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Bancos: recorde de lucros e de demissões

Bancos: recorde de lucros e de demissões

Enquanto se registra o maior lucro de uma instituição financeira na história do Brasil - Banco Itaú, com R$ 24,8 bilhões - temos também um saldo negativo recorde de demissões: quase 19 mil postos de trabalho fechados no setor bancário só em 2017. A conta não fecha em favor da sociedade.
Os três maiores bancos privados do Brasil – Itaú, Bradesco e Santander – tiveram, juntos, lucro líquido de R$ 53,8 bilhões. A cifra representa um crescimento de mais de 15% em relação a 2016 e de 127% em relação a 2013.
Mas quando se fala em postos de trabalho, o setor foi um dos que mais demitiu, conforme observa Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, em entrevista à Revista Fórum. “O setor bancário fechou 17.905 postos de trabalho em 2017, de acordo com dados do Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados]. Para ajudar o Brasil a crescer, o setor bancário precisa começar a retribuir a sociedade, praticando juros civilizados, elevando a oferta de crédito, melhorando o atendimento à população através de contratações e contribuindo para melhorar as relações de trabalho e a estrutura salarial num país que ainda figura no topo do ranking mundial de desigualdade de renda”, diz.
A Revista apontou como fator fundamental para compreender os lucros altos dos bancos brasileiros os juros de empréstimos. “O que explica [os altos lucros] é o rentismo. Os lucros dos bancos são muito grandes por conta do spread: o que eles gastam para captar é muito inferior ao que eles cobram dos clientes. Quanto maior é a crise, maior é o risco, mais ele cobra. Se o país está em crise, eles emprestam menos, mas ganham em outras frentes”, indica Vivian Machado, mestre em Economia Política e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O blogueiro Mauro Lopes foi além e fez outra contabilidade: "2017 foi um dos piores anos da história para o povo brasileiro: mais de 12 milhões de desempregados, a volta do terror da fome, redução ou fim de programas sociais (veja aqui também). Para os banqueiros e seus associados, os rentistas, foi uma festa de gala: o lucro dos três maiores bancos no ano passado foi de R$ 53,8 bilhões, mais de duas vezes o orçamento do Bolsa Família para 2018, de R$ 28,7 bilhões. Em cinco anos, o lucro dos bancos saltou nada menos que 127%", declarou no blog Caminho para Casa (http://outraspalavras.net/maurolopes/).
Mauro Lopes observa que isso se deu ao mesmo tempo em que o Bolsa Família sofreu um corte de R$ 1 bilhão e seu orçamento, o primeiro em termos nominais em desde sua criação em 2003 e o salário mínimo foi estabelecido em R$ 954,00, retornando ao mesmo valor real de janeiro de 2015. "De um lado, um punhado de famílias brasileiras que controlam o Itaú e o Bradesco e espanholas que controlam o Santander, além deles, mais 121 mil sócios do Itaú e 321 mil do Bradesco -não some os dois números, pois milhares são sócios dos dois bancos. Esse grupo embolsou os quase R$ 54 bilhões. De outro, as 12,7 milhões de famílias participantes do Bolsa Família -que, de fato, beneficia nada menos que 21% da população do Brasil (cerca de 40% da população), assim como as 48 milhões de pessoas que têm seus ganhos referenciados no salário minimo", compara.
Enquanto os bancos e os rentistas auferem lucros sobre lucros, o blogueiro afirma que mais de 60 milhões de brasileiros adultos estão negativados por conta dos juros cobrados pelo sistema financeiro, como apontou recentemente o economista Ladislau Dowbor, autor de A Era do Capital Improdutivo. "Não haverá democracia no país sem que esta concentração da renda nacional nas mãos dos banqueiros e dos rentistas seja posta abaixo", finaliza.

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