Um programa de ação, um programa de atitudes

Vi no primeiro discurso de Lula como presidente eleito, um programa de ação e um programa de atitudes. Essa última expressão pode soar meio estranha, mas expressa melhor o que quero dizer.

​Lula destacou os aspectos de seu programa de governo que julgou mais importantes, mas enfatizou algumas atitudes que vem assumindo e estimulando desde o início da campanha e que se tornaram mais necessárias com o clima pesado do segundo turno e com algumas reações posteriores à eleição.

Resgato a mensagem que enviei a algumas centenas de pessoas nos últimos dez dias da campanha do segundo turno:

O horizonte de nossa caminhada está claro:

1) vencer as eleições no 2º turno, dia 30 de outubro de 2022;

2) resistir às tentativas de tumulto e ameaças de violência até a posse em 1º de janeiro de 2023;

3) consolidar o Movimento Eleitoral Democrático como uma Frente Política Democrática para confrontar o bolsonarismo;

4) superar o clima de hostilidade e ódio, pela predominância de um debate político democrático e civilizado, sobretudo com uma nova linguagem na mídia e redes sociais;

5) reconstruir as instituições e políticas públicas econômicas e sociais;

6) intensificar um projeto de desenvolvimento sustentável, com bem-estar para todos, respeito à diversidade e integração soberana no mundo globalizado.

Fora o primeiro passo que já vencemos, os outros passos não são sucessivos, mas concomitantes. A PEC da Transição é o começo da reconstrução das políticas públicas. A Equipe de Transição está sendo formada na lógica da Frente Democrática. Os tumultos têm sido tentados, e estamos resistindo.

Mas é o Programa de Atitudes que pode concretizar a mudança à altura de que nossa sociedade precisa e que Lula propõe. Contra o bolsonarismo, para consolidar a Frende Democrática e para criar um novo clima de convivência civilizada na sociedade, as atitudes precisam ser de milhões, a começar pela militância do PT, pelos filiados de todos da Frente e pelos cidadãos e cidadãs que votaram no Lula. Só assim, a Frente permanecerá e se ampliará como Movimento que tocará as mentes e os corações da grande maioria dos brasileiros e brasileiras.

Com a palavra o Lula (transcrições do seu discurso):

(Democrcia - representativa, participativa, mobilizadora – frente ampla)

Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

É a vitória de um imenso movimento democráticoque se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.

É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.

Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha. E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo.

(Somos uma só comunidade política; adversários não são inimigos)

A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação.

Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio.

A ninguém interessa viver num país, em permanente estado de guerra. Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído. É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida.

(Reconstruir a alma do Brasil, uma cultura alegre e esperançosa)

É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo. Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro.

O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.Todos juntos seremos capazes de consertar este país, e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos– com oportunidades para transformá-los em realidade.

(Dialogar, negociar interesses e conflitos, construir consensos)

As grandes decisões políticas que impactem as vidas de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.

Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo

Para além de combater a extrema pobreza e a fome,vamos restabelecer o diálogo neste país: diálogo entre o povo e o governo (conferências nacionais); diálogo com o Legislativo e Judiciário; diálogo com os governadores e os prefeitos; não interessa o partido ao qual pertençam o governador e o prefeito.

Vamos também reestabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).

(Protagonismo no mundo globalizado; cidadania planetária)

O mundo sente saudade do Brasil, daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres.

(apoiou o desenvolvimento dos países africanos; integração da América do Sul; criar o G-20, a UnaSul, a Celac e os BRICS.)

Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo.

Vamos lutar novamente por uma nova governança global.

(O desafio é imenso e é nosso; fazer política pode ser fazer Históia)

O desafio é imenso. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados.