Pensar Piauí

Carta para o Brasil do amanhã

O candidato à Presidência da República prometeu a retomada do crescimento econômico e dos direitos sociais

Foto: DivulgaçãoLula
Lula


Por Luis Inácio Lula da Silva 

Esta não é uma eleição qualquer. O que está em jogo é a escolha entre  dois projetos completamente diferentes para o Brasil.  

Um é o país do ódio, da mentira, da intolerância, do desemprego, dos salários baixos, da fome, das armas e das mortes, da insensibilidade, do machismo, do racismo, da homofobia, da destruição da Amazônia e do meio  ambiente, do isolamento internacional, da estagnação econômica, do apreço à ditadura e aos torturadores. Um Brasil de medo e insegurança com  Bolsonaro. 

Outro é o país da esperança, do respeito, do emprego, dos salários decentes, da aposentadoria digna, dos direitos e oportunidades para todas e  todos, da vida, da saúde, da educação, da preservação do meio ambiente,  do respeito às mulheres, à população negra e à diversidade; da integração  soberana ao mundo, da comida no prato e, sobretudo, do compromisso  inabalável com a democracia. Um Brasil de esperança, um Brasil para todos.  

As primeiras medidas de nosso governo serão para resgatar da fome 33  milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiros e brasileiras. A democracia só será verdadeira quando toda a população tiver acesso a uma vida digna, sem exclusões.  

Temos consciência da nossa responsabilidade histórica e, junto com amplas forças que apoiam a democracia brasileira, a partir de um permanente  processo de diálogo e escuta da sociedade, apresentamos nossas principais propostas para a reconstrução do país.

1. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO COM INVESTIMENTOS

Nossa primeira iniciativa será definir com os governadores dos 27 estados  um planejamento para retomar obras paradas e definir obras prioritárias. Vamos buscar financiamento e a cooperação – nacional e internacional – para o investimento público e privado, para dinamizar e expandir o mercado interno de consumo, desenvolver o comércio, serviços, agricultura de alimentos e indústria. Vamos investir em serviços públicos e sociais, em infraestrutura econômica e em recursos naturais estratégicos. Os bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental  neste novo ciclo. Ao mesmo tempo, vamos impulsionar o cooperativismo e a  economia solidária e popular. A roda da economia vai voltar a girar e o povo  vai voltar e ser incluído no orçamento.

Além disso, enfrentaremos o desemprego e a precarização do mundo do  trabalho, com um amplo debate tripartite (governo, empresários e trabalhadores), para construir uma Nova Legislação Trabalhista que assegure  direitos mínimos – tanto trabalhistas como previdenciários – e salários dignos, assegurando a competitividade e os investimentos das empresas. Vamos também criar o Empreende Brasil, com crédito a juros baixos para os  batalhadores das micro, pequenas e médias empresas. Nosso Brasil será o  país da inovação.

2. DESENVOLVIMENTO SOCIAL COM TRABALHO E RENDA

Nosso maior compromisso é construir um Brasil mais igualitário, sem fome,  sem pobreza, com bons empregos e salários, priorizando as pessoas que  mais precisam. Para isso propomos: um Salário-Mínimo Forte, com crescimento todo ano acima da inflação; um Novo Bolsa Família, que garantirá  R$ 600,00 como valor permanente mais R$ 150,00 para cada criança de até  6 anos de idade; o programa Desenrola Brasil, para renegociar as dívidas  de milhões famílias que estão inadimplentes, oferecendo grandes descontos  e juros baixos; Imposto de Renda Zero para quem ganha até R$ 5 mil, que será acompanhado de uma reforma tributária; além da Igualdade Salarial  para Homens e Mulheres que exerçam a mesma função.

3. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E TRANSIÇÃO ECOLÓGICA

Vamos construir um Brasil sustentável. O Brasil tem tudo para ser uma grande potência ambiental. Para isso, é preciso aproveitar a criatividade da bioeconomia e dos empreendimentos da sociobiodiversidade. Vamos iniciar a  transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma mineração  sustentáveis, para uma agricultura familiar mais forte, para uma indústria  mais verde.

Nosso compromisso estratégico é buscar o desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica. Vamos  apoiar a grande agricultura de baixo carbono e a agricultura familiar com crédito, garantias e assistência. Vamos criar o Ministério dos Povos Originários e revogar as medidas contrárias as populações indígenas  e povos originários. Vamos reconstruir os órgãos de fiscalização e controle  do desmatamento. Vamos acabar com o garimpo ilegal em terras indígenas. Em vez de líderes mundiais de desmatamento, queremos ser campeões mundiais do enfrentamento da crise climática e do desenvolvimento  socioambiental. Assim, teremos comida saudável no prato, ar limpo para respirar, água boa para beber e muitos empregos de qualidade com os investimentos verdes.

