Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A pobreza menstrual

Foto: DivulgaçãoAbsorvente higiênico
Absorvente higiênico

Sociologicamente, a pobreza menstrual ou precariedade menstrual é um fenômeno social complexo,ou seja, um fenômeno que acontece na vida social e estárelacionado com o comportamento de um grupo ou sociedade – como p.ex., o desemprego, a inflação, o aumento na produção de riquezas, as taxas de mortalidade, o crescimento econômico etc.

A rigor, os fenômenos sociais não são individuais, pois os acontecimentos e decisões pessoais não são considerados, pela Sociologia, como fenômenos sociais. Para tanto, é necessário que a prática ou os acontecimentossejam observados em grupos sociais. No caso da pobreza menstrual é um fenômeno social complexo, ou seja, a abordagem no conhecimento complexo leva-se em consideração que as relações das partes do tema e do todo, de forma inseparável com o todo com as partes desse mesmo tema (MORIN, 2007).

Assim, a pobreza menstrual é a falta de acesso a produtos para manter uma boa higiene corporal no período da menstruação, e tem relação direta com a pobreza, a miséria e a desigualdade social, bem como a infraestrutura do ambiente domiciliar das adolescentes, especialmente de saneamento. Portanto, considerando a vulnerabilidade social no Brasil, milhares de adolescentes já passaram e outras milhares estão passando pela situação deprecariedade menstrual.

A ausência de políticas públicas para o enfrentamento da pobreza menstrual é uma omissão do Estado, que se agrava com a falta de condições de realização da higiene menstrual de forma adequada. De imediato é fundamental uma política pública de distribuição de itens básicos -como absorventes -, além de uma ação integrada entre a Educação e a Saúde para superar a falta de acesso ainformações, de infraestrutura e serviços de saneamento básico.

Estima-se que, aproximadamente, 25% das adolescentes brasileiras não têm acesso a absorventes. Estudo do Banco Mundial aponta que pelo menos 500 milhões de mulheres no mundo não dispõem de instalações adequadas para a higiene no período menstrual.

Ressalte-se que a complexidade da pobreza menstrual não se restringe somente à falta de dinheiro para comprar absorventes, mas, também, à falta de informações e de condições sanitárias, principalmente nas periferias e nas zonas rurais das cidades brasileiras. Por isso, deve-se abordar o fenômeno social da pobreza menstrual com um olhar da complexidade, para não apequenar o entendimento e o enfrentamento.

A pobreza menstrual é um problema de saúde pública, e de educação básica, pois metade da população do Brasilé formada por mulheres que durante boa parte da sua vida menstruam. Porém, o cinismo social à brasileira tornou otema num tabu, ou seja, pouco se discute na sociedade e nas políticas públicas, deixando a população desinformadae desorientada.

Isso acontece porque a estrutura social do país ainda é pensada por homens e para homens – produto do machismo e do patriarcado –, resultando numa desigualdade social, de direitos e de oportunidades entreos gêneros, a despeito da saúde das mulheres. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o acesso à higiene menstrual é um direito e deve ser tratado como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. No Brasil, uma em cada quatro adolescentes não possui um absorvente durante seu período menstrual.

O relatório “Livre para Menstruar” (2021), elaborado pelo movimento Girl Up, mostra que uma em cada quatro meninas faltam à aula por não possuírem absorventes, e dessas, 50% nunca falaram sobre o assunto na escola.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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