Pensar Piauí
Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Doutor em Antropologia

A misoginia política

Foto: Montagem pensarpiauíRegina Sousa e um misógino
Regina Sousa e um misógino

A misoginia é o ódio ou aversão às mulheres - um dos fatores relacionados ao feminicídio -, e pode ser manifestada na forma de preconceito, discriminação e machismo. A misoginia é a ira doentia às mulheres e o machismo é um tipo de pensamento que se opõe à igualdade de direitos entre mulheres e homens. Socialmente, o machismo se expressa de forma naturalizada por opiniões e atitudes, que defendem a ideia de superioridade do gênero masculino.

Na mídia, o termo veio a público após o SBT ser condenado a pagar R$ 500 mil de danos morais à jornalista Rachel Sheherazade. O juiz julgou o caso a partir de um vídeo do Troféu Imprensa 2017, quando Silvio Santos afirmou, em rede nacional, que a jornalista “deveria se limitar a oferecer a sua beleza e voz para ler as matérias inseridas no teleprompter, sem dar opiniões próprias”: na decisão, o juiz qualificou o fato jurídico como um "comportamento claramente misógino”.

No mundo político, a misoginia também se mostra de modo repugnante, como no caso do prefeito de Parnaíba, Mão Santa, que durante uma live em rede social e cercado de asseclas dentro do seu gabinete, na tarde do dia 31/03, onde proferiu ataques misóginos a atual governadora do Piauí, Regina Sousa, qualificando-a de “macumbeira”, em um tom pejorativo e desdenhoso.

Para além da ignorância cultural de Mão Santa e de seus asseclas sobre as religiões de matrizes africanas - um termo utilizado, no Brasil, para se referir as religiões que se desenvolveram a partir do processo de vinda dos povos escravizados do continente africano -, a misoginia na política tem sido recorrente como forma de controlar ou diminuir a participação das mulheres nos espaços de poder, de decisão e notoriedade.

De postura machista e desprovido de conhecimento antropológico, Mão Santa aparece no vídeo maculando a imagem de uma mulher, professora, negra, sindicalista e Chefe de Estado, através do termo "macumbeira", para o regozijo de assessores obtusos do seu clã de apalermados. Eles ignoram que a macumba é praticada entre eleitores e que pode, também, ser relacionada diretamente com os rituais que são praticados em alguns cultos afro-brasileiros, característicos pela manifestação mediúnica.

 Enquanto os asseclas o aplaudem, Mão Santa, por um lado, desdenha das mulheres brasileiras na figura da atual Chefe de Estado do Piauí, afirmando: “Assumiu aí uma macumbeira”. E, por outro, não se dá conta do próprio espelho político, ao dizer: “O povo tem o governo que merece”. Assim, ele mostra que as suas falas estão perpassadas pela misoginia e a falta de decoro do cargo é, em parte, produto da ignorância política manifestada em urnas eleitorais.

Darcy Ribeiro (2001), na obra O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil, revela todo tipo de sofrimento e imposições feitas pelos colonizadores ao povo indígena e ao povo negro trazido da África. E, se mostra perplexo, afirmando: “o espantoso é que os índios como os pretos, postos nesse engenho deculturativo, consigam permanecer humanos”. Provavelmente, o machismo e a misoginia política praticada por Mão Santa estejam entranhados nas nossas relações sociais, mas são, sob todos os aspectos cognoscíveis, reprováveis.

Juridicamente, Mão Santa e seu clube de auditório podem – e devem - ser enquadrados na Lei 13.642/18, que acrescenta à Polícia Federal a atribuição de investigar os casos de misoginia e a propagação de conteúdos que difundam ódio ou aversão às mulheres nas redes sociais. Para, assim, se coibir os ataques misóginos, se reconhecer o pluralismo e, sobretudo, a igualdade de gênero.

OBS: no pensarpiaui imagens de misóginos aparecem proporcional ao seu tamanho 

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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