Um delegado da Polícia Civil de Pernambuco baleou um ambulante desarmado durante uma discussão na madrugada de ontem (5), em uma festa realizada no Forte dos Remédios, em Fernando de Noronha. O episódio gerou revolta entre moradores da ilha, que protestaram bloqueando a BR-363 com pneus e pedaços de madeira incendiados.
O delegado Luiz Alberto Braga de Queiroz foi identificado como autor do disparo. De acordo com testemunhas, a discussão teria sido motivada por ciúmes, após o delegado se incomodar com um suposto olhar do ambulante Emanuel Apory para a mulher que o acompanhava. Imagens de câmeras de segurança mostram Queiroz aguardando Apory, cercando-o, apontando o dedo, encostando a mão em seu peito e o empurrando. A vítima reage e, em seguida, o delegado saca a arma e atira na perna do ambulante. Após o disparo, Queiroz deixa o local, enquanto Apory cai, consegue se levantar e foge mancando.
A vítima foi atendida inicialmente no Hospital São Lucas, em Noronha, e depois transferida para uma UTI no Recife. Seu estado de saúde é estável.
A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco informou que instaurou um procedimento preliminar para investigar a conduta do delegado, que foi ouvido na capital, mas não chegou a ser preso.
A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (Adeppe) saiu em defesa de Queiroz. Em nota, a entidade alegou que o delegado foi alvo de "agressão injusta" e agiu para se proteger, disparando na perna do ambulante para "cessar a agressão e preservar vidas". A associação também afirmou que o comportamento da vítima caracterizava perseguição e importunação contra a companheira do delegado. No entanto, não comentou a abordagem inicial violenta feita por Queiroz, registrada nas imagens.
A defesa do delegado reafirmou a versão da Adeppe e alegou que ele teria tentado evitar o confronto, chegando a recolher a arma antes do incidente.
O Forte Noronha, local onde a festa aconteceu, lamentou o ocorrido em nota oficial e informou que prestou socorro à vítima e apoio à sua família. Também ressaltou que o delegado possuía autorização legal para portar arma de fogo no evento.
A violência provocou reação imediata dos moradores de Fernando de Noronha, que foram às ruas pedir justiça pelo ambulante. Protestos interditaram a principal via da ilha, em um sinal de indignação com o uso da força por parte de um agente público.