Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

Os pais em apuro

Foto: InternetVolta às aulas
Volta às aulas

Co-autoria Débora Moraes, especialista em Educação

No Brasil, para além das quase 100 mil mortes, da politização da pandemia, da arrogância dos negacionistas e do medo social da violência, o período de isolamento domiciliar, provocado pelo novo coronavírus, impôs a suspensão das aulas presenciais em escolas de todo o país e às famílias a presença das crianças e dos adolescentes em casa 24 horas por dia, deixando os pais em apuros, sem saber o que fazer para gastar a energia  e preencher a ociosidade daqueles.

Nesse contexto manter a harmonia na convivência diária tornou-se um desafio repleto de tensões e conflitos interpessoais, gerando mais ansiedade e estresse dentro de casa. A situação se complexificou ainda mais, quando a essa conjuntura se juntou a miséria, a fome, o desemprego, a violência doméstica, a corrupção e a ausência do poder público. 

Com isso, surgiu a necessidade de manter a calma, diminuir as cobranças e criar rotinas criativas dentro de casa que incluam as crianças e os adolescentes, principalmente nas famílias em que as escolas e os professores desempenham papéis estratégicos na escolarização, alimentação, cuidados e socialização.

O cenário de confinamento posto pelo coronavírus deixou as mulheres, crianças e adolescentes ainda mais vulneráveis para situações de violência e abusos, pois ficaram próximas de seus agressores, dificultando os pedidos de socorro e inibindo a atuação dos serviços de proteção.

Especificamente, sobre as crianças e adolescentes fora da escola, os pais ficaram com toda a responsabilidade pelo cuidado, formação, alimentação e socialização sem qualquer tipo de preparo ou suporte prévios. Desse modo, os desarranjos familiares e os conflitos dentro de casa se multiplicaram e, de certo modo, fizeram com que a maioria dos familiares percebesse a importância do papel da escola e do professor em todo o processo de desenvolvimento infanto-juvenil.

O papel da escola é incluir todos os alunos nas atividades acadêmicas e na cultura escolar. Enquanto ao professor cabe criar vínculos com os seus alunos por meio de várias atividades cotidianas, construindo e reconstruindo sempre novas conexões, mais fortes e positivos. E ambos, com a família e a sociedade, devem garantir a todas as crianças e jovens o direito de se desenvolver em um ambiente afetivo, seguro e protetor.

Com a pandemia de coronavírus, o isolamento social interrompeu o já fragmentado vínculo família-escola-professor, distanciando os pais do espaço escolar. Para alguns pais foi uma chance para acompanhar de perto o crescimento dos próprios filhos, mas para a maioria dos pais estão sendo situações de apuros, pois não sabem como planejar, realizar e preencher a ociosidade dos filhos.

A inabilidade com as crianças e os adolescentes estão fazendo com que muitos pais queiram a volta às aulas, mesmo com o risco de contaminação com o novo coronavírus, pois não sabem o que fazer para estimular o aprendizado dos seus filhos nem substituírem os professores. A falta do ensino regular nas escolas e de atividades cognitivas em casa geram uma perigosa inatividade no cérebro das crianças de efeitos futuros.

Mesmo com as “aulas terremotos”, a situação pandêmica e impremeditável tem servido para mostrar aos pais e aos estudantes que a escola e o professor não somente ensinam a ler e a escrever, mas fazem parte de um processo educativo essencial que, no Brasil, nunca foi colocado como prioridade de Estado.

Portanto, esse período atípico de pausa nas aulas presenciais deve ser aproveitado em suas oportunidades educativas, para ressignificar o papel da escola, do professor e da família.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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