Saiba mais sobre Davi Alcolumbre, o futuro presidente do Senado

É mais um que tem seu poder local pavimentado pelas emendas parlamentares

O sociólogo Rudá Ricci usou o X para descrever alguns aspectos da atuação política do senador Davi Alcolumbre. Ele será o futuro presidente do Senado e é mais um que tem seu poder local pavimentado pelas emendas parlamentares, a base do poder do Centrão. Vejam o texto: 

Alcolumbre tem 47 anos e nasceu em Macapá. Trabalhou no comércio da família. Se elegeu vereador pelo PDT em 2000. Foi secretário de obras do município e em 2002 foi eleito deputado federal, sendo reeleito por 2 vezes. Em 2006, foi para o DEM.

Em 2014, conseguiu a proeza de se eleger senador pelo Amapá, até então, um quase-protetorado dos Sarney. Aí começa sua saga nacional. Em 2019 é eleito presidente do Senado Federal, se reelegendo em 2022.

A eleição para senador contou com o apoio decisivo do então governador Camilo Capiberibe, do PSB - governador entre 2011 e 2015, que liderou pedido de impeachment do ex-governador Pedro Paulo Dias.

Já seu poder vertiginoso no Amapá advém do manejo das emendas parlamentares. Espalhou obras por todos os 16 municípios do Estado com o orçamento secreto e emendas impositivas. Seus aliados comandam 80% das prefeituras

Segundo a CGU, os municípios do Amapá são os que mais recebem recursos per capita de emendas parlamentares do chamado “orçamento secreto” em todo o Brasil. A PF investiga um suposto esquema de fraudes em licitações públicas com o uso de recursos de emendas parlamentares.

A CGU revela que os três municípios brasileiros que mais receberam emendas per capita entre 2020 e 2023 são do Amapá: Tartarugalzinho recebeu R$ 87,5 milhões que conta com 12 mil habitantes, o que significa que a média por habitante ficou em R$ 6.765,42.

Dos 16 municípios do estado, nove passaram a ser comandados pelo União Brasil, com as eleições de 2024, sendo eles os que mais receberam emendas do orçamento secreto ao longo dos últimos anos.

Se o interior é só alegria para Alcolumbre, Macapá é a pedra no seu sapato. Tentou ser prefeito (em 2012) e não conseguiu. Também tentou ser governador (em 2018) e Macapá o segurou. Daí a pecha de ser ruim de voto.

Enfrenta, atualmente, a ascensão do prefeito de Macapá, Antônio Furlan, possível candidato a governador em 2026, que tem sua gestão aprovada em 96%, segundo pesquisa Quaest.

Furlan é chamado nas ruas de “prefeitão”. Realiza shows o tempo todo, com estrelas do porte de Roberto Carlos e Alok. Davi Alcolumbre decidiu entrar nessa farra de shows por Macapá, já que sua força eleitoral está no interior do Estado.

Sua ascensão meteórica depende do Senado. É daí que são irrigadas suas bases no interior do Amapá. E é no Senado que seu perfil camaleônico de direita se expande e ganha viço.

Quando se elegeu presidente do Senado, era aliado do então ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM). Aliás, a esposa de Lorenzoni, Denise Verbeling, trabalha no gabinete do Alcolumbre.

Alcolumbre tem entre seus principais conselheiros o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP). Apoiaram a candidatura de Clécio Luís. Em 2018, Randolfe apoiou a candidatura de Alcolumbre ao governo do Amapá.

Em 2016, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Votou a favor da reforma trabalhista em 2017. Ajudou o Senado a derrubar a decisão do STF que afastou o então senador Aécio Neves. Também votou a favor do reajuste de 16% para ministros do STF.

Como presidente do Senado, Alcolumbre promoveu diversas manobras, passando por cima do regimento interno. Foi assim quando de sua reeleição, quando demitiu o secretário-geral da Mesa do Senado, o advogado Luiz Fernando Bandeira de Mello, indicado por Renan Calheiros.

Alcolumbre fechou o plenário do Senado para evitar que outro senador presidisse a sessão. O movimento seguinte foi impor um requerimento para que a votação fosse feita de forma aberta. A controvérsia só foi superada no dia seguinte, com a votação sendo anulada.

No fim, a votação foi secreta, com a primeira votação também sendo anulada. Aliás, seu principal adversário no Senado é Renan Calheiros.

A gestão de Alcolumbre à frente do Senado não é bem avaliada pelos brasileiros. O Poder360 divulgou pesquisa em 2020 em que revelava que 32% dos que conhecem Davi Alcolumbre rejeitavam seu trabalho; 45% achavam regular; apenas 14% avaliavam sua atuação como “boa” ou “ótima”.

O senador bolsonarista Eduardo Girão foi um dos principais articuladores dos senadores que indicaram, no passado, o nome de Alcolumbre para enfrentar Renan, então desgastado entre o eleitorado por ser associado à “velha política”.

Contudo, as movimentações recentes de Alcolumbre mudaram a opinião de Girão que qualificou a união como um "retrocesso" e questionou o histórico de Alcolumbre à frente do Senado envolve momentos de "subserviência ao Supremo Tribunal Federal STF".

Alcolumbre deverá ser reeleito presidente do Senado no dia no dia 1º de fevereiro, um sábado, às 10h, com o respaldo de Pacheco e de oito partidos. Seu mandato será de dois anos.

Conta com o apoio de União Brasil, PSD, MDB, PT, PL, PP, PDT e PSB, totalizando 69 senadores. Até agora, além de Alcolumbre, apenas o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) anunciou sua candidatura. Ele, no entanto, não tem apoio nem de seu partido.

Davi enfrenta investigações, como as viagens que fez utilizando jatinho de empresa Saúde Link, beneficiada por emendas. A empresa foi responsável pelo programa Mais Visão, suspenso após o MP ter apontado irregularidades e um surto de endoftalmite que afetou 104 pacientes.

A chefe de gabinete de Alcolumbre também se envolveu em investigações da PF. Ana Paula Lima prestou esclarecimentos sobre uma troca de mensagens entre empresários presos na Operação Overclean

O “Rei do lixo”, Marcos Moura, teria orientado contato com assessora de Alcolumbre, diz relatório da PF sobre esquema de corrupção.

O trabalho de Alcolumbre para fortalecer sua base política no Senado é intensa. “Davi janta três vezes por dia. Não sei até quando vai aguentar esta batida.”, disse Eduardo Braga (AM), líder do MDB e apontado como um dos conselheiros mais influentes do Senado.

As costuras que realiza para distribuição de poderes no Senado impressionam. Pelos acordos firmados, já há uma definição em relação aos principais cargos. Algumas siglas, como o PL e parte do PT, porém, ainda buscam construir um cenário mais vantajoso para suas bancadas.

A CCJ, deverá ficar com o PSD, surgindo o nome de Otto Alencar (BA) como nome indicado. Uma outra ala do Senado, no entanto, avalia que a comissão pode ser comandada pelo atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A primeira vice, principal lugar da Mesa Diretora depois da presidência, está encaminhada para Eduardo Gomes (PL-TO). Mas senadores da ala mais bolsonarista do partido rejeitam esse posto e querem, em vez disso, indicar alguém para comandar justamente a CCJ.

Já o PT ainda não definiu as comissões que comandará, mas deverá ficar com a de Relações Exteriores, Meio Ambiente ou a de Desenvolvimento Regional. Na Mesa Diretora, os petistas ficarão com a segunda vice-presidência.