Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A violência em Teresina

Foto: G1Violência em Teresina

Em Teresina, a violência – como um fenômeno sociocultural complexo (multidimensional e pluricausal) – não é uma peculiaridade social nem da índole dos teresinenses, mas consequência de uma cadeia de fatores socioculturais e administrativos que são negligenciados há décadas por gestões ineficientes nas iniciativas de combate e prevenção à violência – e a criminalidade –, e de aproximação comunitária. Bem como, a letargia das instituições da administração da justiça criminal.

O reflexo é o aumento das taxas de criminalidade, o aumento da sensação de insegurança, a degradação do espaço público, a banalização da delinquência juvenil, a violência policial, o improviso de ações, o uso da força em detrimento da inteligência, a ineficiência preventiva, a culpabilização oportuna etc.

Isso tudo gera uma improficuidade sincrônica na gestão pública, pois a crise da segurança pública tem relação direta com o sistema carcerário brasileiro e a omissão de outras instituições públicas por falta de ações integradas, planejadas e eficientes, a partir de diagnósticos confiáveis. Por exemplo, no Brasil, os presos estão encarcerados em condições desumanas, onde são aperfeiçoados para o crime; a educação ensina para “passar” no ENEM; a assistência social não consegue mudar a visão assistencialista do Bolsa Família (e agora, no Auxílio Brasil) – em função do uso político.

Outro fator estrutural que contribui para a insegurança pública em Teresina tem relação com o crescimento urbano e habitacional sem planejamento conjunto com as instituições públicas, no intuito de prevenir os problemas sociais decorrentes do caótico adensamento populacional. Isso mostra que o debate sobre a violência, a criminalidade e as estratégias de enfrentamento numa cidade como Teresina, perpassada por múltiplas realidades, deve ser, essencialmente, compartilhado.

A sociedade civil e Estado dividem preocupações e buscam dialogar sobre as melhores alternativas, mas cabe ao Estado implementar as políticas públicas de segurança. A organização administrativa faculta aos entes federativos – União, estados, Distrito Federal e municípios – efetivar e gerir essas políticas. Mas, estão desintegrados.

Portanto, além de planejamento urbano e avanços nos mecanismos le gais, que asseguram a plena liberdade do indivíduo viver e expor seus direitos violados, é fundamental profissionalizar os agentes de segurança pública, através de diagnósticos criminais e projetos específicos de valorização e a formação continuada dos profissionais, para a análise criminal, de gestão e de governança da segurança pública.

Existem várias soluções possíveis para efetivar o controle sobre a violência e a criminalidade em Teresina, tais como: a possibilidade de dialogar com a sociedade civil e conhecer a realidade local; a inserção da juventude em atividades socioeducativas de prevenção à violência; a elaboração de diagnósticos locais sobre a violência; a constituição de pelotões mirins, de crianças e de adolescentes; a implementação do policiamento comunitário; o incentivo a projetos sociais nas periferias da cidade.

No campo da educação, o controle da violência e da criminalidade no convívio entre alunos, professores, diretores, funcionários e moradores, por meio de agressões, ameaças e abusos, pode ser feito com a reintrodução dos temas no currículo escolar, para dá visibilidade a disputa saudável e democrática de conflitos no campo das ideias. Pois, há uma profunda falta de respeito ao outro e de consciência de limites, que perpassa as relações no cotidiano escolar. Por isso, a escola deve primar pela conivência escolar salubre.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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