4. EDUCAÇÃO

Para assegurar oportunidades para todas e todos, a Educação e a Ciência,  hoje tão abandonadas e negligenciadas, serão tratadas como investimento e  não como gasto. Vamos voltar a construir e apoiar as creches, aumentar os  recursos para a merenda escolar, implantar o Ensino em Tempo Integral, com bolsa-estudante para quem completar o Ensino Médio. Vamos universalizar a banda larga nas escolas, com equipamentos adequados que  atuarão como ponto de irradiação para a conectividade dos territórios.

Também vamos investir em Mais Universidades, com o fortalecimento do  ENEM, FIES, do PROUNI, da Bolsa Formação, e ampliaremos a Lei de Cotas,  incluindo a pós-graduação. Voltaremos a expandir fortemente o Ensino Técnico Profissionalizante. Vamos valorizar a formação, a remuneração e as  condições de trabalhos dos professores, professoras e demais profissionais  da Educação. A educação pública, universal e de qualidade voltará a ser prioridade estratégica do país.

5. SAÚDE

Para assegurar a saúde e a tranquilidade das famílias, vamos fortalecer o  SUS, retomar o Farmácia Popular, implantar o Médicos Pelo Brasil para  atender a população de todos os municípios brasileiros; promover mutirões  emergenciais em todo o país para zerar as filas de consultas, exames e  cirurgias que não foram realizados na pandemia, criar o Centro Nacional  de Telemedicina e investir no atendimento integral à Saúde da Mulher. Vamos reconstruir o Programa Nacional de Vacinação. A vida é o nosso bem  mais precioso.

6. HABITAÇÃO E INFRAESTRUTURA

Vamos retomar o Minha Casa Minha Vida para garantir emprego e moradia  para milhões de brasileiros. Também universalizaremos o acesso à luz e à  água com a reconstrução de programas como o Luz para Todos e Cisternas. Vamos retomar obras paradas e estruturar um Novo PAC, para reativar  a construção civil e a engenharia pesada – orientando o investimento para  setores que atendam a demandas sociais como habitação, transporte e mobilidade urbana, energia, água e saneamento. É o caminho para iniciar um  novo ciclo de crescimento econômico.

7. SEGURANÇA

Vamos criar o Ministério da Segurança Pública para implementar o Sistema Único de Segurança Pública, com polícias bem equipadas, treinadas e  remuneradas. Vamos retomar o PRONASCI para investir na formação e profissionalização dos policiais. Vamos voltar a fortalecer e respeitar o importante trabalho da Polícia Federal e da Força Nacional. Vamos revogar decretos e portarias que permitiram o acesso irrestrito às armas, especialmente  aqueles que estão armando o crime organizado. Enfrentaremos o aumento alarmante de casos de feminicídio e a violência contra a juventude negra, especialmente nas periferias.

8. CULTURA E ESPORTES

Vamos recriar o Ministério da Cultura e implantar um Sistema Nacional de  Cultura para articular comitês estaduais de cultura. Vamos retomar o programa Cultura Viva, responsável pelos Pontos de Cultura, ampliar a presença da cultura nas redes sociais, incorporando tecnologias digitais. Vamos  apoiar os esportes, aumentando o investimento no Bolsa Atleta e estimulando a prática esportiva de crianças e jovens nas escolas. Vamos retomar  o conjunto de programas para a cultura, as artes, o esporte e o lazer, que  foram atacados e destruídos pelo atual governo.

9. DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA

Vamos enfrentar as discriminações e preconceitos estruturais da sociedade  brasileira, como o machismo, o racismo, a LGBTfobia, o capacitismo com  as pessoas com deficiência, os preconceitos geracionais com idosos e a juventude. Vamos recriar o Ministério da Mulher para combater a violência e assegurar direitos, inclusive o de receber mesmo salário dos homens  para as mesmas funções. Vamos recriar o Ministério da Igualdade Racial, com o fortalecimento de políticas de ações afirmativas para garantir direitos,  promover a inclusão, a participação, o reconhecimento e as novas oportunidades. Vamos recuperar o programa Viver Sem Limites, especialmente  o desenvolvimento e acesso às tecnologias assistivas para as pessoas com  deficiência. Garantiremos o cumprimento integral da Lei que promulgamos  para assegurar a mais ampla liberdade de religião e culto no Brasil. O futuro deve assegurar o respeito aos outros, a pluralidade e a diversidade,  essenciais à democracia.

10. REINDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL

Vamos construir uma estratégia nacional para avançar em direção à economia do conhecimento. O Brasil não precisa depender da importação  de respiradores, fertilizantes nem diesel e gasolina. Não precisa depender  da importação de microprocessadores, satélites, aeronaves e plataformas.  Nosso país tem potenciais que devem ser impulsionados nas indústrias de  software, defesa, telecomunicações e outros setores de novas tecnologias.  Nosso país tem vantagens competitivas que devem ser ativadas, especialmente nos complexos econômico-industriais da saúde, do agronegócio e do petróleo e gás.

