Vídeo da Marinha atacando civis causa onda de revolta

A mensagem veio à tona poucos dias após o anúncio do pacote de ajuste fiscal do governo

A divulgação de um vídeo institucional pela Marinha do Brasil no último domingo (1º) gerou uma onda de críticas nas redes sociais. Com 1 minuto e 16 segundos de duração, a peça contrapõe cenas de militares em treinamento e cumprindo missões a momentos de lazer de civis, acompanhada da provocação: "Privilégios? Vem para a Marinha". A mensagem foi divulgada poucos dias após o anúncio do pacote de ajuste fiscal do governo Lula, que incluiu mudanças nos benefícios previdenciários das Forças Armadas.

As críticas surgiram principalmente devido à insinuação de que apenas os militares trabalham, desconsiderando a realidade de outras profissões igualmente exigentes e mal remuneradas, como garis, agricultores e operários. O professor universitário Piero Leirner, no X (antigo Twitter), comentou: “Para a Marinha, não existe classe trabalhadora. Os civis são um bando de turistas no Brasil, enquanto eles fazem tudo.”

João Amoêdo, fundador do partido Novo, também se posicionou contra a peça. Ele afirmou que a Marinha deveria retirar o vídeo e pedir desculpas aos “brasileiros que trabalham muito para pagar todas as contas públicas, inclusive a realização desse vídeo.” Em sua visão, o vídeo, em vez de pressionar o governo contra cortes de privilégios, teria um efeito negativo, agravando a imagem da instituição.

O pacote de ajuste fiscal do governo Lula propõe mudanças como a implementação de uma idade mínima de 55 anos para aposentadoria de militares, o fim da chamada “morte ficta” (que permite pensão para famílias de militares expulsos) e a criação de uma contribuição fixa para o Fundo de Saúde. De acordo com a equipe econômica, essas mudanças poderiam gerar uma economia de R$ 1 bilhão por ano, promovendo maior equilíbrio fiscal e justiça social.

Anistia e Provocações Políticas

Além das críticas relacionadas ao vídeo, a peça reacendeu o debate sobre a postura das Forças Armadas diante das reformas e sua relação com a democracia. A Marinha tem sido especialmente questionada desde o indiciamento de 25 militares pela Polícia Federal (PF) em 2022, acusados de envolvimento em uma tentativa de golpe. Enquanto os comandantes do Exército e da Aeronáutica se recusaram a apoiar o plano golpista, a Marinha foi acusada de manter tanques “prontos para ação”, conforme um relatório da PF.

O colunista Leonardo Sakamoto, do UOL, sugeriu que o vídeo vai além de uma simples peça de recrutamento e pode ser visto como uma provocação política. "Uma força que flerta com a subversão da Constituição deveria agir com mais humildade", afirmou.

A divulgação do vídeo ocorre em um momento de intensificação do debate sobre a possibilidade de anistia para os militares indiciados pelos atos de 2022. Este tema, que já vinha sendo discutido nos bastidores políticos, voltou à tona com a peça da Marinha, reacendendo a necessidade de revisões legislativas que busquem garantir a independência das Forças Armadas em relação à política.

Críticos afirmam que chegou a hora de acabar com os privilégios dos militares, punir os envolvidos em atos golpistas e reforçar o papel constitucional das Forças Armadas, que deveria ser proteger a nação e não sustentar benefícios corporativos ou ideais antidemocráticos.

Veja a repercussão: