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Economista

Acilino Madeira

Economista

Brasil: as velhas questões e os novos modelos

Foto: Deutche WelleBrasil
Brasil

Independente da pandemia do Covid-19 e do desastroso governo Bolsonaro, a vida segue. Coisas novas surgem: boas e ruins...

Quando andávamos pela escola (ensino fundamental e médio), por diversas vezes éramos postos a resolver questões, umas como dever de classe, outras como dever de casa.  Mas, necessitávamos resolvê-las como prova de aprendizagem e desafio. Em matemática, por exemplo, se a leitura do enunciado do problema e a aplicação da fórmula ocorressem de maneira correta, a resposta sairia sem muito sofrimento. Felicidade maior quando se chegava a um número inteiro, redondo..., que bom.

Às vezes também, até líamos o enunciado do problema de forma correta e atenciosa. Porém, aplicávamos a fórmula errada. Não dava certo de jeito nenhum, a resposta para nosso desgosto, na maioria das vezes, aparecia como dízima periódica meio doidinha, e haja engrossar a cabeça. Procurávamos avidamente o resultado da questão no final do livro didático, no correspondente capítulo, e na certificação do desencontro entre as respostas, aumentava a frustração.

Para quem como eu, e outros amigos e amigas, teve a oportunidade de ingressar numa universidade, e se deparou com as disciplinas de metodologia, mais facilmente aprendeu que as ciências apresentam um conjunto de soluções e crenças para a resolução de determinados problemas que se constituem em seu objeto de estudo. A este conjunto de soluções e crenças, o filósofo Thomas Kuhn, no início dos anos 1960, chamou de paradigma.

Para além da escola, das cartilhas e das simulações; existe a vida. A vida em sociedade é regida pela política. A política se tornou uma ciência, também com os seus paradigmas próprios. Entretanto, a mesma não é uma ciência absoluta como a matemática, a estatística, a econometria, como exemplos. A ciência política é substantiva e o seu método é histórico-dedutivo, sempre há de se deparar com a emergência dos fatos novos. As sociedades humanas evoluem, em regra, porque mudam.

O conjunto de soluções que na contemporaneidade se apresenta para a resolução dos problemas econômicos, sociais e políticos no Brasil não pode ser o mesmo de décadas passadas. Paradoxalmente, na atualidade as cidades são globais com problemas locais. As realidades regionais não suportam fórmulas globais aplicáveis a problemas considerados comuns, quando na verdade não os são. As questões são diferentes, porque as realidades regionais são diferentes.

Nesse contexto, o Brasil vive um dilema político: ou cai na insistência de querer aplicar fórmulas políticas antigas para resolução de problemas novos, ou constrói uma agenda de governança política nova para enfrentar problemas antigos. Numa situação de dilema, sempre tendemos a escolher a premissa menos dolorosa. Eu fico com a segunda assertiva. E explico. Simplesmente, sem querer abusar da Filosofia, sigo redimindo-me, por enquanto, aos ensinamentos de dois mestres da música popular brasileira. O primeiro, de Cazuza quando afirmava diante das amarguras da vida em constantes mutações: “o tempo não pára”. O segundo, do inesquecível Raul Seixas em sua viajante psicodelia: “eu prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

A abertura de uma agenda nova no Brasil para o enfrentamento de problemas antigos respeita a três passivos implícitos, economicamente falando, a saber: financiamento da dívida pública, a questão ambiental e o sucateamento da máquina fiscal.

Seriam necessários três artigos semanais para esgotar, minimamente, tais questões. Contudo, é perfeitamente possível equacioná-los levando-se em conta a boa vontade do Governo Federal (coisa que não aconteceu ainda no governo Bolsonaro).

Porém, há sempre a esperança de que caminhos novos devam ser trilhados, quem tiver fôlego e maturidade verá. O Brasil não se acabou e nem se acabará tão cedo.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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