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Armar professores não evitaria massacres como o de Santa Catarina

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) aproveitou para reforçar a defesa o porte de armas de fogo ao transmitir seu pesar pelo massacre

Foto: DivulgaçãoO jovem autor do massacre em Santa Catarina
O jovem autor do massacre em Santa Catarina

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook

Logo após um jovem de 18 anos matar, a golpes de facão, três crianças, uma professora e uma funcionária em uma creche, em Saudades (SC), nesta terça (4), postagens circularam em redes sociais e aplicativos de mensagens afirmando que isso não teria acontecido se professores e funcionários estivessem armados.

Não é a primeira vez que casos de massacres em escolas são usados por quem milita pela flexibilização do Estatuto do Desarmamento. Isso também aconteceu, por exemplo, após o massacre de oito pessoas cometido por dois ex-alunos, em 2019, em uma escola em Suzano (SP). Ou no caso do rapaz que tinha raiva de garotas e assassinou 12 jovens, que tinham entre 12 e 14 anos, em uma escola em Realengo, na capital fluminense, em 2011.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) aproveitou para reforçar a defesa o porte de armas de fogo ao transmitir seu pesar pelo massacre. "Sempre devemos lembrar: a única maneira de parar um malfeitor armado é um homem de bem armado", afirmou no Twitter.

A chacina de Saudades só não foi maior porque o assassino foi impedido pelas professoras, que perceberam o que estava acontecendo e trancaram as crianças nas salas, e por dois homens, que o desarmaram com barras de metal.

A defesa de mais armas dentro do espaço escolar é considerada como ineficaz e perigoso por Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"Pensar que colocar uma arma dentro da escola seria um elemento de proteção para as crianças, é loucura. Isso não vai proteger alunos e professores em situação de ataque", afirmou à coluna. Ela defende que a proteção seja feita por policiais e agentes de segurança treinados, não por civis armados.

De acordo com ela, a avaliação de policiais sérios, ponderados e esclarecidos é que armas são um ótimo instrumento de ataque, mas um péssimo para a defesa. Tanto que 70% de agentes de segurança morrem em horário de folga, ao serem abordados para roubo, mesmo armados.

O delegado que apura o caso de Santa Catarina, Jerônimo Marçal, afirmou que o assassino queria "fazer o maior numero de vítimas possível", o que seria viável se ele tivesse acesso a armamento de repetição.

"Se o jovem tivesse acesso a um fuzil, teria matado todas as crianças, as professoras, os funcionários. É um pouco do que acontece recorrentemente em escolas nos Estados Unidos, onde ataques com armas pesadas são causados, com frequência, por pessoas com transtornos", afirma a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Os decretos presidenciais que flexibilizam o acesso a armas de fogo e munição têm sido um dos assuntos mais polêmicos da gestão de Jair Bolsonaro. No momento, eles estão sendo analisados no Supremo Tribunal Federal, em pedido de vistas do ministro Alexandre de Moraes.

Eles facilitam tanto o acesso de armas de baixo calibre quanto de espingardas e fuzis para caça, treino e proteção de propriedade rural.

E o crescimento na circulação de armas também leva ao aumento de seu comércio ilegal no país.

"Quanto mais armamentos você tiver e mais pesado eles forem, mais letal você vai ser. Quando há uma politica de estado para ampliar armas e calibres em circulação, ela incentiva que conflitos sejam solucionados com essas armas de fogo", avalia.

Em determinados estados norte-americanos, que servem de referência para os defensores do livre acesso às armas no Brasil, jovens podem comprar fuzis em varejistas, sem dificuldade.

As razões do crime precisam ser esclarecidas pela Polícia Civil, mas a hipótese mais provável, até agora, é a de um surto psicótico. Nesses casos, não adianta propor aumento de pena. Para muitos dos massacres cometidos em escolas, explicar aos autores que eles podiam ser presos ao cometerem tais atos simplesmente não teria feito diferença, lembrando que, não raro, tentam se matar ao final.

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