Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A primeira governadora

Foto: DivulgaçãoRegina Sousa e Wellington Dias
Regina Sousa e Wellington Dias

A despeito do preconceito, do machismo, do patriarcado e de diferentes visões políticas atrasadas ou não, o dia trinta e um de março de 2022 é um marco histórico na sucessão de governadores no estado do Piauí, pois ao assumir governo, Regina Sousa (PT) se torna a primeira mulher (e negra) governadora efetiva do Piauí. Pois, em 2015, a vice-governadora Margarete Coelho foi governadora, mas de forma interina.

Regina Sousa, uma mulher negra e ex-quebradeira de coco, assume o lugar do atual governador Wellington Dias (PT), que deixa o cargo para concorrer ao Senado nas eleições de outubro de 2022. Evidentemente, há muitas expectativas com relação ao seu papel à frente do executivo estadual, não em relação à habilidade política ou à capacidade administrativa, mas ao preconceito por ser uma mulher negra e de origem pobre, que poderá governar bem e implementar políticas públicas para o enfrentamento do machismo e propor medidas contra as desigualdade social no estado.

A ex-senadora Regina Sousa ficará no cargo até 31 de dezembro de 2022, exatos nove meses, para gestar uma marca político-administrativa indelével a contragosto de poderosas máquinas políticas de velhos caciques. Como uma mulher sindicalista e articulada com os movimentos sociais, ela sabe que para superar os preconceitos de gênero e étnico terá que agir mais com a razão do que com as suas emoções, para não alimentar a noção machista de que as mulheres são frágeis na política. E deve deixar claro, em suas decisões de governo, que não está nas mãos deles.

A primeira Governadora efetiva do Piauí é sábia e professora, com experiência suficiente para priorizar os cuidados com a população vulnerável. No cargo máximo do Poder Executivo estadual, ela terá um papel importante de apoiar o protagonismo feminino na política, ou seja, a representatividade das mulheres, bem como no empoderamento feminino para ocupar cargos eletivos e de gestão nas três esferas de Poder – Executivo, Legislativo e Judiciário.

Esse aspecto é relevante porque existe uma luta pelo empoderamento feminino no país. Assim, cada uma que ocupar um espaço de poder político se torna um exemplo a ser seguida, sendo um estímulo para que outras mulheres sejam deputadas, prefeitas, vereadoras, governadoras, senadoras ou presidentas. Pois, as crianças e as adolescentes tendem a se espelharem nos exemplos femininos e cada conquista das mulheres se torna um novo incentivo, para elas consolidarem a conquista dos espaços públicos e privados de poder, antes tidos apenas como “lugares masculinos”.

Como filha de agricultores, a nossa primeira governadora efetiva do estado do Piauí sabe bem que é nas periferias urbanas e na zona rural onde está a maioria das populações vulneráveis, submetidas à pobreza, à miséria e outras formas de violência. Evidentemente que, em nove meses de gestão, ela não enfrentará e superará todos os problemas estruturais do Piauí, pois o caminho se faz ao caminhar e o diálogo com as bases é fundamental para a governabilidade.

Do ponto de vista administrativo, será oportuno implementar políticas públicas para viabilizar o financiamento de coletivos sociais que possam fazer frente aos poderes institucionais atuais e devolver o poder ao povo; ampliar os programas de agricultura familiar; promover projetos sociais e de cultura de paz; fomentar o empreendedorismo, dialogar com os movimentos sociais; articular ações sociais entre instituições públicas ou privadas etc.

Portanto, além de muito axé, cabe aos piauienses apoiarem Regina Sousa para superar os desafios administrativos, políticos, culturais e sociais possíveis de solução a curto prazo e médio prazo.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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