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Conheça a história do "capixaba" de 112 anos que morreu esta semana no Sul do País e deixou viúva de 100 anos

Délio Venturoti, capixaba por adoção, mas na verdade originário da Itália, onde nasceu em 29 de outubro de 1909

Foto: DivulgaçãoDélio Venturoti
Délio Venturoti

TNL - Quem é o "capixaba" que atraiu a atenção das ciências médicas ao soprar, no ano passado, as velinhas no bolo de seus 112 anos na festa que a família fez no dia 29 de outubro e que já estava se preparando para comemorar os 113 anos, mas morreu na última quarta-feira (1°/06) em Florianópolis, onde morava há 28 anos?

Às 23h35, segundo a família, ele parou de respirar por falência múltipla de órgãos no Hospital de Caridade de Florianópolis, capital de Santa Catarina, uma das cidades de melhor qualidade de vida do País, deixando viúva sua mulher, Dulcine, com quem foi casado por 76 anos e que tem 100 anos de idade.

Na capital catarinense também moram os quatro filhos o mais velho com 75 anos e a mais nova com 64-, todos nascidos em Colatina, na região Noroeste do Estado, onde o pai foi gerente de uma loja de tecidos até 1969, quando se aposentou.

Mas quem é o personagem central dessa história centenária? É Délio Venturoti, capixaba por adoção, mas na verdade originário da Itália, onde nasceu em 29 de outubro de 1909, ou seja, 36 anos antes da proclamação da República Italiana, que, coincidentemente, fez na quinta-feira (2) 76 anos de existência, o tempo que o casal estava casado (desde 15 de março de 1946).

Foto: DivulgaçãoDélio Venturoti
Délio Venturoti

Délio chegou à região de Colatina com três anos, acompanhando o pai, a mãe e mais duas irmãs, Elvira, quatro anos, e Terezinha, ainda bebê, com seis anos. De acordo com a revista Insieme, de Curitiba, dedicada à cultura italiana, Délio Venturoti era o italiano vivo mais idoso no mundo.

"Meu pai morreu completamente lúcido, com memória para cantar os velhos hinos da Igreja Batista junto com minha mãe, esta, sim, sofrendo com demência senil, com lampejos de lucidez", conta Délio Venturoti Filho, 75 anos, o filho mais velho, que mora no bairro rural de Caieira da Barra do Sul, onde, segundo diz, "pode sair de casa e deixar as portas abertas que ninguém mexe em nada".

EXEMPLOS DE LONGEVIDADE

De acordo com registros familiares, Luiggi e Giovanna deixaram a Itália com os filhos diante do alerta de um oficial das Forças Armadas Italianas de que haveria uma grande guerra na Europa - a Primeira Guerra Mundial.

Délio Filho, o mais velho, demonstra ótima memória e contou que um dos segredos da longevidade do pai é o DNA, segundo atestou a geriatra que o acompanhava - um de seus irmãos, Virgilio, que morava em Nanuque (MG), morreu em junho do ano passado com 105 anos. Antes, duas irmãs morreram a meses de completarem 100 anos – Julieta e Ana Venturoti.

Foto: DivulgaçãoDélio Venturoti a mulher e os filhos
Délio Venturoti a mulher e os filhos

Délio, o pai, nasceu na cidade de Calto, na província de Rovigo, no Veneto, e nunca quis se naturalizar brasileiro. Em 1913, os pais dele - Luigi Venturoti, que no Brasil virou Luiz, e Giovanna Arrivabene Venturoti, a Joana - decidiram vir construir a vida no Espírito Santo, constituindo-se na segunda geração de italianos a desembarcarem no Estado. Foram direto trabalhar numa fazenda de café em Mascarenhas, hoje distrito de Baixo Guandu. De meeiro, o avô tornou-se pequeno fazendeiro mais tarde em Linhares, nas margens da Lagoa Durão. "Quando éramos pequenos, passeávamos muito lá", disse Délio Filho.

No Brasil, o casal teve mais cinco filhos: Virgilio, José, Julieta, Aldéia e Ana. Quando Délio tinha 15 anos, sua mãe, Giovanna, morreu e o pai casou-se novamente com Francisca, com quem teve mais uma filha, Zilda, que hoje tem 96 anos e mora na região de Maruípe, em Vitória. Mas Chiquinha também morreu e Luigi casou-se pela terceira vez, com Josefina Ribeiro, e não tiveram filhos, mas a história da família mudou a partir daí.

"A família veio católica da Itália. E assim os outros filhos também foram criados. Mas Josefina havia sido criada pelo missionário americano Loren Reno e sua esposa, que eram da Igreja Batista. Nesse processo ocorreu a conversão do meu pai e os filhos, um a um. Onde morasse, meu pai queria ter facilidade para ir à igreja e frequentou a Igreja Batista Pioneira em Florianópolis até seus últimos dias", conta Délio Filho.

Além de Délio Filho, o ítalo-brasileiro Délio Venturoti e dona Dulcine tiveram também Maria Dulce, hoje com 72 anos; José Venturoti, o Toninho, com 70; e Regina, com 64. Todos moram em Florianópolis, para onde a família chegou em 1994 em busca de qualidade de vida. A mesma qualidade de vida que buscou em São Paulo no final dos anos 60. Não há muitos descendentes: apenas cinco netos e três bisnetos.

"Minha mãe mudou-se para São Paulo em 1967 junto com a gente. Meu pai ficou em Colatina até 1969, como gerente da loja Baratex, esperando se aposentar. Depois, foi também para São Paulo. Fomos morar no bairro da Pedreira e depois em Santo Amaro, mas a qualidade de vida em São Paulo piorou, ele não podia mais ir à igreja sem correr risco de ser assaltado, e então viemos para Florianópolis", conta Délio.

O patriarca da família voltou muitas vezes ao Espírito Santo, para visitar familiares em Guarapari, especialmente o pai Luigi, que morreu na cidade aos 96 anos, e eventualmente também visitava Colatina. Na cidade do Noroeste marcou época na Primeira Igreja Batista, como recorda-se o advogado aposentado Sidney Givigi, que trabalhou sob as ordens de Délio no Baratex antes de formar-se em Direito.

"O irmão Délio era a imagem da serenidade. Quando as reuniões administrativas da igreja esquentavam e havia confusão, era o irmão Délio quem nos exortava, amorosamente, a que nos aquietássemos", recorda se Givigi, que, os 84 anos, também está refugiado em Aracaju (SE), igualmente em busca de qualidade de vida. "A história do Délio me inspira. A vida é assim mesmo. Vivemos, mas, a qualquer momento somos chamados à eternidade. Tenho para mim que lá depois de 12 de julho de 2079 certamente também estarei sendo chamado para junto de meu redentor", diz Givigi no comunicado aos amigos da morte de Délio, seu antigo gerente, aos 112 anos.

Foto: DivulgaçãoDélio Venturoti
Délio Venturoti

Foto: DivulgaçãoDulcine
Dulcine

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