Pensar Piauí

Coronavírus: o desastre se aproxima a passo rápido, nos encaminhamos para um desastre absoluto

O confinamento requeria amplo consenso na sociedade, mas ele é boicotado sistematicamente por políticos desonestos e religiosos picaretas

Foto: Cedec - MSO desastre vem aí
O desastre vem aí

 Por Luis Felipe Miguel, no facebook 

Tudo indica que estamos nos encaminhando para um desastre absoluto. Simples assim.

Em muitas cidades, estamos há semanas numa espécie de semiconfinamento - é confinamento, mas não na hora de comprar ovo de Páscoa ou ir no parquinho com as crianças. Tudo indica que ele é insuficiente para conter o avanço do vírus.

E, se é assim, em breve teremos que iniciar um confinamento de verdade, contando a partir do zero.

Ninguém consegue impor confinamento só na base da repressão, sem um amplo consenso na sociedade a sustentá-lo. No Brasil, a produção desse consenso é boicotada sistematicamente por políticos desonestos e religiosos picaretas, que se dispõem a arriscar a vida de todos para garantir o que lhes parece ser um ganho imediato.

O fato de que o discurso de minimização do risco do coronavírus continua circulando é grave também porque funciona de válvula de escape para quando o confinamento se torna pesado.

Não é que a pessoa de fato acredite nas asneiras ditas por Bolsonaro, Terra ou Malafaia. Mas quando a vontade de romper o confinamento fica grande demais, cresce a tentação de conceder a ela o benefício da dúvida...

Fiel à estratégia bannoniana de abraçar a incoerência sem pudor, os fascistas locais ao mesmo tempo dizem que o coronavírus "é uma gripezinha" e exigem que os doentes sejam tratados, desde os primeiros sintomas, por um medicamento forte, com graves efeitos colaterais - e sem eficácia comprovada.

Há quem sugira que existem interesses econômicos por trás do entusiasmo tão descabido com a cloroquina. Talvez. Mas basta o interesse político.

É construída - abertamente, já que sutileza não é o forte - uma narrativa em que eles trazem soluções (a cloroquina) enquanto a esquerda (no sentido amplo que o bolsonarismo dá ao termo, uma esquerda cujos protagonistas são Dória e a Globo) traz problemas (o coronavírus).

Quando alertamos para o crescimento dos casos de contágio e de mortes, parece que estamos torcendo pelo vírus. Quando enfatizamos que faltam muitos testes para provar que a cloroquina é eficiente e que os resultados dos testes até agora feitos estão longe de ser unívocos, parece que estamos torcendo para que o remédio não funcione.

O desastre se aproxima a passo rápido. Logo estará a galope. Já são mais de mil mortos no Brasil. Serão muitos mais.

Uma pesquisa na Alemanha indicou que a taxa de letalidade do vírus é baixa: 0,37%. Parece pouco. Mas mesmo que a gente replique aqui os números alemães, mesmo que o colapso do sistema de saúde não leve - como fatalmente levará - a um aumento desses número, esse percentual aponta para a morte de cerca de 700 mil brasileiros.

É um número que deveria assustar.

Infelizmente, o trabalho ideológico dos políticos e religiosos da extrema-direita passa fundamentalmente por negar o valor da vida humana.

A cada dia, eles dizem que muitos de nós não merecemos viver. Mulheres que praticaram aborto. Lésbicas e gays. Pessoas trans. Comunistas. Umbandistas. Ateus. Professores. Jornalistas. Funcionários públicos. A lista não termina.

E, como disse certa vez, de forma memorável, o atual presidente da República, "se vai morrer alguns inocentes, tudo bem".

O vírus é a causa específica do desastre que nos aguarda. Mas as condições para que ele ocorresse vieram dos muitos anos em que nossa "elite" cevou o obscurantismo, julgando que ele lhe seria útil.

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