Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Queima de arquivo

Foto: A TardeA quem interessava a morte de Adriano ?
A quem interessava a morte de Adriano ?


Ja faz quase uma semana da morte do ex-policial militar e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), Adriano Magalhães da Nóbrega, durante uma operação policial que tinha o objetivo de capturá-lo no município de Esplanada, na Bahia. Apesar do tempo as circunstâncias da morte daquele que era apontado por muitos como chefe da milícia carioca “Escritório do Crime”, ainda são nebulosas e as informações duvidosas.

Na ótica do seu advogado e de sua esposa, a morte do ex-capitão Adriano Nóbrega seria uma queima de arquivo, em função do seu envolvimento com a milícia e suposta participação no assassinato da vereadora Marielle Franco. Estranhamente, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido - RJ), que mantinha uma relação próxima com o ex-capitão, foi a público afirmar que estariam querendo “sumir com evidências do brutal assassinato do capitão Adriano”.

Dentre os aspectos que chamam a atenção está o fato de que o ex-capitão estava foragido há mais de um ano, depois que foi acusado de chefiar a milícia “Escritório do Crime”, alvo das Operações “Os Intocáveis” e “Os Intocáveis II”. Para evitar rastreamento, Adriano usava vários celulares com chips descartáveis, documentos falsos e era um homem discreto. Provavelmente foi encontrado através do serviço de inteligência policial e/ou do uso de informantes infiltrados.

Outro aspecto intrigante é o de Adriano escolher um lugar no Nordeste, aparentemente desconhecido por ele, para se esconder. Suspeita-se que o “ex-capitão” estivesse lavando dinheiro do crime na região por meio de uma rede de contatos. E ainda, que o miliciano teve apoio de terceiros, incluindo informantes de dentro da Polícia, para fugir e se esconder na Bahia, pois é pouco provável que uma pessoa se abrigasse e se deslocasse com sucesso por uma região desconhecida sem algum tipo de apoio logístico de um nativo, que conhecesse bem o lugar.

Depois de fugir de Sauípe e se abrigar numa fazenda em Esplanada, o ex-capitão, ao saber da aproximação da Polícia, fugiu para uma casa vazia do vereador Gilsinho de Dedé (PSL), que alegou não conhecer o fugitivo. O fato é que num suposto confronto com a polícia, o ex-capitão Adriano foi morto e a sua morte prejudicará, diretamente, outras investigações pela quantidade de informações sobre crimes que ele provavelmente detinha.

Daí, a forte suspeição de que a morte do ex-capitão Adriano da Nóbrega seja uma queima de arquivo. Além disso, o seu corpo tinha marcas de tiro à queima-roupa, sugerindo uma execução. E, inexplicavelmente, se o ex-capitão Adriano estava cercado e sozinho, por que não se optou por esperar, negociar, vencê-lo pelo cansaço, levando-o à rendição ao invés de matá-lo?

Segundo o advogado Paulo Emílio Catta Preta, o seu cliente já tinha lhe dito que não se apresentaria à Polícia porque seria morto na prisão. Por que ele tinha essa certeza? Por que a mãe e os irmãos do ex-capitão queriam cremar o cadáver, se toda morte violenta indica a necessidade de preservação do corpo e uma autopsia pode ajudar na elucidação da causa morte?

O fato é que no caso do ex-capitão Adriano da Nóbrega, a cremação do cadáver impossibilitaria uma exumação para um novo exame cadavérico. E, aparentemente, a morte (ou a execução?) do ex-milicano Adriano Magalhães da Nóbrega, longe de solucionar um problema, gerou muito mais turbulência e desconfianças no mundo criminal, e até da política. Afinal, a teia de relações milicianas do ex-capitão envolve uma plêiade de contatos públicos e privados.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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