Rogério Caboclo é afastado da presidência da CBF

O fato aconteceu após denúncia de assédio sexual

Foto: Veja
Presidente da CBF, Rogério Caboclo

GE - Rogério Caboclo, momentaneamente, não é mais presidente da CBF. O dirigente foi afastado por 30 dias, neste domingo, por uma decisão do Conselho de Ética, após o ge revelar que uma funcionária da entidade o acusou de assédio sexual e moral. Ele nega. A entidade já foi notificada da decisão.

O vice mais velho, Antônio Carlos Nunes, assume durante o período de afastamento. Uma reunião entre os diretores e vice-presidentes foi convocada para a manhã de segunda-feira, no Rio de Janeiro.

Pressionado por patrocinadores e outros dirigentes da confederação, Caboclo agora cuidará de sua defesa e sairá de cena no momento de atrito entre comissão técnica e jogadores da seleção brasileira antes da Copa América. Tite e o grupo de atletas prometem se manifestar na terça-feira sobre a realização do torneio no país.

Neste domingo, o apresentador André Rizek, do SporTV, revelou que Rogério Caboclo prometeu ao governo federal trocar Tite por Renato Gaúcho após o jogo contra o Paraguai, terça, pelas Eliminatórias.

Ascensão ao poder aos 46 anos

Vigésimo presidente da CBF, Rogério Langanke Caboclo foi eleito em 2018, mas só assumiu em abril de 2019, aos 46 anos. Filho de Carlos Caboclo, ex-dirigente do São Paulo, ele foi diretor do clube do Morumbi e iniciou sua trajetória na política apadrinhado por Marco Polo Del Nero, na Federação Paulista de Futebol. Advogado e administrador, ele foi diretor executivo na entidade paulista.

O poder começou a ruir de suas mãos quando chegou ao canal da Comissão de Ética da CBF na tarde de sexta-feira e na Diretoria de Governança e Conformidade a denúncia da funcionária. A reportagem do ge mostrava os abusos que teriam ocorrido contra a cerimonialista, autora da denúncia, que detalhou episódios vividos por ela desde abril do ano passado.

A crise da Copa América

Já faz quase dois meses que a CBF estava em ebulição. Neste período, segundo diversas fontes – presidentes de clubes e de federações estaduais, dirigentes da própria CBF e agentes externos com acesso à cúpula da entidade – o comportamento de Rogério Caboclo ficou ainda mais errático e agressivo.

Nas últimas semanas, enquanto Caboclo lidava com seus próprios problemas, outra crise explodia no futebol sul-americano. A Copa América, prevista para ser disputada na Colômbia e na Argentina, ficou sem sede. A Colômbia não pôde garantir a segurança do torneio por problemas políticos e sociais, e a Argentina desistiu ante o agravamento da pandemia da Covid-19.

No dia 7 de junho, segunda-feira, durante reunião de emergência do Conselho da Conmebol convocada para resolver o que fazer com a Copa América, as duas crises se encontraram. Com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, Rogério Caboclo ofereceu o Brasil para abrigar o torneio. Todas associações nacionais de futebol do continente toparam. A Conmebol então anunciou em suas redes sociais: a Copa América será no Brasil. Decisão que refletiu na Granja Comary.

Os atritos com o grupo e com Tite

Ainda na Granja Comary, o presidente da CBF, Rogério Caboclo, fez duas visita à delegação da Seleção. Algo de praxe no seus dois anos à frente da entidade. Desta vez, porém, o clima estava mais próximo daquela da região serrana: frieza no trato e muitas aparências para as câmeras da CBF. No segundo encontro, este solicitado pelos jogadores, não houve registro da comunicação da entidade máxima do futebol nacional.

No domingo passado, Caboclo abraçou Tite, posou risonho para fotos com atletas e seguiu protocolo de amenidades. De noite, a bomba da saída da Copa América da Argentina precedeu o anúncio da segunda pela manhã de que o Brasil receberia a competição mais uma vez.

A surpresa foi geral e criou mal-estar. O apoio - e o respaldo do presidente da República, Jair Bolsonaro -, as cobranças em redes sociais para os jogadores se posicionarem frente às críticas do seu país receber competição rejeitada pela Argentina, no meio de crise de Covid-19, levantou debate na Seleção sobre manifestação dos atletas. Em outras palavras, não queriam se sentir massa de manobra de ninguém.

Frágil, Caboclo causou constrangimento no vestiário da seleção brasileira, quando fez discurso inflamado. O ambiente que já não era leve se tornava insustentável. Sugeriu que ninguém falasse publicamente, o que não aconteceu. Em forma de enigma, Casemiro disse que "todos sabiam da posição" dos jogadores e da comissão técnica, mas só falariam depois da partida do Paraguai.