Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Qualificar o debate político

Foto: DivulgaçãoDebate

Existe uma relação entre Ciência e Política, tendo em vista o bem público, o progresso da Ciência e a qualificação dos debates políticos. Conforme o professor emérito da UFC Tarcísio Pequeno, "a política interfere em todos os setores da nossa vida, e a ciência deve alimentar, deve influir e orientar as decisões políticas" – ou seja, interdependência. Assim, a ciência é, também, política e, mesmo que não se goste de política, tudo na vida em sociedade depende de decisões políticas.

Desde a Grécia antiga, o conhecimento é base importante para o exercício da Política. O filósofo Platão em seu livro República afirmou que quem conhece a verdade consegue dirigir a Pólis, ou seja, a cidade. Assim, a arte da Política não poderia se negar a arte do diálogo, da dialética. Pois, “sem fatos objetivos para opor aos relatos arbitrários dos manipuladores de plantão, a crítica política se converte em mais um relato; sem verdades com as quais alimentar o diálogo democrático, o próprio diálogo perde seu caráter humanizador e se converte em uma expressão emotiva vazia de conteúdo cognitivo” (MENNA, 2020).

Nesse sentido, a qualificação do debate político é imprescindível para nivelar as decisões políticas nas urnas e nos governos. Para tanto, as discussões devem ser bem-informadas pelo melhor conhecimento existente, sem fake news e autoengano. Conforme Michael Lynch (2001), “em um mundo onde as coisas se movem tão rápido a ponto do real ser difícil de distinguir do virtual, entender a verdade parece mais relevante do que nunca”.

Para Max Weber (1864-1920), a “política” é a participação no poder ou a luta para influir na distribuição do poder. “Quem participa ativamente da política, luta pelo poder quer como um meio de servir a outros objetivos, ideais ou egoístas, quer como 'o poder pelo poder', ou seja, a fim de desfrutar a sensação de prestígio atribuída ao poder”.

Comumente, em anos de eleições – municipais, estaduais ou presidenciais –, uma parte da população brasileira tende a discutir sobre os fatos políticos: uns clamam, outros reclamam e muitos demonizam a política e os políticos por diversos problemas. Porém, quando os debates se restringem entre analfabetos políticos, inevitavelmente, o nível de criticidade é baixo e o de agressividade é alto, pois a base dos argumentos é o senso comum. E, conforme Émile Durkheim (1978), “as formas de pensar não são independentes da forma como os homens organizam suas vidas”.

Para o pensador Bertold Brecht (1898-1956), “a ignorância política gera o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”. Nesse contexto, a ausência de uma consciência política dos eleitores e o uso do voto para satisfazer os interesses individuais em detrimento dos interesses coletivos se tornam uma armadilha perigosa ao povo.

O nazismo, o fascismo e outras formas autoritárias de poder, quando chegam ao governo, governam para a ruptura da sociedade – étnicas, sociais, religiosas, raciais etc. –, dividindo a população entre “nós” e “eles”, ou “situação” e “oposição”, ou “bem” e “mal”, onde o ódio ao outro e ao diferente molda a práxis política - a vontade de se materializar na realidade aquilo que ainda não existe, mas se crê possível, mesmo sendo por imposição.

Em países, como o Brasil, com sistema multipartidário, uma democracia fragmentada e muitos analfabetos políticos, se usa bastante os “partidos de aluguel”, como meio de alguém se eleger sem fidelidade à ideologia do partido, e a desinformação em massa é a estratégia política mais utilizada nas eleições, para eclipsar o nepotismo, o fisiologismo, o aparelhamento, a corrupção etc.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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