas alçados ao mando. Quem, com mais acerto, o resume, em puras bases filosóficas-históricas, é Marilena Chauí, contemplando a classe média “conservadora” e nesta enxergando as “três abominações” que exprime: “política, porque é fascista; ética, porque é violenta; cognitiva, porque é ignorante”.  

A nação está submetida a grave ataque pandêmico, mortal, como em nenhuma guerra que o Brasil conheça em seus limites. E é nesse momento literalmente crucial que reponta do porão essa extrema-direita, forçando a barra para romper de vez a letra constitucional e assumir-se como de fato é: totalitária, sanguinária e que tem a ideologia como seita. Que jamais aceitou a democracia. 

Uma hecatombe devasta a vida de milhões. A ignorância dessa seita abraçada por alguns milhões de brasileiros, nega a virulência pandêmica, parecendo ter a morte e o desespero como meio para alcançar seu nefando desiderato necro-ditatorial. 

As celebrações de setores extremados da sociedade neste 31 de março clamando por nova ditadura é sinal tenebroso. Repita-se: não se trata apenas de posições políticas mais extremadas, afinal, nada incomuns na vida social e que devem caber nas linhas de contenção que a dinâmica da democracia resolva. 

Não, não é disso que se trata. O golpe em curso nesta conjuntura pós 2013 abraça a radicalidade do morrer, como método. É contra a vida, matar é o seu argumento.  

Direita fascista, violenta e ignorante: sua virulência mental e sua prática são tão devastadoras que acreditam que o vírus é comunista – comunavírus ernestinensis – e quem quer viver serve à subversão 21. 

Ah! Se tudo não fosse apenas pesadelo delirante. 

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