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Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

No Brasil está escancarado um barraco político entre aliados e assecla

Foto: GoogleBolsonaro
Bolsonaro

O LARANJAL PUTREFEITO Arnaldo Eugênio, doutor em Antropologia

Atualmente, no Brasil, a inabilidade presidencial, a desconfiança, e o atabalhoamento governamental no gerenciamento de crises escancararam um barraco político entre aliados e seus asseclas, desnudando uma falsa moral e ética do “novo” governo – ou do mais do mesmo, onde o novo já nasce velho.

Para além de um reality show, a revelação, ainda parcial, de uma produção cítrica partidária no pomar de pseudos mitos – nada antropológicos – é apenas uma amostra grátis de como nos enganamos com a cor da fita e a nossa superficial consciência política forjada em redes sociais.

Se antes se dizia que a estrela vermelha estava putrefeita, agora provamos da laranja verde-amarela que, ao que parece, é pútrida e amarga.

O barraco político protagonizado pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e o clã bolsonarista foi midiatizado e viralizou pelas redes sociais – instrumento de manipulação política nas eleições gerais no Brasil, em 2018 –, expondo a face atrasada da política brasileira – baseada em partidos de aluguel, corrupção, caixa dois, manipulação de pesquisas, nepotismo, etc – que nos parecia extirpada do cenário nacional.

Mas, o intempestivo “novo” governo nos mostra que, na política brasileira, nem tudo que se apresenta como novo é de boa safra.

O vazamento da informação de que o Partido Social Liberal – PSL pulverizou grandes somas de recursos públicos para os candidatos-laranja do seu pomar partidário no país durante a campanha eleitoral de 2018 – inclusive do grupo do atual presidente – borrifou um mar de desconfianças no ar da arena política com um forte odor de laranjada apodrecida.

Assim, o barraco político do “novo” governo se mostra permeado por mentiras, velhas práticas políticas e as denúncias de produção de cítricos pelo seu partido que, em se ficar comprovada a responsabilidade, talvez o ministro e seus pulgões virem bagaço de laranja no espremedor da seletividade do Judiciário e da conivência do Legislativo.

O “novo” governo até que tenta demonstrar autocontrole e firmeza estadista, através de disparos de WhatsApp e o uso das redes sociais como meios de propaganda política, onde expõe a construção simbólica da política mercantil de se vender como um político espontâneo e transparente frente ao construído, o obscuro e o indizível.

Quando, de fato, a sua espontaneidade é construída e tuitada dentro de um ambiente virtual veloz e efêmero, distante da realidade dos fatos políticos e do cotidiano social.

Por falta de habilidade política e traquejo de estadista, o “novo” governo escancarou o laranjal do PSL em rede nacional, humilhando publicamente o articulador da sua eleição – que é um diário vivo e convém não machucar os diários vivos.

Desse modo, o barraco político pode desnudar as obviedades eleitoreiras que foram mascaradas e agora estão sendo servidas com recheio de trapalhada e suco de laranja vencido, para os convidados delirantes de um reality show político.

Assim, o que era para ser uma administração pública inteiramente nova virou uma produção em série de autocrises, beligerância tuiteira, plágios, aprisionamento do próprio impudor, pacote de medidas generalistas, impunidade seletiva, ações populistas, declarações desconexas, etc.

Coincidentemente, o pior para os processos políticos do Palácio do Planalto e o laranjal político (do PSL) putrefeito é que a exportação de suco de laranja brasileiro está em queda – caiu 12% em volume e 8% em receita, nos últimos seis meses, que inclui o período eleitoral de 2018 e a pose do “novo” governo.

Quando as laranjas caem putrefatas todo o pomar está em perigo.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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