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Economista

Acilino Madeira

Economista

Estudos sobre o Brasil revelam três heranças malditas: a escravidão, o latifúndio e a privatização do público pelas elites dirigentes

Foto: InternetHerança Maldita

O psicólogo Jurandir Freire Costa tem despertado no meio acadêmico e fora deste a desejabilidade discursiva sobre a violência ou mais precisamente sobre a cultura da violência que há muito apavora a sociedade brasileira.

O tema não é novo. É muito anterior à pandemia do Covid-19. A sociedade brasileira sempre foi violenta. Essa conversa de que os brasileiros se constituem numa nação ordeira e que formam um povo cordial não bate com a realidade histórica vivida e também já vivenciada entre nós ao longo dos séculos. Portanto, as mortes de negros e negras nas favela e periferias das grandes cidades brasileiras, como a do garoto João Pedro, não é fato isolado, nada é em vão... O avanço da extrema-direita no Brasil vem acompanhada de muita violência...

Diversos autores das ciências sociais se debruçaram sobre a formação da nação brasileira. Os mais importantes estudos foram escritos por Gilberto Freyre, Caio Prado e Sergio Buarque de Holanda. Tais estudos se preocupam com a formação do Brasil colonial. Obviamente que outros autores como economistas, sociólogos, antropólogos e etc. e etc., e tal, até bem presentemente têm contribuído nesta seara de explicação do homem brasileiro. Entretanto, basta para o momento a breve análise dos três primeiros cientistas sociais.

Em Gilberto Freyre de “Casa Grande & Senzala” o mito da democracia racial não subsume o caráter violento da colonização e de como os elementos indígena e preto foram alvos dos mais atrozes tipos de violência: do extermínio (genocídio) à descaracterização cultural, da violência moral à física em extremados castigos e perversidades vãs legitimadas pelas elites em nome do Estado português e da Santa Fé Católica.

Em Caio Prado Junior, em sua obra “Formação Econômica do Brasil Colonial” o sistema “plantation”, deixou marcas profundas que ainda hoje se reverberam na conduta do ser brasileiro, portanto em seu sentido histórico de feitoria ainda predominante.

Sérgio Buarque de Holanda, em “Raízes do Brasil”, deixa o legado de que a nossa cordialidade é um velho fantasma atormentador dos ibéricos em sua aversão ao impessoalismo.

Em síntese, os estudos sobre a formação do Brasil colonial revelam três heranças malditas: a escravidão negra, o grande latifúndio e a privatização das estruturas de poder (públicas) pelas elites dirigentes.

A escravidão negra foi uma grande violência que perdurou por quase quatro séculos de história. O negro foi escravizado (em diáspora) de meados de do século XVI até finais do século XIX. A escravidão negra no Brasil findou-se em 1888, mas a população afrodescendente continua precisando de cotas como se fosse minoria. Mesmo com cotas e tudo o mais, lhe pesa o fardo da cor: uma brutal violência.

A existência do grande latifúndio foi à custa da expropriação do elemento nativo arrancado de seu habitat milenar em nome de um sentido de desenvolvimento alheio à sua vontade e cultura. Até há bem poucas décadas os irmãos Vilas Boas lutavam pela demarcação de terras para abrigar os índios do Alto Xingu. Demarcar terras que lhes eram próprias: outra brutal violência em nome da ordem e do progresso.

Ainda perdura a privatização do público pelas elites brasileiras. A violência no Brasil parece algo endêmico. Uma sociedade com ideais de eugenia. Cultura da violência presente!

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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