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Jornalista

Sérgio Fontenele

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Tudo bem, se a censura é para quem critica Bolsonaro

Foto: google imagemHumorista Gustavo Mendes
Humorista Gustavo Mendes

O incidente envolvendo o comediante Gustavo Mendes, durante show realizado em Teófilo Otoni (MG), no final de semana passado, é emblemático do momento horroroso vivido no País, onde o ataque à liberdade de expressão e a tentativa de censura têm sido promovidos por bolsonaristas. Seduzidos por uma extrema direita, esses grupos, espalhados pela população, seguem uma orientação ideológica e anímica, na qual é preciso impor, a qualquer custo, um pensamento único, totalitário e repressor dos que discordam dessa cartilha.

Trata-se de um segmento minoritário – ao contrário do que tenta aparentar –, mas age sob o incentivo de um governo cujo presidente e seu núcleo de poder mais próximo têm desprezo pelo estado democrático de direito e tentam, subterraneamente, criar as condições para impor um regime de exceção. Isso acontece sob um ambiente de letargia, paralisando todas as instituições, inclusive a oposição, com dificuldades significativas de encontrar respostas para lidar com um governo desse tipo.

As tentativas de cercear a liberdade de expressão, se contrária à linha político-administrativa do atual governo, acontece em todo o território nacional, onde se procura estabelecer uma censura a quem critica o presidente Jair Bolsonaro. Isso se aplica a jornalistas e artistas, no exercício profissional ou da cidadania, ou no pleno gozo de seus direitos civis. Além do humorista Gustavo Mendes, já foi atacada gente como Caetano Veloso, Chico Buarque, o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, entre tantos outros.

O retorno das fogueiras?

Por enquanto, ainda não se viu, em praça pública, a queima de livros, quadros ou esculturas de autores considerados inimigos do governo. Por enquanto… Mas pelo rumo que os acontecimentos estão tomando, as fogueiras não devem tardar, ao melhor estilo nazista. Esse comportamento irracional é promovido direta e indiretamente pelo governo, ao bloquear ou não liberar, por exemplo, recursos para peças e filmes como Mariguella, que teve dois pedidos de comercialização negados pela Agência Nacional de Cinema (Ancine).

Mariguella, por se tratar da cinebiografia do famoso guerrilheiro comunista, assassinado pelos órgãos de repressão da ditadura militar, foi objeto de retaliação de um governo que remete à ditadura e a celebra, ora negando sua existência, ora vangloriando seus feitos e efeitos antidemocráticos e terroristas. Não seria necessariamente uma surpresa se surgisse uma produção cinematográfica, financiada com recursos públicos federais, sobre a vida e obra do agora “herói nacional” Carlos Alberto Brilhante Ustra, o maior dos torturadores.

Além de usar a máquina pública, as instituições do estado brasileiro, para implantar políticas de perseguição e cerceamento à liberdade de expressão, o governo estimula, incentiva, promove, através de sua máquina de propaganda, notadamente nas redes sociais, o mesmo comportamento por parte de seus seguidores. Não importa se a economia está em recessão ou estagnação, se há mais de 12 milhões de desempregados e outros 30 na informalidade, trabalhando sem salários dignos e quaisquer direitos trabalhistas. Está tudo bem.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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