Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Por uma Cultura de Paz

Foto: DivulgaçãoCultura de paz

 

A divulgação dos dados do Monitor da Violência, colocando o Piauí como o estado com o 3º maior crescimento de crimes violentos no país, em 2021, serve de alerta para a sociedade e as autoridades estatais colocarem a segurança pública e a educação, como prioridades, sob pena de perder o controle social sobre a criminalidade.

No Piauí, como de resto no Brasil, os crimes violentos são produtos de uma política equivocada de guerra às drogas, que estimula confrontos diversos entre facções criminais entre si e com as forças de segurança, vitimando policiais e civis - principalmente jovens, pobres e negros.

 Para evitar que a situação se agrave urge a construção coletiva de políticas públicas de prevenção e de uma “cultura de paz”. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), trata-se de um conjunto de valores, modos de comportamento, atitudes em vida que rejeitam a violência, e priorizam o diálogo e a negociação, para prevenir e solucionar conflitos, agindo sobre suas causas.

Um exemplo de iniciativa relacionada à Cultura de Paz seria a implementação de um Pacto Estadual pela Redução da Criminalidade Juvenil, com o objetivo de mobilizar a sociedade para conhecer e aplicar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em benefício da vida juvenil, com ações socioeducativas que diminuam os altos índices de crimes violentos envolvendo adolescentes, tanto na zona urbana quanto na zona rural.

Dentre os princípios da Cultura da Paz estão o respeito à vida, a rejeição à violência, o cultivo a generosidade, o ouvir para compreender, a preservação do planeta e o redescoberta da solidariedade. Mas, para construir uma cultura de paz, a sociedade e as autoridades estatais devem estabelecer um consenso pela comunicação não violenta. Para o psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg (1934-2015) existem quatro componentes principiológicos para a realização da “Comunicação não Violenta”: observação, sentimento, necessidades e pedido.

Segundo o autor, “[...] para usarmos a CNV com as pessoas com quem estamos nos comunicando, não precisamos conhecê-las, ou mesmo estarem motivadas a se comunicar compassivamente conosco. Se nos ativermos aos princípios da CNV, motivados somente a dar e a receber com compaixão, e fizermos tudo que pudermos para que os outros saibam que esse é nosso único interesse, eles se unirão a nós no processo, e acabaremos conseguindo nos relacionar com compaixão uns com os outros”.

Isto é uma provocação para nos inquietarmos e assumirmos uma postura de defensores da paz, sendo um elo que fortalece a construção de um mundo amoroso e pacífico para todos. Simples assim: “Seja você a mudança que você quer ver no mundo” (Mahatma Gandhi).

Uma cultura de paz com direitos humanos é possível e necessária, e deve começar com uma educação para além de “passar no ENEM”, transformando a escola num espaço de acolhimento, para ressignificar o processo de sociabilidade entre os atores escolares, a família e a sociedade, visando uma convivência pacífica, com respeito a dignidade da pessoa humana e aos valores positivos de civilidade.

Conforme a UNESCO, a cultura de paz “está intrinsecamente relacionada à prevenção e à resolução não-violenta de conflitos”, baseando-se no respeito aos direitos humanos, na tolerância, na educação para a paz, na promoção do desenvolvimento social e de uma democracia substantiva e emancipadora.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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