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Economista

Acilino Madeira

Economista

A elite brasileira sempre quis conduzir o Brasil como uma feitoria, seja de qualquer metrópole

Foto: InternetBrasil: uma eterna feitoria
Brasil: uma eterna feitoria

Caio Prado Júnior, em suas lições de história econômica nos ensina sobre a nossa herança colonial e mais principalmente sobre o sentido histórico da colonização e seus impactos na formação do Brasil contemporâneo (1942). Para o autor mencionado, o sentido histórico do Brasil colonial era o de ser uma feitoria. Uma mudança nos destinos do país seria pela alteração desse sentido histórico de subalternidade.

José Murilo de Carvalho ao publicar “Cidadania no Brasil – o longo caminho (2002) ”, reaviva no pensamento nacional que “a herança colonial pesou mais na área dos direitos civis. Em sua emancipação, o país herdou a escravidão, que negava a condição humana do escravo, herdou a grande propriedade rural, fechada à ação da lei, e herdou um Estado comprometido com o poder privado”.

Entre os fluxos e os refluxos históricos, o que a elite econômica brasileira sempre quis foi hegemonizar o desejo de conduzir o Brasil como uma grande feitoria, seja de qualquer metrópole. Quando a elite política se amalgama à elite econômica, é posto sempre se criar regimes de exceção. O governo Bolsonaro ilustra bem o momento de condução do Brasil como feitoria dos EUA, regra geral por via das políticas neoliberais.

Alain Touraine (sociólogo francês contemporâneo) fazia ecoar, entre os anos sessenta e o último quartel do século XX, as utopias de um retorno a um novo conceito de sociedade civil, desta feita independente em relação ao Estado e ao mercado econômico. Ele pensou que os movimentos sociais se tornariam porta-vozes mais legítimos das demandas de necessidades e conflitos sociais que qualquer partido, sindicato ou classe social. E somente por conta destes é que as pessoas destituídas de poder poderiam confrontar em algum pé de igualdade e lançar desafios àquelas que se consideram como as donas do poder.

Duas décadas depois, o mundo se depara com uma terrível pandemia, a do Covid-19. Esta sim está colocando os donos do poder (na acepção de Raimundo Faoro) em uma posição nada confortável.

Enquanto as políticas neoliberais eram contestadas na Europa e no mundo civilizado pelas organizações humanitárias, tomadas de preocupações ambientais e pela ampliação da legitimidade democrática e da coesão social; as elites mandatárias brasileiras gestavam em seus espaços de poder uma agressiva agenda de desmantelamento institucional do país, mais precisamente a partir do governo Temer.

A insanidade da pauta de costume tomou de conta desta agenda. Tudo como cortina de fumaça, o conservadorismo reacionário brasileiro queria de volta um país autoritário, dirigido por uma franja de “pseudos brancos” neoescravocratas, defensores do agronegócio irresponsável e sequiosos por desnaturalizar as políticas de defesa do meio ambiente, da Amazônia, dos povos indígenas, quilombolas e povos outros tradicionais. E mais, sempre desqualificando o pensamento cientifico.

Com o apoio dos tresloucados neopentecostais, dos enraivecidos de plantão e dos defensores do Brasil feitoria, o governo Bolsonaro pensou que navegaria em céu de brigadeiro. Para tanto, bastaria reduzir ao máximo o Estado, sucatear as universidades públicas, esvaziar o serviço público do capital humano especializado e entregar as áreas estratégicas (saúde, educação e segurança pública) aos interesses privados) através de reformas estruturantes. Porém, antes da implantação e repercussão de tais reformas – Eis que chega a ingrata surpresa: o novo coronavírus.

A pandemia do Covid-19 mostra o Brasil enfermo com várias fraturas expostas, sendo a maior destas aquela que revela as ulcerações em nosso tecido social pelas enormes desigualdades entre os seus cidadãos. Pior ainda é que os mercados parecem sem o devido ânimo para acudir os desvalidos. O mercado financeiro, por exemplo, até agora não se apresentou como ator de destaque no processo de crise em curso.

A nova realidade contribuirá para a mudança de nosso velho sentido histórico?

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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