Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Um Rei nu e desatinado

Foto: Gazeta do PovoMandetta caiu
Mandetta caiu

 

Depois de sentir o ego ferido, instigado pelo “gabinete do ódio” e dominado por uma crise de autoimagem, no dia em que o Brasil completa 50 dias de enfrentamento à pandemia de COVID-19, que o país registra o triste número de duas mil mortes pelo coronavírus, o presidente do Brasil – apontado pelo jornal americano The Washington Post como “o pior líder mundial a lidar com coronavírus” – demitiu o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta, contrariando a Ciência, a opinião pública, o bom senso e a habilidade política.

Pensando no grande desafio que o sistema de saúde do Brasil irá enfrentar no pico da pandemia de coronavírus, na ignorância sanitária do falso líder político e a falta de estrutura hospitalar do pais, a demissão do ministro da saúde é um grande equívoco político, cujas consequências sociais podem ser dramáticas – principalmente, para a população brasileira mais vulnerável.

Ainda mais quando o motivo aparente da demissão é o fato do ministro Mandetta defender o isolamento social. Pois, o novo ministro da saúde, também, defende o isolamento horizontal, seguindo os protocolos internacionais. O presidente acredita que apenas o grupo de risco deveria ficar em casa, enquanto o resto da população deveria continuar trabalhando para evitar uma crise econômica.

Para o novo ministro da saúde, o oncologista Nelson Teich, que foi consultor informal da área da saúde na transição para o governo Bolsonaro, o isolamento horizontal é fundamental, pois “o isolamento vertical tem fragilidades”. Aparentemente, como o ministro Mandetta, Nelson Teich atua com base em fundamentos técnicos, em ciência e os padrões da Organização Mundial de Saúde, seguidas pela maioria dos países que têm enfrentado o coronavírus. Tanto que aqueles que não enfrentaram a pandemia de forma inteligente e responsável – como fez Mandetta – estão contando os seus mortos e buscando subterfúgios para mascarar seus equívocos.

No pronunciamento do presidente do Brasil ainda há a insistência na “flexibilização do isolamento social”, enquanto o novo ministro da saúde é objetivo: “o isolamento horizontal é uma estratégia que permite ganhar tempo para entender melhor a doença e para implantar medidas que permitam a retomada econômica do país”.

Infelizmente, pela lógica política do presidente do Brasil somente ficaram no governo os asseclas e colaboradores lambe-botas, que se disfarçam de “amigo do povo”, se vestem de cinismo e cedem às pressões políticas e capitalistas em detrimento bem-estar da população mais vulnerável. Um governo federal que excita o ódio, divide a sociedade, ameaça a autonomia dos governos estaduais e municipais é um rei nu e desatinado. 

No contexto do momento, com base em dados científicos sobre a pandemia de coronavírus, entende-se que defender a retórica de flexibilização do isolamento social a serviço do capital, significa autorizar o genocídio no Brasil. Assim, para se manter no cargo os subordinados têm obrigação de agradar a ala ideológica, o “gabinete do ódio” e ter um alinhamento com o inepto do Palácio do Planalto, independente da razão.

Porém, como exclamou Mandetta na saída: – “Não tenham medo”. Pois, no contexto da pandemia de coronavírus, a ciência é a luz da verdade e exige a transparência, que a “caverna do Planalto” não suporta nem entende. A atitude temerária de demitir um ministro da saúde com 70% de aprovação popular, antes do pico da pandemia de coronavírus, é um risco político altíssimo; é areia movediça sob os pés de um falso líder e perigo iminente ao povo.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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