Vamos iniciar a transição digital e trazer a indústria brasileira para o século XXI, com uma política industrial que apoia a inovação, estimula a cooperação público-privada, fortalece a ciência e a tecnologia e garante acesso a financiamentos com custos adequados. Os segmentos das micro, pequenas  e médias empresas, bem como das startups, receberão atenção especial. O futuro pertence a quem implantar a sociedade do conhecimento.

11. AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

O Brasil é um dos mais importantes produtores e exportadores de alimentos  do mundo. Para garantir e ampliar essa vantagem competitiva do país, vamos  compatibilizar a produção com a preservação de recursos naturais, porque isso  é necessário num mundo que enfrenta a crise climática e exige cada vez mais o  consumo de alimentos saudáveis. Investiremos fortemente na Embrapa e no financiamento ao agronegócio, aos pequenos e médios produtores e à agricultura familiar e aos assentamentos. Para aumentar a produção sem desmatamento, implantaremos o Plano de Recuperação de Pastagens Degradadas, que  somam cerca de 30 milhões de hectares. As taxas de juros serão reduzidas no  Plano Safra, no Pronamp e no Pronaf para produtores comprometidos com  critérios ambientais e sociais. Vamos reconstruir a Conab e estabelecer uma  política de preços mínimos para estabilizar os preços dos alimentos e garantir  comida na mesa das famílias. Vamos fortalecer o cooperativismo e a assistência  técnica aos pequenos e médios produtores.

12. POLÍTICA EXTERNA

Superar o isolamento internacional e reposicionar o Brasil como protagonista no mundo é nosso compromisso. Retomaremos a política externa soberana, altiva e ativa, promovendo o diálogo democrático e respeitando  a autodeterminação dos povos. Investiremos novamente na integração regional, no Mercosul e outras iniciativas latino-americanas, bem como no  diálogo com os BRICS, com os países da África, União Europeia e Estados Unidos. Romper o isolamento e retomar política externa exitosa é fundamental para ampliar o comércio exterior e a cooperação tecnológica, além  promover relações mais justas e democráticas entre os países.

Reafirmaremos e fortaleceremos nossos pactos internacionais relativos ao  desenvolvimento sustentável, em especial no marco da Convenção do Clima. Cultivaremos relações de mútuo respeito com todos os países.

13. DEMOCRACIA E LIBERDADE

O Brasil passa por um momento histórico em que os direitos, as instituições e as liberdades democráticas estão fortemente ameaçadas. Por isso,  reafirmamos nosso total compromisso com a democracia, pois somente a democracia pode garantir os direitos da cidadania, condições de vida com  dignidade para a população e as conquistas da sociedade.

O Brasil não pode mais ficar nas mãos de quem admira a ditadura militar e idolatra  monstruosos torturadores. O Brasil não pode ficar entregue a pessoas que questionam nosso processo eleitoral, procurando criar condições para golpes e aventuras totalitárias. O Brasil não pode estar submetido a um governante que agride  sistematicamente o STF e o TSE e já ameaçou fechar o Congresso. Um governo  que nega a transparência, o acesso público à informação e desestruturou os mecanismos de controle e combate à corrupção. Nossa democracia é fruto de décadas de luta, de mulheres e homens, pela nossa liberdade e pelos nossos direitos.

A reconstrução do Brasil exige uma gestão pública competente, responsável,  aberta ao diálogo e com a mais ampla participação da sociedade. Exige uma gestão da economia com credibilidade, responsabilidade e previsibilidade.

Já governamos este país. Com responsabilidade fiscal, reduzimos a dívida  pública, controlamos a inflação e acumulamos um expressivo volume de reservas cambiais que até hoje são fundamentais para a estabilidade da economia. Essas condições foram essenciais para o Brasil crescer o dobro da  média internacional em nosso governo e enfrentar a maior crise financeira  mundial da história recente.

A política fiscal responsável deve seguir regras claras e realistas, com compromissos plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação. O sistema tributário não deve  colocar o investimento, a produção e a exportação industrial em situação desfavorável, nem deve penalizar trabalhadores, consumidores e camadas  de mais baixa renda. É possível combinar responsabilidade fiscal, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável – e é isso que vamos fazer,  seguindo as tendências das principais economias do mundo.

Ao longo dessa campanha, vi a esperança brilhando nos olhos do nosso  povo. A esperança de uma vida melhor num país mais justo. O Brasil precisa de um governo que volte a cuidar da nossa gente, especialmente de quem  mais necessita. Precisa de paz, democracia e diálogo. É com a força do nosso legado e os olhos voltados para o futuro que dirijo esta carta ao povo brasileiro. Que Deus nos ilumine nessa caminhada.


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