Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A perspectiva do poder

Foto: DivulgaçãoPoder?

 

As eleições de 2022, no Brasil, para além da violência política, das ameaças de golpe de estado, a cooptação de igrejas, o uso de fake news, o ódio religioso, as tentativas de sabotagens das instituições, apresentam, também, outro aspecto, não tão sui generis: o frenesi pela perspectiva de poder, que remete a um jogo de relações e reações, na maioria das vezes, pouco republicanas.

Na política, a perspectiva de poder materializa-se nas conjunções do poder político estatal, revestido em suas distintas expressões perpassadas por todo um aparato simbólico, verbalizado em diferentes e divergentes discursos e, como tal, instrumentaliza-se em vários mecanismos desde a conquista à manutenção desse mesmo poder.

Atualmente, percebe-se, no Brasil, uma busca cega pela perspectiva de poder político. Trata-se do movimento tresloucado de membros da classe política nos municípios – prefeitos e vereadores – negociando apoio no varejo para diferentes candidatos proporcionais e servindo a dois senhores ao mesmo tempo nas candidaturas majoritárias, onde o que menos importa são os interesses dos munícipes.

Antes das convenções partidárias, muitos “políticos mercenários” – aqueles que se dão preço por uma perspectiva de poder – ofereciam falso apoio com um jacá de votos inexistentes aos pré-candidatos proporcionais e majoritários que botassem preço na mercadoria de dolo, cuja intenção era apenas obter lucros fáceis. E, para simular honradez, assumiram, publicamente, um proditório compromisso político e partidário.

A partir das convenções partidárias e a divulgação de pesquisas de opinião, a estratégia dos “políticos mercenários” tem sido seguir o fluxo da perspectiva de poder político conforme a preferência dos eleitores pesquisados e a gana venal, para renegociarem apoios no varejo aos candidatos proporcionais e servir, a um só tempo, mais de uma candidatura majoritária – ou seja, um pé lá e outro cá.

Assim, a poucos dias das eleições, sem possibilidade para o surgimento de outsider ou terceira via presidenciável e as pesquisas mostrando o retorno do "voto econômico", que dificulta a tentativa de reeleição de Bolsonaro (hoje no PL) e impulsiona a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reconhecido por ter alcançado bons resultados econômicos no seu governo, acelerou o ímpeto venal na moral política municipal.

Muitos “políticos mercenários” – principalmente prefeitos – passaram a divulgar cards nas redes sociais tanto com Bolsonaro quanto com Lula, emprestando a própria imagem sem qualquer tipo de constrangimento moral. Enquanto uma plêiade de vereadores comercializam supostas margens de votos pérfidos, preferencialmente, com os candidatos a deputado e a governador.

Nesse contexto, se estabelece um jogo político sem escrúpulos, onde quem vende e quem compra apoios de mentira se nivelam abaixo da linha da moral, transformando a política num balcão de espúrios a serviço do calote ao eleitor com analfabetismo político. 

Porém, seria ingenuidade crítica não reconhecer que a perspectiva de poder político é uma forma de se alcançar espaço na política. Todavia, a forma não republicana depõe contra a moral dos detentores de mandatos, revelando um espectro do caráter e a tentativa de estelionato eleitoral.

Diante desse cenário, caberá aos eleitores debelarem da Política, nas próximas eleições e através do voto secreto, o comportamento venal e imoral dos “políticos mercenários”, que usam o mandato para obterem o pagamento ou a divisão dos despojos, sem ideais, nem respeito ou fidelidade a um município, estado, nação e, principalmente ao Povo.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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