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Bolsonaro carregava acusado de apalpar funcionárias da Caixa a todo lugar

Precisamos torcer para que ninguém siga o exemplo do presidente da República.

Foto: Reprodução/GoogleBolsonaro e Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica
Bolsonaro e Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica


Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook 

Jair Bolsonaro fazia questão de apresentar Pedro Guimarães como exemplo de servidor público a ser seguido. Após gravíssimas denúncias de assédio sexual por funcionárias do banco (incluindo pressão para sexo, apalpadas em bundas e seios e propostas de suruba), precisamos torcer para que ninguém siga o exemplo do presidente da República.

Uma rápida pesquisada no Google com o nome dos dois fornece centenas de imagens em que ambos aparecem sorridentes, em efusivos abraços, trocando confidências - que nem imaginamos sobre o quê.

Mas para além de uma relação de amizade e admiração, Guimarães preside a Caixa que foi a operadora do auxílio emergencial - benefício que garantiu a Bolsonaro a sua maior aprovação como chefe do Poder Executivo, em 2020, durante o pagamento das seis parcelas de R$ 600.

(O grande responsável por isso foi, na verdade, o Congresso Nacional, pois o ministro da Economia, Paulo Guedes, queria pagar apenas 200 mangos, mas não é isso que vai aparecer nas peças de campanha eleitoral, claro.)

Ao mesmo tempo, a Caixa é a operadora do Auxílio Brasil, o Bolsa Família rebatizado. Aliados do presidente tentam aprovar um aumento no benefício de R$ 400 para R$ 600 mensais, mas só até o final do ano. Até porque, como sabemos, a fome dos brasileiros magicamente vai se dissolver com os rojões do Reveillón.

Com a entrega de notícias positivas para o governo, Pedro Guimarães chegou a ser cotado, entre o final do ano passado e o início deste, para vice na chapa de Bolsonaro à reeleição. O próprio presidente não descartou a possibilidade, como na entrevista que concedeu em janeiro à Jovem Pan. Com isso, Guimarães se movimentou bastante para demonstrar alinhamento ideológico com o presidente. A vaga deve acabar ficando com o general Braga Netto.

O presidente da Caixa era um dos maiores frequentadores das lives presidenciais, às quintas-feiras, muito mais até do que o próprio Paulo Guedes. Em uma delas, afirmou ter 14 armas, defendendo o porte. Viajava tanto com Bolsonaro pelo país que acabou sendo chamado de "pingente" e "sombra".

Agora, a "sombra" precisa desaparecer, pois é acusada de usar seu cargo para fazer pressão por sexo, apalpadas em bundas e seios e propostas de suruba, levando a uma investigação do Ministério Público Federal.

Considerando que, entre as mulheres, o ex-presidente Lula tem 49% das intenções de voto e Jair Bolsonaro, 21%, segundo o Datafolha, os crimes dos quais a sombra é acusada não ajudam em nada.

Bolsonaro tem 21% de votos entre mulheres, enquanto Lula ostenta 49%

Já entre os homens, Bolsonaro aponta 36%, Lula, 44%. No total, Lula venceria no primeiro turno, alcançando 47% e todos os demais, 41% - dos quais Bolsonaro contaria com 28%.

Apoiadores do presidente têm defendido que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ajude a melhorar a imagem do marido, principalmente entre os evangélicos. A questão é que, para tanto, ela teria que operar um milagre, considerando que o presidente e seus aliados continuam dando provas de seu machismo.

Há uma parcela das mulheres que reprova Bolsonaro por seu comportamento historicamente misógino e violento. Quando parlamentar, ele afirmou, por exemplo, à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) que ela não "merecia" ser estuprada por ele. Também disse que teve uma filha mulher porque deu uma "fraquejada".

Isso não mudou quando assumiu o governo, pelo contrário. Tivemos ataques misóginos e sexistas contra jornalistas, como aqueles contra a repórter Patrícia Campos Mello, que serviram de comando para um assédio violento por parte de seu rebanho. Aliás, o Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou hoje a condenação contra Bolsonaro pelos ataques contra ela.

Além disso, a política de liberação de armas de Jair tem efeito negativo junto ao público feminino, apesar de conseguir bons resultados junto a homens inseguros. E seu negacionismo na pandemia de covid-19, que ajudou o país a atingir 670 mil mortes, também é repudiado mais por mulheres do que homens.

Por fim, os impactos da crise econômica se fazem sentir mais entre as mulheres (principalmente as negras) do que entre os homens, de acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE. Contudo, agora ele administra um país com uma inflação anual de 12,04%, uma queda de 9,34% no rendimento médio dos trabalhadores desde janeiro de 2020 e um botijão de gás que passa de R$ 150 em muitos lugares.

Não apenas porque elas foram atingidas em cheio pelo desemprego e pela queda de renda, mas também porque muitas delas são as responsáveis pelo bem-estar de suas famílias. É a crise econômica, que joga 33 milhões de pessoas para a fome, e não questões comportamentais e culturais que tira o sono de dezenas de milhões de mulheres diariamente.

Em 4 de fevereiro, Bolsonaro soltou uma ironia para os seus fãs na porta do Palácio do Alvorada, afirmando que "segundo pesquisa, as mulheres não votam em mim" - reforçando a desconfiança que sempre jogou sobre levantamentos de opinião que lhe são desfavoráveis.

Mulheres votam sim em Bolsonaro, mas elas, segundo o Datafolha, são menos da metade das que escolhem Lula. E isso não será resolvido tão facilmente porque o problema não é apenas o que o presidente e seus aliados deixam de fazer, mas o que eles, infelizmente, fazem.

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