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Denúncias, motivação política, ação 'impulsiva' e fuga: o que se sabe sobre o assassinato de ex-vereador em Minas

Polícia crê que criminoso agiu por impulso; principal suspeito é irmão do atual prefeito e ex-secretário municipal

Foto: TwitterCassio, ex-vereador de Patrocínio
Cássio, ex-vereador de Patrocínio

Assassinado nessa quinta-feira (24), em Patrocínio, o candidato a vereador Cássio Remis (PSDB) costumava denunciar possíveis ilicitudes cometidas por Jorge Marra, que era secretário municipal de Obras da cidade. Neste ano, o tucano já havia criticado Marra por, supostamente, utilizar máquinas públicas para fazer intervenções em sua fazenda particular. O principal suspeito de disparar os cinco tiros que mataram Cássio é irmão do prefeito patrocinense, Deiró Marra (Democratas), que tenta a reeleição.

O crime, aliás, ocorreu enquanto Cássio, de 37 anos, fazia uma transmissão ao vivo nas redes sociais. Ele estava em frente ao comitê de campanha de Deiró, denunciando a promoção de obras, por parte da prefeitura, nas imediações do local. Por isso, a Polícia Civil crê que o assassinato ocorreu por motivações políticas.

O pensarpiauí mostrou o caso: Vídeo: Candidato a vereador é assassinado durante live

Câmeras de segurança mostram Jorge Marra tomando um celular das mãos de Cássio, que vai atrás dele em busca do aparelho. Já na secretaria de Obras, para onde ambos se dirigiram, Marra, saca uma arma dispara.

“Não era a primeira vez que ele (Jorge Marra) estava sendo denunciado. Quando ficou sabendo que estava sendo denunciado mais uma vez, foi pegar o celular e se impor. A vítima, que não era de ser condescendente com isso, reagiu. Não acho que (o crime) foi premeditado, armado ou contratado”, explica o delegado Renato Mendonça, que está à frente das investigações.

A polícia suspeita, ainda, que o ato foi cometido no ‘calor’ do momento. As denúncias feitas por Cássio anteriormente estavam sob o guarda-chuva do Ministério Público. “Não havia uma rixa, brigas e ameaças entre os dois. Era um problema com as irregularidades, independentemente de quem estivesse por trás”, completa Mendonça.

Em Patrocínio, o crime é tratado como “caso isolado”. O promotor eleitoral do município, Aloísio Soares, diz que a cidade de pouco mais de 90 mil habitantes não está acostumada a ocorrências do tipo.

“As instituições estão engajadas em dar ao pleito eleitoral a mais absoluta tranquilidade e normalidade. Foi um incidente totalmente isolado, inclusive no aspecto criminal, em toda a história da cidade”, garante.

Suspeito está foragido

Jorge Marra ainda não foi localizado pelas forças policiais. Ele foi, de caminhonete, para Perdizes, no entorno de Patrocínio. Seu automóvel acabou encontrado em uma casa na cidade — havia uma arma dentro do veículo. Na tarde desta sexta, a Justiça expediu liminar que autoriza a prisão preventiva dele.

As autoridades creem que o disparo foi feito com um revólver calibre 38. Marra tem autorização para possuir a arma, mas não pode portá-la. Depois de Perdizes, a suspeita é que ele tenha se deslocado até as imediações de Uberlândia, no Triângulo.

Sem informações concretas sobre o paradeiro do ex-secretário — exonerado logo após o crime —, os policiais buscam encontrá-lo, mas também contam com a família para negociar a rendição.

Inicialmente, a polícia classifica o crime como homicídio duplamente qualificado por motivo fútil. Ele pode ser indiciado, também, por porte ilegal de arma caso não comprove ter autorização para andar com revólver em vias públicas.

Jorge Marra tem passagens policiais por dois crimes ambientais. As infrações, contudo, são passíveis de penas leves.

Nessa quinta, ao comentar o crime, Deiró Marra disse não ter conhecimento da arma possuída pelo irmão. Ele declarou, ainda, que o crime não atrapalha seus planos na corrida rumo à reeleição.

Veja também: Minas: prefeito confirma que irmão matou candidato a vereador

Policiamento será reforçado

O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) pretende reforçar a segurança nas atividades de campanha em solo patrocinense.

“Conversamos, no âmbito do gabinete, sobre reforço de policiamento ostensivo em todos os movimentos de campanha eleitoral”, garante o juiz Joemilson Donizetti Lopes, que coordena o Grupo Institucional de Segurança instituído pela Corte para cuidar do pleito deste ano.

O TRE-MG trabalha para conter, de forma preventiva, possíveis acirramentos causados pelas disputas eleitorais. A ideia é que juízes das comarcas informem incidentes do tipo ao grupo para que as forças de segurança possam agir — e, assim, evitar consequências trágicas.

Candidatura já havia sido protocolada

Os postulantes à eleição deste ano precisam apresentar suas candidaturas à Justiça Eleitoral até o início da noite deste sábado (26). Na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constava o nome de Cássio Remis. O número dele na urna eletrônica já havia, inclusive, sido atribuído: 45777.

Se desejar, o PSDB pode substituir a candidatura. Expediente semelhante ocorreu em 2014, quando o então presidenciável Eduardo Campos (PSB) morreu em acidente aéreo. Na vaga deixada por ele, entrou Marina Silva, então vice-candidata ao Palácio do Planalto.

Eleito em 2008, Remis foi o presidente do Legislativo municipal entre 2013 e 2014. Ele ocupou cadeira na Câmara Municipal entre 2009 e 2016. Cássio também era proprietário de um escritório de advocacia no Bairro São Francisco, em Patrocínio. A página do político no Facebook tinha cerca de 19 mil seguidores.

Deiró também protocolou dados e certidões necessárias para tentar a reeleição. Além do Dem, ele terá o apoio de PP, PL, Podemos, PTB, PMB, PSC, PDT e Pros.

Com informações do Estado de Minas 

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