Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A violência machista

Foto: Meio NorteFeminicídio
Feminicídio

 

No Brasil, a violência machista, assim como a corrupção endêmica, perpassa todos os níveis da sociedade na forma de feminicídio – um crime de ódio, de discriminação, de opressão, de desigualdade, de homens misóginos. Trata-se de uma violência sistemática e naturalizada contra as mulheres, que, em sua forma mais aguda, culmina nos assassinatos diários daquelas.

A violência machista à brasileira apresenta especificidades em relação as outras sociedades e culturas. Mas, aqui ou acolá, se caracteriza como um crime de gênero carregado de aversão à mulher, que impõe a destruição da vítima, por vezes combinado com violência sexual, tortura e/ou mutilação antes ou depois do assassinato.

O feminicídio – enquanto uma tipificação criminal – é produto de um comportamento machista condicionado social e culturalmente, onde os homens desde a infância são ensinados, em casa e na rua – incluindo as escolas! – a violentar e subjugar as mulheres. A sociedade brasileira – emoldurada de cinismo e dissimulação – naturaliza e justifica o assassinato de mulheres como um crime causado por ciúmes/paixão: um “crime passional”. Menos verdade, pois se trata de uma forma cruel e covarde de romantizar o assassinato de mulheres, reificando a condição de submissão e coisificação aos homens.

É na violência machista que se revela o homem inseguro e insano, que busca os meios cruéis para esconder os seus medos da igualdade de gênero. Um homem sem virtude não consegue amar e cuidar de uma mulher, pois ele foi domesticado e construído pela sociedade para odiar, machucar, anular, ferir, controlar e destruir o corpo feminino.

De acordo com Confúcio, “você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer”. Assim, numa sociedade de violência machista como a brasileira, a educação na perspectiva da igualdade de gêneros é fundamental, para se construir um comportamento coletivo de recusa incondicional ao feminicídio.

O feminicida – ou o homem sem virtude – não é dado pela natureza nem um elo indissociável com a covardia e a crueldade humana, que não possa ser neutralizado e desconstruído. Por um lado, aplicando-lhe as sanções jurídicas disciplinadoras, sem seletividade, como prevenção a impunidade. Por outro lado, reeducando adultos e crianças pelo respeito, ética, proteção e amor mútuo, independentemente do gênero, da etnia, das crenças, dos gostos, dos valores, das identidades, das classes sociais etc.

Radicalmente, como medida de curto prazo, mas de duradoura eficiência sociocultural, todo feminicida – um vilipendiador da vida e da dignidade de mulheres – e seus asseclas protetores deveriam ser tratados com total repúdio público, rejeição social e ostracismo. Nesse contexto, todo protetor de feminicida (pessoa física ou jurídica, instituição pública ou privada) se equipara ao monstro sem virtude, logo tão criminoso e desprezível quanto aquele. Logo, acobertar o feminicida é partilhar com ele da sua malignidade.

Definitivamente, é inconcebível qualquer tipo de razoabilidade em matar uma mulher e justificar o machismo e a misoginia com falácias do tipo: “foi sem querer”, "foi por ciúme", "loucura de amor", "amor demais". Pois o sentimento de posse sobre o corpo e a vida das mulheres não é biológico, mas uma construção sociocultural, ensinada e aceita no país como algo natural. Portanto, basta de violência machista, pois, uma sociedade para ser justa – com todas as mulheres – não pode nem deve compactuar com o discurso e a prática sexista de que a felicidade de uma mulher depende de um homem ou de um macho opressor, sórdido e indigno.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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