Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A questão central é a democracia: Bolsonaro é fascista; Lula, democrata

Foto: Montagem pensarpiauiLula e Bolsonaro
Lula e Bolsonaro

No Brasil, o acirramento na eleição presidencial de 2022, especialmente com a polarização entre o ex-presidente Lula e o atual presidente Bolsonaro, têm Deus ao averso e a cisão do país em dois modelos antagônicos de sociedade: o modelo democrático e o modelo fascista.

No atual debate político, a questão central não são os problemas sociais nem a corrupção endêmica – os “pastores no MEC”, as “rachadinhas familiares”, a “compra de 51 imóveis”, o “mensalão” –, mas, o modelo de sociedade que cada candidato oferece aos brasileiros.

Por um lado, o candidato Lula defende o modelo democrático. Um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente – diretamente ou por representantes eleitos – na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governação pelo sufrágio universal.

Nesse modelo, o líder político corrobora a transparência e publicidade no trato da coisa pública; o sistema institucional de freios e contrapesos ao exercício do poder; o livre acesso à informação; a equidade na representação de grupos minoritários nas esferas públicas de decisão.

Do lado oposto, o candidato Bolsonaro apresenta o modelo fascista, que se baseia numa ideologia política ultranacionalista, autoritária e ditatorial, com repressão violenta à oposição e forte arregimentação da sociedade e da economia. Cujo líder político busca reduzir a inteligência coletiva, elenca pautas morais como falsas questões de Estado, ignora o meio ambiente, exalta um patriotismo de fachada e age como referência ufanista para os militantes.

No primeiro turno, a maioria dos eleitores ratificou o modelo democrático, mas ainda não afastou a ameaça do modelo fascista, que busca alianças com representantes dos setores regressivos da sociedade, fazendo cooptação política com orçamento secreto; perverte Estado com Igreja; sem apresentar um projeto de educação pública e de qualidade; os ataques à imprensa e o ódio às mulheres. Além disso, 55% dos brasileiros não confiam no “líder fake”.

Nesse contexto, não há como ficar neutro ou se abster diante da polarização entre os dois modelos. Assim, contra o rebaixamento geral do nível cognitivo da população e a propagação de um Deus ao averso, que se faz, principalmente, por meio do ódio, do ressentimento e da violência impulsionada nas redes sociais, é fundamental se posicionar na defesa da democracia, da paz e da verdade.

Pois, uma sociedade insensível com a morte de quase 700 mil pessoas pela COVID-19 (11% das mortes no mundo) e indiferente à fome de mais de 33 milhões de brasileiros, jamais pode se desenvolver e se sustentar. Numa sociedade dividida pela opressão, o negacionismo, a xenofobia, a eugenia, o fascismo e a guerra de todos contra todos não há paz possível nem prosperidade que perdure no coletivo social. Uma sociedade que pretere a crítica e se engana com um discurso falso moralista, o messianismo ardiloso (de “Deus, pátria e família”) e as mentiras disseminadas em redes sociais, está, além de doente, promovendo o comportamento de seita.

O fato do modelo democrático brasileiro ainda apresentar vários problemas estruturais e debilidades institucionais não é justificativa para substituí-lo pelo modelo fascista. Pois, o viés bolsonarista visa instrumentalizar a política partidária no Brasil para a desmoralização do Estado Democrático.

Portanto, a motivação para votar no segundo turno é reafirmar a defesa da democracia para os brasileiros, de hoje e das próximas gerações. É assegurar a participação de todos na governança e reconstruir um país contaminado pelo ódio, as fake news, a manipulação de fiéis, o nóxio e a supressão de direitos.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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