Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Uma disputa entre ministros e presidente pelo título do mais dantesco

Foto: Jornal de BrasiliaReunião dos dantescos
Reunião dos dantescos

 

O reality show made in Brasília mostrou aos brasileiros as trevas e a barbárie onde mergulharam a política no Brasil. Num espetáculo deprimente, recheado de linguagem chula (42 palavrões em quase 2h), assédio moral e vociferações insanas, falta de decoro, crimes de responsabilidade (p.ex. “parecer, caneta. Parecer, caneta”), a reunião ministerial do governo Jair Bolsonaro (22/04), à sua imagem e semelhança, “deu de baciada” no uso da ilegalidade como estratégia de ação, na ética, na moral, no respeito às instituições e à democracia.

Para o anti-ambientalista ministro do meio ambiente Ricardo Salles deve-se aproveitar a pandemia mundial de coronavírus e a desatenção da mídia, independentemente das milhares mortes, e, deliberadamente, acelerar o desmonte das instituições ambientais, através de ações ilegais na forma de crime de responsabilidade (CF/88, art. 85). A princípio deselegante, o ministro anti-ambiental defende passar “a boiada” e “mudar” as regras e normas de proteção ambiental, enquanto a atenção da mídia está voltada para a COVID-19. Cujo objetivo é “ir passando a boiada” com “parecer, caneta; parecer, caneta”, burlando a legalidade para atender os interesses daqueles que promovem desmatamento e grilagem no Brasil.

Sem qualquer decoro, em tom tresloucado e cometendo “aparente crime de injúria” – um crime contra a honra consistente em ofender a dignidade ou o decoro de alguém (Código Penal, art. 140) –, o incivil ministro da educação Abraham Weintraub, na falta de uma política pública de educação para apresentar, disparou: “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”. Na dúvida axiomática, nos resta apurar se o protervo ministro não sabe o que diz ou tem a certeza de que a carapuça veste os membros do STF.

Na sessão ministerial de horrorosidades, a disputa entre os ministros pelo título de mais dantesco  no cometimento de infrações político-administrativas no desempenho da função (CF/88, art. 85), teve  um páreo duro, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves ameaçou “prender governadores e prefeitos” por algumas das medidas adotadas para enfrentamento à pandemia da COVID-19. E acrescenta, com falsa sapiência cloroquinada, que tais medidas é “a maior violação de direitos humanos nos últimos trinta anos”.

Contudo, como um negacionista averso ao conhecimento, o presidente Jair Bolsonaro – para quem o patrimônio arqueológico brasileiro é “um cocô petrificado de índio” – se supera ao desqualificar outros gestores – os "bostas dos prefeitos e governadores" –, exigindo armar a população para que vá às ruas "contra estes bostas" (Lei 1.802, art. 4). Trata-se de um governo armamentista com um sistema de informação privado, paralelo ao sistema oficial, para receber informações sigilosas. Ou seja, uma rede paralela de obtenção de informações (legais?) sem protocolo e sem órgãos de controle.

Em absoluto, a reunião ministerial no Palácio do Planalto tratou de problemas nacionais urgentes nem do realinhamento de ações estratégicas de governo, mas se constituiu num reality show de gosto duvidoso, dando de baciada na impessoalidade, na moralidade e no decoro que o cargo requer. Infelizmente, hoje, o Brasil é uma nação perversamente dividida entre “os cloroquinas” e “os tubaínas”, com uma sociedade prenhe de autoritarismo, intolerância, raivosa, sem credibilidade estrangeira, sem segurança jurídica e sem piloto automático, cujos panelaços contra o presidente nas capitais do país é pouco diante da gravidade dos fatos.

Na sessão ministerial de horrorosidades, a disputa entre os ministros pelo título de mais dantesco  no cometimento de infrações político-administrativas no desempenho da função

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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