Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

O retorno às aulas presenciais em tempo de pandemia

Foto: Governo FederalRetorno às aulas
Retorno às aulas

 

Mais preocupado em mascarar a rejeição a Bolsonaro e a seu governo – “trabalho pessoal do presidente é ruim ou péssimo para 56%; desaprovação ao governo é de 62%” (PoderData, 2021) -, e tentar desestabilizar as instituições democráticas, o autoritário governo federal do Brasil pressiona os estados e municípios para retornarem às aulas presenciais de qualquer maneira, a despeito dos riscos sanitários e da falta de planejamento na educação nacional, que se pauta em passar ou não no ENEM.

Mesmo considerando que algumas escolas já estão se preparando para receber seus alunos, a maioria delas está muito distante de como saber lidar com uma experiência pandêmica, que pode ter deixado imensuráveis impactos negativos, não apenas na aprendizagem. Mas, sobretudo, no desenvolvimento socioemocional dos estudantes e de profissionais da educação causados pelo luto familiar, o isolamento social e o distanciamento escolar.

A maioria das escolas estaduais e municipais não sabe sequer como os sentimentos deverão ser acolhidos num possível retorno às aulas. Entre os profissionais da educação ainda existe o medo da doença e da contaminação, que certamente influenciam as crianças e adolescentes. Com isso teremos que lidar com níveis diferentes de ansiedade.

Durante a pandemia os estados, os municípios e o governo federal não fizeram qualquer tipo de planejamento ou reestruturação para transformarem a escola num lugar agradável para estar, com segurança e conforto, para além do voluntarismo e da presunção de uma educação de qualidade no futuro.

Com o desafio de conciliar a reabertura das escolas com os protocolos sanitários de prevenção à Covid-19, as redes municipais, estaduais e federais deverão combinar atividades presenciais e remotas no segundo semestre do ano letivo de 2021, fazendo um rodízio entre estudantes nas salas de aulas, para viabilizar o continuum curricular.

Outra medida fundamental será a adoção da mescla de ensino presencial e remoto, que vem sendo chamada de “ensino híbrido”. Porém, o conceito vai muito além da simples combinação ou alternância das duas modalidades. O ensino híbrido é “um programa de educação formal, onde o aluno aprende em parte por meio on-line – com algum controle do aluno sobre o tempo, lugar, percurso e/ou ritmo da aprendizagem – e em parte em um espaço físico longe de casa” (Michael Horn e Heather Staker, 2015).

Na perspectiva de uma educação de qualidade - aquela onde estudantes e o professor dialogam e permutam conhecimentos num ambiente saudável -, a articulação entre aulas presenciais e remotas, com o uso de tecnologias digitais, pode, efetivamente, aumentar o tempo, o espaço e o andamento da aprendizagem de estudantes. A educação de qualidade tem poder para erradicar a pobreza, transformar vidas e promover avanços em todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 4, ONU, 2012).

Evidentemente, o uso pedagógico das tecnologias digitais tem potencial para desenvolver uma aprendizagem na escola somente quando existe a atuação equilibrada e simultânea de quatro fatores: 1) a visão estratégica e planejada para o uso da tecnologia na educação; 2) o desenvolvimento de competências digitais entre os professores; 3) a seleção de recursos educacionais digitais alinhados ao currículo; e 4) uma infraestrutura adequada.

Portanto, impor o retorno às aulas presenciais pela simples vontade política é um acinte à classe de profissionais da educação e uma cilada à sociedade, como parte do projeto negacionista da pandemia de coronavírus.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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