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Cenário de Guerra: em ataque criminoso, governador de Minas Gerais manda incendiar acampamento do MST

De um lado: fuzis, choques, ódio ao povo. Do outro: agricultura familiar, trabalhadores(as) e amor ao povo

Foto: MSTAção é uma tentativa de forçar a saída das 450 famílias, que resistem desde ontem ao despejo ordenado pela Justiça de Minas Gerais
Ação é uma tentativa de forçar a saída das 450 famílias, que resistem desde ontem ao despejo ordenado pela Justiça de Minas Gerais

Com informações: Rede Brasil Atual

A Polícia Militar de Minas Gerais ateou fogo no acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, no sul do estado. De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a ação, no meio da tarde, teria sido comandada pelo governador Romeu Zema (Novo) para pressionar a saída das 450 famílias que resistem desde quarta (12). Há crianças e idosos no local.

Os policiais chegaram no acampamento para executar a ordem de despejo, em função de uma determinação judicial de 2019. O governo Zema disse ter solicitado a suspensão do cumprimento da reintegração de posse na terça-feira (11), juntamente com a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Conselho Estadual de Direitos Humanos e parlamentares. Mas o pedido teria sido negado.

O despejo teve início com ação truculenta conduzida por cerca de 150 policiais militares. A pressão de organizações e movimentos de defesa dos direitos humanos levou o governador a declarar que o despejo estaria suspenso. No entanto, a polícia permaneceu no local durante toda a noite e ao longo de todo o dia de. As famílias resistiram para proteger as lavouras. À tarde, como forma de intimidar os trabalhadores, a polícia ateou fogo em parte do entorno do assentamento.

O acampamento Quilombo Campo Grande foi constituído há 22 anos, em área da falida usina de açúcar Ariadnópolis, que deixou pendências trabalhistas. Desde então, 450 famílias produzem todo ano 510 toneladas de café orgânico, oito toneladas de mel, além de cereais, hortaliças, frutas, fitoterápicos, leite e derivados.

A Campanha Despejo Zero denunciou à Organização das Nações Unidas (ONU) a destruição de uma escola e a retirada de seis famílias, além da ameaça de despejo das famílias sem-terra do acampamento Quilombo Campo Grande. Foi enviado informe detalhado do caso ao relator especial de moradia adequada, Balakrishnan Rajagopal.

No documento, a Campanha pede que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), seja oficiado a suspender imediatamente a reintegração de posse determinada pelo Tribunal de Justiça do estado, com aval de Zema. "O despejo do Quilombo Campo Grande é uma grave violação de direitos humanos para as famílias locais, que podem perder tanto sua moradia quanto seu sustento. Isto também impacta diretamente a segurança alimentar de todas as famílias que recebem os alimentos ali produzidos”, diz trecho do informe assinado pelas organizações da Campanha Despejo Zero.

É grande a pressão da sociedade civil e mobilizações na redes sociais contra o despejo.

Foto: MSTxx

Foto: MSTxx

Foto: MSTxx

Foto: MSTxx

Foto: MSTxx

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Muitas manifestações nas redes sociais em apoio aos trabalhadores rurais:

O bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte também gravou mensagem em favor das famílias que estão sendo despejadas.

Aliado de estelionatários

Sem amparo do governo Zema, aliado dos estelionatários, ex-proprietários das terras, as famílias foram abrigadas pelo MST no assentamento próximo ao local. “Essa é a realidade quando se coloca fascistas no governo. Mesmo sendo de conhecimento de todos a manobra corrupta feita com um juizeco local, nenhum órgão público conseguiu interceder para que as famílias ficassem em suas casas, mesmo no meio da pandemia. Mas nós aprendemos sempre a voltar mais fortes. E eles podem esperar, vai ter retorno. Essa terra é nossa por direito e não abrimos mão de nenhum centímetro dela”, alerta Tuíra Tule, da direção estadual do MST.

São 22 anos de conflito e resistência no território, lidando com pistoleiros e ameaças, a mando de Jovane de Souza Moreira. Após enfrentar cinco despejos, as famílias do MST conhecem o caminho para retornar com mais força e conquistar a terra. O movimento reafirma que naquela área, será construído um polo de conhecimento e tecnologia em agroecologia.

TJ-MG coloca polícia para agir com truculência em acampamento do MST

Com 400 famílias, Quilombo Campo Grande, no sul de Minas, resiste a ordem de despejo que deveria estar suspensa durante a pandemia.

Na madrugada desta quarta-feira (12), a pacata cidade de Campo do Meio (MG) se transfigurou em cenário de guerra. Viaturas e policiais de outras cidades chegaram ao município para realizar o despejo de 400 famílias da área de 52 hectares. A área fica no entorno da sede da antiga Usina Ariadnópolis e na Escola Popular Eduardo Galeano. A ação de despejo dos acampados no Quilombo Campo Grande foi precedida da presença de viaturas e drones, que atormentam desde o dia 30 de julho a paz das famílias que vivem e trabalham no local.

Nesse dia, a polícia invadiu casas e levou um sem-terra preso. A ação foi realizada sem mandado. O MST denunciou o objetivo de coagir e incriminar os trabalhadores. Isso foi confirmado com a soltura do sem terra Celso Augusto no mesmo dia, e pela nota publicada pela Polícia Civil. “Um facão e fogos de artifícios foram apreendidos no local, e um indivíduo preso por resistência”, dizia a nota.

Os dias seguiram tumultuados, com a intensificação da denúncia do despejo iminente no Quilombo Campo Grande, a busca de saídas jurídicas junto ao Ministério Público e a organização do acampamento para a resistência. Em meio à corrida contra o tempo, circularam áudios das famílias denunciando as ações autoritárias, as rondas de viaturas aceleradas, as blitze nas estradas de acesso à pequena cidade.

Manifestações de apoio

Em contraponto, também circularam nas redes dezenas os vídeos em apoio aos trabalhadores rurais. Manifestações em cartas enviadas ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) e na moção on-line envolveram representantes de mais de 20 países e de 32 entidades internacionais e nacionais, 98 coletivos e representações acadêmicas.

O Conselho Estadual de Direitos Humanos (CONEDH), a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESE) alertaram, sem obter respostas, o Tribunal de Justiça para os riscos de uma ação de despejo diante da pandemia. 

O documento afirma que “diante da iminência de uma lesão irreparável e grave aos Direitos Humanos e ao direito à saúde, solicita-se a suspensão da ordem de cumprimento da liminar possessória para desocupação do imóvel”.

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