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Jornalista

Sérgio Fontenele

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A Lava Jato expia por seus pecados

 Foto: Google Imagens

Operação nos seus últimos dias
Operação nos seus últimos dias

A decadência política da Operação Lava Jato parece inevitável, e não apenas pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há um conjunto grande de fatos desencadeados nesse sentido, desde que o site The Intercept-Brasil iniciou a série de reportagens sobre os bastidores da força-tarefa em questão. Com a divulgação das mensagens trocadas em grupos de pessoas envolvidas diretamente com a Lava Jato, cai o castelo de cartas. A situação do próprio procurador federal Deltan Dallagnol é bastante emblemática.

O coordenador da força-tarefa está em apuros e, como frisou a revista Veja, viverá um verdadeiro calvário no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). São nada menos do que 16 processos. É pouco provável que ele consiga se manter na Lava Jato, considerando sua conduta à frente da força-tarefa. O próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, tem sofrido um desgaste importante, embora sua popularidade se mantenha em alta.

Blindado pela grande imprensa, sobretudo a Globo, Moro preserva seu status quo, por hora. Mas as revelações do Intercept-Brasil comprovaram o que já se sabia desde sempre. Ele teria atuado como juiz de acusação e condenação ao mesmo tempo, seria o coordenador da Lava Jato, trabalhando supostamente de forma parcial, exercendo a magistratura para perseguir seus inimigos. Moro e a operação teriam ultrapassado, como se sabe, todos os limites da ética e legalidade que deveriam nortear sua ação.

Implicações severas

As reportagens do jornalista norte-americano Glen Greenwald e sua equipe expõem a força-tarefa a consequências e implicações severas. Chegou a ser noticiada, inclusive, a anulação do processo relativo ao sítio de Atibaia, por parte do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que havia resultado na segunda sentença condenatória de Lula. Gabriela Hardt se tornou célebre como a “juíza do copia-e-cola”, cuja sentença foi em parte copiada de outra, proferida por Moro, no processo relacionado ao triplex.

Vazados, diálogos estarrecedores entre procuradores e juízes federais chocaram a sociedade brasileira. É o caso da troca de mensagens comentando, com requintes de crueldade, a morte de D. Marisa Letícia, esposa do ex-presidente. Enquanto aguarda a conclusão do julgamento de sua suspeição, no processo do triplex, Moro tenta ganhar fôlego, através de reações como a convocação de manifestações populares. Em todo o País, bolsonaristas deverão pedir, nas ruas, o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na verdade, o objetivo dessas manifestações é pressionar a Segunda Turma do STF, a quem cabe julgar a suspeição do então juiz, atual ministro da Justiça e Segurança Pública. Em síntese, a Lava Jato se complica cada vez mais – e ainda não terminaram os vazamentos do Intercept. Perdendo sua aura e sua narrativa falso-moralista de paladinos do combate à corrupção, a operação sem dúvida entrou para história. Porém, muito mais pelo que fez enquanto perseguição e lawfare, uma forma de guerra na qual a lei é usada como arma.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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