Pensar Piauí
Economista

Acilino Madeira

Economista

A economia política dos Medalhões

Foto: Isto éMedalhões

 

Há dias em que me pego pensando nas lições do poeta paraibano Lúcio Lins. Eu morria de rir. Sempre brincando e zombando das coisas sérias. Era também um advogado sem compromisso algum com o pragmatismo da vida, muito menos com o politicamente correto das falas em militâncias explicitas e implícitas. Acho que jamais seguiria ou, no mínimo daria crédito às cartas de intenção de boa parte dos políticos de seu país: o Brasil.

O poeta tinha cada tirada que só vendo para crer e de suas frases zombeteiras a que mais recordo era uma de extrema canalhice ou cafajestice, no dizer do poeta Hildeberto Barbosa. A frase era a seguinte: “Você pra mim é problema seu”. Mas, isto reflete o ambiente político brasileiro na era Bolsonaro. Clima total de egoísmo e egocentrismo e outros “ismos” afeitos à adoração da própria imagem. No mais das vezes ninguém se preocupa com o outro. É como se na realidade não coubesse o bom sentido de coletividade.

Recentemente estava em casa, já em isolamento social, diante da televisão reparando nas asneiras ditas pelo nosso presidente da República, Jair Bolsonaro, e de como suas promessas e bravatas não guardam relação nenhuma com a realidade que ora se expõe ao país. Lembrei-me mais uma vez de Lúcio Lins e de nossas conversas sobre literatura, nas manhãs de sábado no bar do Baiano, quando invariavelmente descambávamos para a prosa e as observações sarcásticas de Machado de Assis.

Mas voltando ao cenário de pandemia do Covid-19, percebo o esforço de autoridades médicas e sanitárias em salvar vidas, governadores e prefeitos empenhados no controle do isolamento para abrandar a curva para o recrudescimento de mortes que já superam a casa do seis mil. Enquanto isso, os filhos do presidente Bolsonaro comandam toda sorte de atrocidades, insanidades e perversidade do alto de seus postos e mandatos políticos conquistados (e já sabemos como). Em meio a bizarrice bolsonarista, recordei do conto “A Teoria do Medalhão” do velho Machado de Assis – a história de um pai que aconselha o filho a cultivar o ofício de medalhão – qual seja, não pensar muito, não ter ideias próprias, ser popular e chamar muito a atenção dos outros. A pessoa tem que ter seu nome lembrado pela plebe e fornecer a impressão de que é sabido e culto, sem nada disso ser e mais em tudo ficar só na superficialidade dos fatos.

A prescrição é sempre repetir frases de efeito, dizendo o que já foi dito pelos gênios da humanidade (de preferência os com pendores malignos), porém a parte mais importante na receita paterna é a de nunca deixar que as ideias dos filósofos e dos cientistas citados em sua boa retórica tenham o condão de influenciar ou mesmo mudar o seu próprio pensamento. O negócio é ter a fama de sábio, sem necessariamente ser.

E não é que os filhos do presidente Bolsonaro repetem, quase invariavelmente, aquilo o pai (Medalhão-mor/Messias Bolsonaro) lhes ensina de como subir na vida através da política, sem maiores esforços laborais.  

A ausência de leitura dos filhos do presidente Bolsonaro é o bastante para todos eles não entendam o que fora dito pelo Ministro Ayres de Brito (aposentado) em seus momentos de pura lucidez de que candidatura significa “candura” e o candidato é de fato um “cândido”, não só na aparência, mas em gesto e prática.

Também é de bom gosto que esses jovens pupilos de Bolsonaro (já não tão jovem assim) abandonem suas velhas práticas políticas e se toquem para uma leitura mais apurada de mundo, pelo menos.

Afinal, leiam tudo até sobre política fiscal. Contudo, entendam que a política se vincula à economia. No plano orçamentário, quando se pensa em gastos públicos considere-se também que as receitas públicas são oriundas dos tributos pagos pelos cidadãos. As boas práticas cidadãs são oportunidades para o bem viver e não ameaças às vontades dos medalhõezinhos em querer transformar o Brasil em feudo particular.

Acho que se o poeta Lúcio Lins estivesse cá entre nós, gozando na vida terrena, com certeza diria que os pupilos de Bolsonaro foram educados para o nada ser. E mais do que lhes faltam é o velho e bom amor de mãe, como ensina nossa tradição afro-luso-tupi.

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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