Política

Brasil chega a 400 mil mortos nesta 5ª, 'grande dia' para a necropolítica

Ontem fez um ano que Bolsonaro, frente a um questionamento por mortes, disse: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?

  • quinta-feira, 29 de abril de 2021

Foto: DivulgaçãoHoje mais de 400 mil mortos

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no facebook

Mantendo o ritmo de óbitos registrados diariamente, Brasil vai ultrapassar as 400 mil mortes nesta quinta (29). Com os 3.019 óbitos desta quarta, já chegamos a 398.343. Será um 'grande dia' para a necropolítica de Jair Bolsonaro, uma vez que a marca é o resultado mais palpável de sua estratégia estúpida de espalhar o vírus para atingir imunidade de rebanho e acelerar o fim da pandemia.

A imunidade coletiva não veio e, segundo especialistas, nem chegará do jeito que o presidente pensa. Mas o efeito colateral dessa estratégia assassina, as centenas de milhares de corpos, está aí - apesar de muitos bolsonaristas acharem que pedras foram sepultadas no lugar de pessoas.

Nesta quarta, faz um ano que Bolsonaro, frente a um questionamento por mortes, disse: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre". Parece até que foi hoje. Nada mudou.

Todos os dias chegam notícias de pessoas queridas que se foram por causa de uma doença evitável se tivéssemos governo. E todos os dias me pego pensando o que será, nos próximos anos, dos filhos que elas deixaram e das biografias que elas não terminaram. E todos os dias sinto uma tristeza ao lembrar que o carrasco não tomou o poder pela força, mas foi eleito, avisando a todos que a morte teria centralidade em seu governo. E todos os dias agradeço pelo fato de que ainda não perdi a capacidade de me espantar frente a uma parte da população que acredita em cloroquina, mas não em vacina.

É difícil explicar para alguns amigos jornalistas de fora do país como é viver sob um governo que persegue a morte o tempo inteiro e das mais diferentes formas.

Onde um presidente da República se diverte de jet ski quando o Brasil atinge os primeiros 10 mil mortos por covid. Onde um ministro da Economia reclama do aumento da expectativa de vida dos brasileiros, afirmando que, desse jeito, a conta pública não vai fechar. Onde um ministro do Meio Ambiente defende sem nenhum pudor que as mortes da pandemia sejam usadas como cortina de fumaça para impor o desmonte da proteção ambiental, condenando esta e as futuras gerações. Onde membros da cúpula do governo elogiam publicamente um notório torturador e assassino da ditadura, chamando-o de herói.

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