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A novela Pantanal e questões políticas

Dira Paes e Osmar Prado falam da novela e de questões da política

Foto: DivulgaçãoOsmar Prado
Osmar Prado

 

Brasil de Fato - Para o ator Osmar Prado, que faz o personagem Velho do Rio na novela Pantanal, da Rede Globo, iniciativas efetivas do governo federal voltadas para a preservação ambiental no Brasil só serão possíveis em uma eventual nova gestão. "Uma política mais consequente só poderá ser realizada ao final das eleições de outubro — que serão um plebiscito —, se de fato fizermos a escolha de uma frente democrática, progressista, liderada pela coligação do presidente Lula", diz, em entrevista ao Brasil de Fato.

Sobre a possibilidade de a novela, que trata de temas ambientais, aumentar a conscientização sobre a importância da preservação, ele aponta que formatos assim têm limites. "Se pode levar a uma conscientização eu não sei, um folhetim é um folhetim, eu me lembro que quando nós fizemos Renascer, discutia-se a questão da reforma agrária e uma das discussões do Tião Galinha com o padre era: 'mas eu não sou filho de Deus? Se sou filho de Deus, não tenho direito a um pedaço de terra? Ou será que os outros são mais filhos de Deus do que eu?'", lembra. "São perguntas que o povo se faz, por que poucos têm tanta terra e uma grande maioria não tem nada?"

"Mas me sinto muito honrado em fazer o Velho do Rio e acho que posso contribuir com a minha interpretação e com as coisas incríveis que o personagem diz para a melhoria do meio ambiente", pontua.

Além da questão do formato, Osmar Prado atenta para o contexto político brasileiro, que dificulta o debate e a própria difusão da cultura. "Não creio que na atual conjuntura e com esse governo à frente, de extrema direita, a gente possa abordar esse tema em profundidade. A primeira coisa que o capitão [Bolsonaro] fez foi extinguir o ministério da Cultura e relegá-lo a uma simples secretaria, com uma passagem inclusive desastrosa de algumas pessoas que assumiram a pasta de secretário até a atual gestão, e deu no que deu."

Mudanças no Pantanal

O ator também alerta para as mudanças que ocorreram no bioma Pantanal entre a primeira versão da novela, exibida pela TV Manchete em 1990, e a atual. "Tenho impressão de que quando foi feita a primeira versão da novela Pantanal, na década de 90 tinha mais água. Hoje nós vemos aqui quando andamos pelas fazendas e nas nossas passagens por vários pontos do Pantanal, que ele praticamente secou", conta.

"O clima mudou bastante e o gado sofre, os animais sofrem, os jacarés se afastam dos locais de origem para buscar água para a sobrevivência e outras tantas aberrações mais produzidas por esse desastrada gestão desse capitão que foi eleito com 57 milhões de votos." Mesmo diante do cenário, ele se mostra esperançoso com uma virada. "Espero que a economia mude a partir da posse do novo governo e que a gente consiga reconstruir e correr atrás do prejuízo que infelizmente o Brasil sofre hoje."

Foto: DivulgaçãoDira Paes
Dira Paes

Intérprete da personagem Filó na novela Pantanal, a atriz Dira Paes conta, em entrevista ao Brasil de Fato, que é possível perceber nas locações em que a novela é gravada os efeitos da devastação na região. E não é à toa: segundo pesquisadores do MapBiomas, a área coberta por água e campos alagados foi reduzida em 29% entre 1985 e 2020.

"Sobre os efeitos da degradação ambiental, a gente percebe que a estiagem demonstra isso. A ausência de água na superfície, a terra rachada, a secura mais aparente, mais propícia a um fogo que se espalha mais rapidamente nessa vastidão que é o Pantanal. Isso faz com que o Pantanal esteja em constante ameaça”, relata a atriz.

Dira acredita que alguns aspectos da trama da novela podem ajudar a despertar o interesse das pessoas em relação ao meio ambiente. "Acho que é muito recompensador para o artista quando ele consegue fazer um trabalho que ecoa sobre um tema. No caso, as questões levantadas pela novela Pantanal são muito atuais, mobilizam e provocam discussão, fazendo com que a gente consiga de alguma forma colaborar com uma conscientização nacional sobre a questão ambiental", aponta.

E sobre os temas levantados, ela destaca um que deveria ser prioritário: a reforma agrária. "Essa é uma das pautas importantes que a novela toca, a questão da reforma agrária, que tem sido adiada por anos e se faz tão urgente justamente para fazer com que a consciência ambiental seja privilegiada, sendo pauta mundial. E o Brasil tem que ser pioneiro por conta da questão fundiária, sobre a qual estamos falando há muitos anos", pondera.

A atriz também avalia de forma negativa sobre a condução das iniciativas da área ambiental no governo Bolsonaro. "As políticas atuais não atendem a nenhum dos conceitos voltados para que o meio ambiente seja preservado. A gente vê, ao contrário, políticas que fazem com que cientistas sejam destituídos das suas convicções e de seus estudos, e que terras e áreas protegidas sejam invadidas", diz. "Vemos como as organizações não governamentais são tratadas e o desprezo com os direitos humanos. Isso é a gravidade que temos convivido com o atual governo."

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