Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

O Dia da Favela

Foto: ReproduçãoO Dia da Favela
O Dia da Favela

 

A favela começou com os soldados e os escravizados libertos, após a abolição em 1889, que, sem renda para pagar o aluguel de imóveis no mercado formal, se instalaram nas encostas arborizadas dos morros do Rio de Janeiro. E, assim, resolveram construir as suas próprias moradias em terrenos inadequados como planícies alagáveis e encostas íngremes, principalmente nas periferias da cidade, em regiões desprovidas da infraestrutura e dos serviços necessários para caracterizar uma cidade.

No dia 04 de novembro se celebra, desde 1990, o Dia da Favela. A data é mais conhecida no estado do Rio de Janeiro, que segundo o IBGE (2019), é o 5º estado do Brasil com o maior número de aglomerados subnormais. Segundo o Mapa da Desigualdade (2020), dos 96 distritos de São Paulo, os dois que mais têm favelas são os do Jardim Ângela (53,27%) e Jardim São Luís (68,80%).

O Morro da Providência é considerado como a primeira favela do Brasil, localizado no bairro Gamboa, na Zona Central da cidade do Rio de Janeiro. No Piauí, a Vila Irmã Dulce é a referência histórica em ocupações urbanas com características de favela.

A Rocinha, no Rio de Janeiro, é a maior favela brasileira com cerca de 180 mil moradores em menos de 1 quilômetro quadrado de terra, obrigando os moradores a construir casas com estruturas de até 11 andares. E a Orangi Town, próximo da cidade de Karachi, no Paquistão é considerada a maior favela do mundo, com um conglomerado de mais de 100 assentamentos informais, e abriga uma população estimada em 2,4 milhões de pessoas.

Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), a densidade populacional em favelas é de aproximadamente um bilhão de pessoas. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número chega a 27 milhões de pessoas em 734 cidades, 

Para além de um entendimento estereotipado sobre a favela como um “lugar ruim”, “impotente”, “perigoso”, “violento” e “insalubre”, a data deve servir para lembrar, celebrar e alertar sobre as lutas sociais que os moradores dessas comunidades enfrentam todos os dias, para assegurarem um lugar de moradia, de sobrevivência, de resistência e de pertencimento.

Ressalte-se que, nas favelas nem sempre têm moradias em condições precárias, pessoas abaixo da linha da pobreza, violência sem controle, arranjos familiares desajustados, analfabetos, tráfico de droga e sub-humanos, vivendo das migalhas de um Estado injusto e de uma sociedade desigual.

Em geral, de acordo com a definição do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat), a favela começa (e permanece) numa área degradada de uma cidade, caracterizada pela falta de infraestrutura, pobreza, fome, miséria e ausência de segurança de posse da terra. Mesmo com as garantias constitucionais, os Estados ainda enfrentam dificuldades em implementar um padrão de vida adequado aos cidadãos.

A favela passou a ser mais visível nos anos 1940 e não é uma questão de escolha, mas reflexo da baixa capacidade de renda e o monopólio dos terrenos urbanos, que intensifica a formação de bairros nos subúrbios, a favelização dos morros e a precarização da vida dos pobres.

Todavia, a favela é lugar de luta por políticas públicas para garantir o direito humano à moradia digna e de qualidade. É um espaço de sociabilidade com potência e vivacidade. É uma fonte de arte com alegria, de criação constante, de ações sociais na área do lazer, esporte e cidadania: toda favela tem identidade.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS